Ventilaste o assunto da forma certa. É tudo misturado mesmo. E as ‘queixas’ são disfarçadas, as minhas nas tuas. As mesmas. Caímos em armadilhas, e o susto sufoca no grito. Se concordamos, nos exasperamos ou nos aborrecemos… É esponja, é molhado, é áspero… Complicado ser pessoa.
Mês: março 2013
Terrível, difícil, arriscado
“O diabo é que ele acertou e isso pode lhe dar caloria para criticar quem não acerta. “Dane-se que, segunda-feira, quando o crítico voltar à cena, ou o poeta, ou o amigo, Febre de Viver e Juventude, embora defeitos, embora imperfeições, estarão na cabeceira, a mostrar que vieram de um homem que, desfeito de vestes e acessórios, topou a aventura – difícil, terrível, arriscada – de contar histórias. Paris, 4 e 7 de novembro de 1998.”
Gutfreind lê Hecker
PICADAS e TRITURADAS
Voltei com a cesta cheia de amoras azuis…
Não acontece, não por inteiro, não concluído. Apenas esperança… A vida tem a esquisita forma de ludibriar o indivíduo. No momento de assumir inteiro, vamos escapando pelas beiradas, onipotentes. Distraídos com sentimentos. Terminamos por misturar mal os ingredientes. A receita possível não acontece: nem jornalismo, nem livro, nem Limoges, nem Paris… Nem Rio de Janeiro. Ser plural, tudo abraçar é nada reter… Uma prova, um cheiro, um sentimento pequeno, uma resenha, não a história. E fica a massa fermentando, agigantando-se, mas o bolo de chocolate, com nozes e ovos moles fica com o vizinho. Passivamente colecionamos miettes, confetes…
Papel picado sem carnaval.
CORPO E ALMA
Revista Globo. Meteóricas publicações. Flávio Carneiro ilustração… miettes e confetes… Iberê Camargo acreditou.
Eu me distrai por caminhos pedregosos e lindos!
Voltei com a cesta cheia de amor azuis…
“Beth Menna Barreto Mattos está levando à França seu trabalho-tese a respeito de Iberê Camargo. A trajetória da pesquisa se desenvolveu a partir da correspondência da autora com o pintor – são cem cartas ao todo, reportagens, autobiografia e textos sobre diversas fases da pintura que complementam o trabalho o material estudado. Será entregue aos professores Jean-Marie Grassin e Madame Seris, da Universidade de Limoges, orientadores de Beth, que breve estará concluindo seu doutorado.”
ZERO HORA – Gasparotto – SEGUNDA-FEIRA, 5 DE JULHO DE 1999.
ZERO HORA: 2 de setembro de 2007. Flavio Carneiro homenageado pela ULBRA. “ A história profissional de Flávio Carneiro começou em 1959, quando ingressou na Revista do Globo.“
Assuntos inacabados
Todos têm assuntos inacabados: sentimentos inacabados. Pode ser um amigo de quem perdemos o contato ou um mentor a quem nunca agradecemos. Um telefonema que deixamos de dar ou promessa que não cumprimos… Muitas vezes a vida dá voltas e joga para a parte mais baixa de nossa pilha de coisas a fazer… E o tempo passa. Seguimos afoitos querendo preencher as horas com o maior número de conquistas, insaciáveis. E o sol já se foi, as estrelas se apagaram no sono pesado. E no final… No final abrimos aquela caixa onde guardamos todas as lembranças que pareciam importantes, e nem são mais. Nomes esquecidos, letras indecifráveis, um selo, uma foto sem data, um bilhete de amor. Terminou. Esquecemos estas pessoas que poderiam nos enriquecer, ou até mesmo nos tornar completos. É que os dias terminam antes, antes de tanta coisa acontecer! Depressa se estamos com pressa, lento quando temos tempo, e depois fica sem memória este danado! E vazio. E nos perguntamos por que não foi diferente? Seria? Elizabeth M.B. Mattos – março 2013 – Torres
Deixar passar
Optar pela origem. Pura nostalgia. Casar-se com o destino, como realmente fez. Aceitar, como aceitou: fatalidade. Origem e destino devem ser inseparáveis. Memória e desejo. Passagem no presente… O futuro é hoje? Pode amar e ter um pedaço de paz… Não como penitente, flagelado, eremita, ou famélico. Participar. Obter sem sacrificar alegria, nem prazer. Sem pedir perdão. Apenas deixar passar. Afinal, sempre será o que é… Fugidio triunfo.
