varal

De ponta a ponta, atravessa a área o meu varal, e, se abro a janela as conversas saem pra calçada ou enfeitam a buganvílea assustada daquele lado: esqueço de molhar, de podar, de acarinhar… Mas tem noite comprida como esta de hoje, então, aproveito e vou lá pra conversar um pouco. Resolvo os problemas pendentes, os vidros mal cuidados, a poeira já sossegada, mas ativa… Resolvo o jardim dos vasos. As relações se esvaziam descuidadas… e os amigos se perdem, as folhas voam, e a vergonha desaparece. Quanto descuido! Não tem estrela no céu, noite fresca, silenciosa, domingueira. Toda uma semana pra acordar deste torpor de dormir errado, fazer errado. Que susto! Sair do susto demora, eu sei, passos pequenos e cuidados grandes! Vai passar… Elizabeth M.B. Mattos – março de 2023 – Torres

Fotos de Pedro Moog – março – São Paulo

amor incondicional

Ah…Teo, essa história de amor incondicional, é de uma ingenuidade quase maligna. Porque o amor é de natureza viva e, como tudo o que é vivo, tem suas exigências. Não tenho ilusões: é preciso, sim, fazer alguma coisa para sermos amados. Assim como é preciso fazer alguma coisa para sermos odiados. Assim como não fazer nada é, de certo modo, já estar fazendo alguma coisa. (p.204) Carla Madeira A Natureza da Mordida – Editora Record – Rio de Janeiro – 2022

insanidade

Não está presente, a insanidade, apenas nas bruxas más dos contos de fadas. Sempre existiu, mas temos medo de detectar e apontar, até de diagnosticar. O limite é quando alguém começa a deixar de sentir odor, perspectiva e repete, repete, repete e se repete. Hoje lendo a Zero Hora fiquei estarrecida com a coluna do Flávio Tavares. Que pena! Que lástima! Elizabeth Menna Barreto Mattos – março de 2023 – Torres

Sabe o que aprendi sobre o amor?

Que nem sempre ele ouve quando chamamos. É uma deficiência progressiva causada por vagas distâncias e grandes medos. Medos ensurdecedores que nos levam a situações em que deveríamos apenas nos deixar paralisar. Parar tudo. Deixar apenas o tempo em movimento. Nem respirar deveríamos. Muito menos partir. Foi por ignorância que me tornei histérica, gritei o quanto pude, mas o amor estava surdo, encolhido, atolado em impotências. Não pode me ouvir. Sei que ele estava lá, nunca se afastou. Nunca nos faltou. POderíamos ter confiado, teria bastado nosso amor para nos nos faltar virtude. Tivemos pressa. (p.59) Carla Madeira A natureza da mordida

contradição e desordem

Desordem, contradição e confusão. O mundo se sacode estranho…. Ótimo ontem, violento hoje, armado e perigoso. Vingativo. Estamos com medo da sombra. Fechar janelas, trancar portas, desligar… Retirar da tomada a energia. E o sono invertido assusta, estamos resvalando. Que estranho…

Não é aqui, nem adiante. Um susto! E não se pode ficar imóvel… Estou cansada de caminhar! Elizabeth M. B. Mattos – março de 2023 – Torres

amontoado

Amontoado de fotos e desculpas: um nada com poder . O momento resolve, na fragilidade, na força, resolve e altera. O sono sossega. Uma voz grita. Não, uma voz susurra e muda / conserta tudo, ou melhor, qualquer coisa… Pedrinha colecionadas, flores secas. Ressucitamos o gostocom as mãos dadas.

O verão terminou. Quero a voz quente e suarenta do excesso. O vento do outono esfria a temperatura. Elizabeth M.B. Mattos – março de 2023 – Torrres

ffugir ou affundar

Existe uma quietude a ser encontrada, uma escapada desta angustia ativa que persegue, abafa: não é o filme, nem o dia morno, nem um livro, muito menos a conversa acesa que me deixa tranquila. A quietude precisa atacar para resolver… Ou abraço de amor. O beijo certo, uma sonolência amiga. O silêncio sem partido: por um minuto, o quintal nos pertence, a grama verde e os jasmim derramaram perfume no parapeito da janela e podemos, tu e eu sermos nós. Não vamos desperdiçar vida espicaçando miudezas, o amor tem mesmo uns descaminhos idiotas! Tão apequenados! Vamos pular estas páginas e sermos nós dois pacíficos! Elizabeth M.B. Mattos – março de 2023 – Torres – se importa limpar, lavar, acarinhar os cães, molhar as plantas, lavar as pedras, compro flores para alegrar e abro um suco de abricó, descasco tuas frutas preferidas, troco os lençõis, e o piano dedilho sonato, valsa, e a música não vai parar. Não me perdunda nda, brala. Sou tua.

afinidade

afinidade eletiva? natural. E afinidades amorosas intensas! Estas me espurram e decidem… a vontade, arrastam o sentidp. Eu não resisto. afundo, mergulho, testo e me fico menina te amando, enroscada nas tuas queixas, exigências: teus beijos… gosto de descobrir as tuas afinidades e vou pegando, apalpando cada uma… Que prazer! Elizabeth M. B. Mattos – março de 2023 – Torres

O cenário define? O interior: a cadeira de cor vinho, e o tapete, tua preferência, teu acaso nas escadas e no teu quarto.