notas

Notas, anotações:  lembrar/ explicar/pensar nas limitações. Rir, ou aprender a rir de todas elas/aceitar. Rir/sorrir/disfarçar um pouco mais esta tal depressão certa de que envelhecer, além de cabelos brancos, riscos na pele (mapas), limite de energia, dores estranhas pelo corpo, e (risos) este sentimento de pressa tão enferrujado, existe a tal da sabedoria, da vida vivida, tesouros. Pois é, não tem explicação, o amado não chegar e abraçar festivo,  copo de vinho na mão, e os espelhos todos  quebrados, na magia do eterno. Há o perfume do rosbife, das frutas descascadas, dos legumes. O limite. A borda da vida a se alterar como as margens do rio… Elizabeth M.B.Mattos – abril de 2020 – Torres, antes que maio seja hoje. Não posso desanimar. Há uma história pra invetar / escrever / remexer e tanta coisa a desenhar / pintar, ou colorir!

 

o mesmo

Do sentimento, o mesmo círculo vicioso. Visualizo, esqueço, adormeço numa memória de saudade. E repasso a escolha, o acaso destes anos sem parceria, camuflados em ser eu, quem eu sou? Não sei. Um desenho mal acabado, rabiscado. E não vejo interesse nesta história mastigada. Há que ter futuro, aventura, ousadia. Parceiro. Não consigo mexer as pernas, e as leituras se espreguiçam… Não sei o porquê. Deve ser esta coisa danada de envelhecer que assusta tanto. Então vou caminhar, subir e descer ladeiras. Escovo a Ônix, e vejo que ela também já tem os pelos brancos, acinzenta. Eles, os cães, envelhecem. A natureza. Eu envelheço sob protesto. Esta pandemia nos encolhe. Não tenho o direito de ser feliz, de estar/ser igual, de respirar quando tanta violência doente cerca. Vou fazer um bolo/ outras panquecas/  descascar ilusões, e  teclar / teclar/ teclar revirar as colheres. A culinária tem feitiço. Satisfaz e perfuma. O caldeirão borbulhante traz o prazer do feito, do conquistado sabor. Eu te ofereço uma porção mágica. E na brincadeira deste viver eu me transformo em princesa e tu em amor. Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2020 – Torres já na manhã indo…flores brancas com recorte.jpg

 

teclar e dizer

Paralisada, congelada, esvaziada e medrosa. Medo esquisito: da palavra, do olhar.

Nenhum verbo se ajusta a uma estória; palavras grudadas no pânico. A perfeição do nada. O perigo, uma vontade flácida, desencantada.

Colhi goiabas na caminhada passeio de ontem: as frutas ainda não estão maduras. E destas quatro ou cinco goiabinhas fiz um doce… Brinco de acertar. São brancas. Lembrei que na casa de Santa Cruz do Sul, na Travessa Canoas, tínhamos uma goiabeira crescida e linda, vermelhas. Conseguia ter/fazer geleia e doce. O perfume caminhava pela casa enquanto o tacho estava no fogão a lenha. As frutíferas são árvores fantásticas. Beth Mattos – abril de 2020 – Torres

voltar

esquecer, sair da realidade real

a chuva chegou forte, boa

e o frio, e o vento, e o cheiro: diferente…

preciso voltar para dentro de mim,

correr atrás de quem sou,

com pressa e decisão.

Escutar escutar escutar, atordoa (epidemia, reviravoltas, e o mesmo).

Quero ser eu outra vez, apenas ser eu. Estou tão cansada!

Beth Mattos – abril de 2020 – Torres

intrigada e triste

intrigado

Sentou na poltrona em frente a janela…, ficou a me olhar intrigado: não era quem esperava que fosse, afinal, era apenas eu. Estendi o livro de Pamuk, O Livro Negro. Abriu aleatoriamente, eu lhe disse: “O amor é uma procura”. Página 109. Nem te amo nem deixo de te amar. Estamos a pensar e a procurar, e no meio deste caminho, igual, preciso do teu beijo abraço, abraço com beijo, e tu precisas do meu beijo abraço. E sussurrando continuei: tu vais me perdoar, eu apenas me apaixonei, e é tão tarde! ElizaBeth Liza Eliza Liz  Elizabeth M.B.Mattos – outubro de 2018 – Torres

jasminssssssssssssssssssssssssssss

Confidência de 2012 a 2020

Estranheza, inquietude. Movimento. Angústia agitada da saudade! A melodia trabalha nas entranhas. Longas cartas! E eu te sento tão meu! Depois perco o jeito, o coração  aperta. Sigo. Ao seguir o jeito de olhar reflete desgaste, empobrecimento, desencanto. Em nenhum lugar estás.

