Depois de disputas e desencontros com a beleza retomo a vontade avassaladora de ser bela, linda, enquadrada no prazer de um olhar, na suavidade ligeira e tocante do desejo. Como resgatá-la? Como desfazer o equívoco? Ou como foi não recebê-la como dádiva? A beleza tem um tempo efêmero de consciência. Depois termina. Depois se desmancha na mesmice de caminhos sempre abertos, facilidades comuns, desperdício de qualidades, de dons. Tantos foram os não aproveitados. Misteriosos sim, mas o resultado? Zero. Timidez? Equação comum da beleza, facilidades. Desvio. Súbito uma foto, um olhar, o escárnio, a ausência. O peso desta dor-difícil. Desaparece o brilho. Retoma coragem. O feio se arrasta como grilhão, prisão… E agora como compartilhar esta feiúra ofegante, construída? A negativa. Tantos não conhecem a facilidade desta beleza doada com tanta bonomia… A fome, o desejo, a futilidade, um desprezo do fácil chega como apelo. E a nominada beleza se transforma em falta. Surge como falta essencial ao abre-te sésamo da conquista. E o feio se estratifica numa foto, num meio sorriso tímido, na careta transtornada da emoção. E o nublado da tristeza se afigura passado, fim, término. O enterro atropelado, às pressas, de sentimentos outrora fáceis, fluídos… A velada e contida tristeza está no peso daquele gesto que parece folha outonal, amarelada, dourada, perfeita, mas sem conotação do avizinhado inverno… O feio, o disforme, o deslocado, o tropeço ensaiado de não poder ser, fazer, ou estar se estratifica congelado no que será um sempre. O feio é o limite, o último passo pesado do ponto. Por que não podemos suportar o desfazer da beleza, a troca, o despojamento frágil de aceitar a feiúra sem graduá-la nem julgá-la? A beleza se apresenta triunfante. O pequeno ser feio, ou o grande despojado irregular, disforme se fecha na inteireza do momento solitário. Um estranho paralelo. Este é bonito, este é feio. Este começa aquele segue. Este triunfa, aquele outro se afunda. E a beleza se apaga… lá dentro a luz, o brilho, as certezas obscurecem nesta caverna invernosa. Toda a fragilidade se apresenta como certeza certa, terminou. A beleza na sua essencial vitalidade constrange, se reconhece superficial, mas assim mesma essencial. A beleza seria o suporte de um tempo de permanência e facilidade… Um conto de fadas que eterniza o E foram felizes para sempre. Não existe um para sempre no vagar deste olhar pro belo, deste alimento fortificador que a beleza produz. Como se pode um dia afirmar que o belo não seria agregador?
Carreguei a beleza como um peso morto, um obstáculo. Em que curva esquisita do caminho significou dificuldade, obstáculo? Ou foi apenas um capricho do meu julgamento? Desfigurar o belo é pecado contra a vida. Um pedido de perdão! Ser belo, segurar a beleza, encerrar o prazer desta fluidez é sinônimo de eterno, de pra sempre. Assim mesmo percebo o perigo de forjá-la porque é voluntariosa. Tem o seu próprio caminho, e não se desfigura, ou desaparece… E também não está mais lá, não é mais a mesma curva, nem o mesmo ritmo, ficou esquisito, estranho, feio, outro caminho, sem perceber a essência desta beleza pousada. A beleza vem de dentro, como o reflexo no espelho. O outro lado. Simples assim? Aquela tela, este mar, aquele caminho, a pedra, o livro, a mesa, uma cadeira Pantoche da Lattoog, a palavra, o lápis, a rosa, o vermelho tanto como o amarelo estão ali, belos. O que estou a procurar? A sombra nesta foto não é da beleza, mas a tomada de um momento… Esquerdo.