Pensar a vida, o motivo de ter, ou não fé. Encontrar explicação coerente. Respostas às perguntas. “Não sei do que se tratava”. Concluir a temporada sem encontrar o motivo do frio, do suor, do medo, da raiva…Do medo. Entender a dor, absorver as incertezas, e transformar a dúvida em sinal, alerta. E o outro, mesmo perto, parece distante…E, o que se poderia sentir, ou dizer deste vazio! A escolha pode ser sutil… o encantamento está neste ponto de acerto, na obsessão, na escolha. Um permanente exílio consciente. Se estou tricotando, cozendo, batendo o bolo, inalando perfume, e consciente, o Eu presente, então, estou dentro de mim mesma, não preciso provar que existo. A releitura, o retorno ao mesmo texto faz toda a diferença. Posso esfregar o chão, lavar, polir inúmeras vezes, sou eu mesma em movimento. O cheiro, a sensação do prazer é indefinível porque completa. Sutileza, o detalhe para explicar escapa, mas o desenho, a linha reforça o sentido todo: estou vivo, estou morrendo, estou contigo, escutando. Ou fui abandonado, estou sendo amado, ainda posso tocar, abanar, ver a sombra, plantar. Sentir a dor. Levanto os olhos, e me dou conta que posso respirar também, mesmo na saudade. Mesmo na indefinição da palavra…Na nostalgia. No calor. Uma caça, uma existência a procura de si mesmo. Existe um exílio permanente nesta busca de sermos porque não chegamos … Nem nos imaginamos ser. Estamos debruçados numa janela escancarada, mas do alto vemos apenas uma mancha, vemos desfocado. É fantástico o todo, mas perde-se o detalhe, o que importa… É preciso testar os meios para chegar ao ponto. Qual é mesmo o ponto que interessa? Desespero. Não estar no lugar. Consciência da solidão exige o próximo passo, o seguinte. Outro movimento. Esquisito, lamentável, ou verdade é que não são as outras pessoas, nem os beijos, nem as vozes que nos libertam… A única possibilidade de concreto, de acertar (seria palavra adequada?) é interna, então concreta. Estamos atordoados com o entorno, o externo, queremos esbarrar na felicidade, na alegria, como se fosse tangível. Não é tátil. Não está estacionada a nossa espera, cristalizada. É apenas percepção. É teu corpo. Tua história interior. Descoberta pessoal a chegada. Lá nas entranhas… Ninguém nos dá a vida, nem nos pode tomá-la. É uma explosão interior. No entanto perseguimos a história de pais, mães, filhos…Esquisito! Se buscamos referência encontramos o muro. