O corpo tem uma ‘fala’ única e ele nos representa no silêncio. Quando o movimento interno e dinâmico dos sentimentos e da inteligência nos remexem/violentam ou acalmam, o corpo nos protege O corpo transborda e encolhe. Resolve o que não podemos dizer. Não é o corpo sozinho que ama (ele arranca, dos que gostariam de viver apenas dele, gestos de ternura que vão além), ele é nós e não é nós, ele faz tudo e não faz nada. Nem fim nem meio, está sempre envolvido em empreendimentos que o ultrapassam, sempre cioso de sua autonomia, bastante poderoso para se opor a todo fim que seja apenas deliberado, ele não tem nenhum fim a nos propor e nos voltamos para ele e o consultamos. às vezes, e é então que temos a impressão de sermos nós mesmos, ele se presta verdadeiramente ao que queremos, deixa – se animar, aceita uma vida que não é somente a sua, então, ele é feliz e espontâneo, e também o somos. Neste jogo de compreensão / aceitação / neste risco tatuado de significação, pode – se compreender o todo. Ninguém comando, ninguém obedece, ao falarmos ou ao escrevermos, não nos referimos a a algo a dizer que esteja diante de nós, diferente/distinto de toda a fala, o que temos a dizer não é senão o excesso do que vivemos sobre o que já foi dito.
O que vivemos e o que dizemos, transborda no excesso. 2020 nos amordaçou, amarrou, adulterou. Cansados de respirar, mas não desistimos. 2021 chega sem festa/ silencioso e manso, consciente… Eu espero que seja para libertar. devolva alegria, certeza e confiança, não o tempo…,não o tempo, eu sei, mas posso acelerar: acordar mais cedo, falar mais, caminhar mais, acreditar mais e beijar, abraçar, beijar outra vez. Segurei todos os gestos, segurei o corpo, e nesta tensão acabei quebrando sentimentos perfeitos! Ah! Que 2021 devolva o canto e as minhas certezas pequenas. Devolva a paz remexida, leve o medo e a angústia aflita. Quero me sentar sem hora e conversar…Elizabeth M.B. Mattos – 2020 – dezembro – Torres
“Várias vezes contestamos que a linguagem estivesse ligada ao que ela significa apenas pelo hábito e pela convenção: essa ligação é muito mais próxima e muito mais distante. Num certo sentido, ela vira as costas à significação, não se preocupa com ela.”[…]
Num certo sentido, a linguagem jamais se ocupa senão de si mesma, tanto no monólogo interior como no diálogo não há ‘pensamento’: trata-se de palavras suscitadas por palavras, e, na medida mesmo em que ‘pensamos’ mais plenamente, as palavras preenchem tão exatamente nosso espírito que nele não deixam um canto vazio para pensamentos puros e para significações que não sejam de linguagem.” (p.147) Marurice Merlau-Ponty A Prosa do Mundo