Revisitação! Onde está o meu amado?

Emprestamos a vida este tom confidencial dos amores! Fica-se a contar o desejo, um querer isto e aquilo em lista interminável! Amar-te, Como exigias por escrito num português correto. Projetos possíveis, tão impossíveis! O reconhecimento desaparece: não sei quem és. Desconhecido neste mundo banal que habito: resta uma nesga de luz daquele olhar manhoso. Estrangeiros.

A queixa, o cheiro indesejável, o movimento de ir e vir das pessoas que afinal nos rodeiam parecem tão inútil! Eu te pressinto enquanto vemos um filme de horrores, naquele cinema acanhado, numa cidade deserta. Ansioso! Dar lugar aos que devem por direito ocupar o banco em que estás sentada… Este é o exercício final. O corpo dói. Costas, pernas, pé, mão, até os dedos doem. Já não podemos mais fazer de conta que teremos tempo, ou fechar os olhos e deixar de lamentar. Qualquer movimento seja pedalar, andar, dançar, nadar, experimentar parece tão sem sentido! Porque as pessoas que importam não estão mais aqui, não existem. Este sentimento é a insônia permanente que assoma. Sem fome, sem sede, mas despertos noite e dia. Despertos. Atentos. Nada que não se resolva com um comprimido, mas nada que possa desaparecer, porque amanhã de manhã, ou de tarde, ou perto da outra noite estarei com estes mesmos sentimentos ativados.  Na angústia de ter afinal me esquecido de te amar! Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2020 – Torres, não quero brincar de esconde-esconde, quero comer pizza, cachorro quente beber coca-cola, encontres as flores acidentais, num jardim planejado , num lugar descuidado.

 

bang-bang

Dia sem data, sem enfeite, sem bastão. História abarrotada de estórias…Fantasia colorida, enorme e poderosa. Estou a me estranhar na lembrança embaçada. Irritação sem borda, um mar muito maior, muito maior. Sem margem. Estorias amontoadas: os quadrinhos, as nossas revistinhas, e a água quente, aquecimento, refrigeração e excesso de informação! Poder americano familiar…, vamos lembrar. A pensar em tardes de matinée com filmes de faroeste. Se eu pudesse definir o volume do meu grito! ElizaBeth Mattos, ainda abril de 2020 – Torres

 

atrasado, este azul

Acorda manso, o domingo.

Atrasado para o azul,

assustado pela inquietude atordoada de tanto sono.

Sono pesado, agotado e turbulento deste sábado,

sexta-feira surpreendida e definitiva,

com cores do Brasil.

Não pode ficar assim,

não pode ser café com leite,

nem varrer e varrer, nem lavar com tanto sabão.

Suco das amarelas laranjas,

manga a escorrer de prazer, colorido com vermelho e riscas…

Limão. Gosto definido do limão! Muito verde.

Quero cerejas.

A receita das panquecas não é nova, nem as luzes destas lamparinas.

O domingo escorrega, esfola joelhos, sacode braços agitado.

Elizabeth M.B. Mattos – abril – Torres

anais 2

 

DES MORO NOU…

Água pedras ventania e loucura, desvario. Terminou. Terminou antes de começar. Loucura total. Loucura! O que vai sobrar?  Um dia que o Brasil se quebrou como uma janela estilhaçada… Somos nós as testemunhas do grito de guerra! Elizabeth M.B. Mattos – 24 de agosto de 2020 – sexta-feira – Torres – Porto Alegre – Brasília – Rio de Janeiro – São Paulo (…,todos os torpedos atingiram o alvo, estupefata! estarrecida!)

desmoronar – VERBO
  1. transitivo direto e intransitivo e pronominal
    pôr ou vir abaixo, fazer ruir ou ruir; desmantelar(-se).
    “d. uma fortificação”
Semelhantes :

abater

aluir

arruinar

cair

ceder

derrocar

derruir

desabar