Amante
Ceder, acomodar, conciliar desgasta. Há que aprender! Amizade convergente: fazer junto, conversar? Olhar na mesma direção… Uma única vereda. Trocar ideias. Contornar? Somar sem espicaçar. Apreender. Afetos empacotados com fita de veludo amarela. Ou verde. Talvez vermelha. Envolve o presente e termina no laço… Grandes pontas pendentes! Laços afetivos. Não são as paixões que nos guiam, mas certa amorosidade das pessoas. Precisamos mais de amigos do que de amantes. Ou queremos todos e tudo como amantes? Elizabeth M. B. Mattos – março – 2013 – Torres
Amante: adjetivo e substantivo de dois gêneros
1. que ou aquele que ama; namorado, apaixonado
Ex.: <amado a.> <a. latino>
2 . que ou aquele que tem gosto ou inclinação por alguma coisa; amador, apreciador
Ex.: a. das artes
Dicionário Eletrônico Houaiss
Despertar Iberê Camargo
Vida clandestina, paralela a vida pública. Ouve-se o grito… Este permanece ecoando. E, a miséria se estratifica. Absurdamente, acredita -se no estado de graça, não na morbidez. Abandono, um rótulo. Se o acaso é justiceiro, esperança. Se matar foi defesa, ou insanidade, não importa. Está feito. Deus se fez homem, perdoa. E nos reconhecemos divinos.
Exílio voluntário, presença. Esconderijo quixotesco. Podemos ser insuportáveis, agressivos, ou violentos. A pequena felicidade constrange, às vezes, mas não é evidente. Conflito e deslocamento: insatisfação. Iberê clandestino. Os pincéis não param. Escreve com ferocidade, protesta.
“(…) Agora a loucura domina o mundo, comanda com a autoridade da razão, fala como se fosse à verdade. Pobre dos inocentes, pobre dos peixes, pobre dos animais. (…), o homem é o único animal que não deveria estar na arca. As criaturas vão ao extermínio jogando bombas atômicas e gases venenosos, como se fossem confetes. Ah! A imagem da loucura entrará em todas as casas pelo mundo afora, para a alegria sádica que dá ver morrer. Depois se põe coroas no túmulo do herói desconhecido, e o Papa reza pelos mortos.” [1]
Conhecer Iberê Camargo é aceitar, mesmo apreensivo, o momento de ser tocado pela fúria do amor. Sentir a revolta. Lições de coragem, de audácia. Nunca a paz, mas a realidade. O mundo salvo pelo insubordinado. Sua presença, justificativa secreta. Os insubordinados são o “sal” da Terra. E se Deus existe, Deus protege a justiça. O talento germina… Iberê Camargo explode dentro da pessoa, como a bomba atômica em Hiroshima. Ele se consome na tendinite, artrite, mal de coluna, dores de cabeça, depressão, estômago em fogo, enfim, nomes que explicam a doença. A explosão atinge amigos. E transforma… Acredita -se em salvação. Protestamos.
“Estranho e limitado é o ser humano, incapaz de entender o seu próprio ego. Não raro sinto-me como meus ciclistas, que vagam por um mundo deserto, morto. No fundo (…) eu sou eles. Mas eu tenho que dizer. Tenho que pintar a verdade porque só ela importa! E a beleza? Talvez verdade e beleza seja uma só coisa.” [2]
“Teu silêncio me faz pensar no Vento da Desesperança que nos fala Mário Quintana. Este vento que ninguém sabe aonde mora e de onde vem, vento que vive como cão, que sopra sobre os charcos, que enraivece o fogo e propaga incêndio. Que sopra sobre tudo que é podre, morte e ruim; este vento separa os amantes, separa os irmãos, separa os amigos e fará com que não mais se vejam não mais se falem e, tudo isto, sem explicação ou razão. Ele transforma o amor em ódio. Ele apaga a vida. Será, Elizabeth, que este vento mau soprou sobre nós? Desconfio que ele nasce e morre no coração do homem.” [3]
Refazer
Meu querido:
Se penso já faço a história inteira. Posso? História vaga/embaralhada/incompleta, … a nossa. O exercício de escrever, a leitura a ser refeita. Como vou explicar. Frente a frente? Se em verdade somos dois, como eu afirmo, suponho que me perdi. Ou te perdi, ou nos perdemos. Não o vi, não vejo …, ( o que acontece aos apaixonados). Repito para explicar: ele se mostrou como ele é. Como eu sou …, não sei. Não basta saber o que faço. É preciso que saibas como sou. Já é tão tarde! E ainda te penso no ateliê iluminado por toda aquela luz artificial! E.M.B.Mattos









