A infelicidade é um estado de reforço. Um estímulo. Um pedaço de verdade dentro do efêmero prazeroso da alegria pura. Importa trabalhar. Estabelecer-se num fazer seletivo. Aquilo que se acredita: o desenho, a costura, o molde, o bordado, o alinhavo, o término de um vestido, de um livro, de um quadro, de uma sinfonia. O fazer concluído nos renova.
“Li em Bernanos que a infelicidade é uma espécie de bênção. Sobre esse catolicismo melado, respondi em meu livro que toda a felicidade é basicamente uma banal invenção católica. A felicidade, escrevi, é kitsch. Não há nada em comum entre ela e a daimonia dos gregos. E no judaísmo não existe nenhum conceito de felicidade, nem sequer uma palavra correspondente na Bíblia. Excluindo, talvez, a satisfação pela aprovação, uma retribuição positiva do Céu ou do próximo ‘Bem-Aventurados os íntegros’, por exemplo. O judaísmo reconhece apenas a alegria. Como no versículo ‘Rejubiíle-se jovem’, com tua juventude. Alegria efêmera, como o fogo de Heráclito, o enigmático, cuja vitória é a sua destruição, uma alegria que contém dentro de de si o seu oposto, que na verdade a condiciona.”
(p.95) Amós Oz – A Caixa Preta
Reforço. Estímulo. Efêmero. Prazer. Alegria. O desenho, a costura, o molde, o bordado, o alinhavo, o término de um vestido, de um livro, de um quadro, de uma sinfonia. O fazer concluído nos renova.