“Penso com fascinação, talvez quase uma inveja, na repercussão do silêncio que a surdez impôs a ele”. Se referindo ao Xico Stockinger. Surdez um tormento para Beethoven. Stefan Zweig, te faço presente deste pequeno livro, que tanto me impressionou, 24 horas na vida de uma mulher. Entender, pensar, ouvir e ver de nada resolve quando me apaixono, ou não aceito a dita impossibilidade. No entanto o encantamento deste tumultuado impulsivo sentimento me arrebata, e tudo fica por conta da juventude interior. Não consigo alterar o destino. Acho que existe um tracejado de lantejoulas paralelo a escuridão do equívoco. É preciso se envolver, enfiar a vontade o corpo e o equilíbrio naquilo que estamos sentindo. A beleza me faz falta neste instante. Careço de afago de beijo do olhar e deste famoso olhar no olhar. Tudo ficção. “Quando escrevo penso melhor”. Eu também, ou não sei … Pensamento tem vontade própria desgovernada, escrever é mais lento porque atravessa o instante para se instalar na palavra certa. Falar/dizer/ explicar vai com o corpo e se transforma … Existe o abandono que me imponho como se não pertencesse nem fizesse parte disto ou daquilo. Um certo esfarelamento, um confete, ou os restos pedaços de alguma outra coisa que foi inteira/o “[…] um amor que adorei sentir por ser um amor sem sofrimento, um amor silencioso e à distância que se deleitava com o próprio sentimento do amor. ” Estou dentro desta sedução com o prazer intenso de amar o amor. Afinidade eletiva pode levar/trazer/desencadear sedução. O espaço público será nosso ferrolho, ninguém alcança ninguém. Posso correr esfogueada nesta brincadeira. A correspondência é sedutora/ pessoal e pública ao mesmo tempo, … explica Choderlos de Laclos, Relações Perigosas , Carta XV do Visconde de Valmont à Marquesa de Meurteuil , “É assaz honesto de vossa parte não me abandones à minha triste sorte. A vida que levo é realmente cansativa, tanto pelo excesso de repouso como pela insípida uniformidade. Lendo vossa carta e os pormenores de vosso dia encantador, fui vinte vezes tentado a pretextar um negócio, voar a vossos pés e pedir, em meu favor, uma infidelidade a vosso cavaleiro, que, afinal, não merece tanta felicidade. ”
A história da sedução das palavras supera olhar e voz. Estou seduzida sim. Como não estaria? Quero também contar do amor que tem nome e data e fim. Não, não tem finitude o amor que embalamos com doçura, termina a paixão, é verdade, mas o tal amor está lá altaneiro e impositivo. Tens razão, “conhecimento recíproco, informação e convivência”. O recíproco tira o ficcional e entra no real. Realidade existe sem ficção? Assim mesmo, meu amigo amado, – adoro esta expressão porque ela se derrama ou se mistura com amor e amizade, – sei que me agarro em amor novo/velho/ imaginado, e ou lúdico para voltar/renascer/ acontecer menina. Aberta/pronta livre para o novo/velho amor. Resvalo em confidências. E me encanto não exatamente com o que vejo, ou com o que acontece, mas com este emaranhado de sedução que subverte a rotina.
E não mencionei a carta do dia 28 de março de 2017, a mais sedutora de todas elas. Elizabeth M. B. Mattos
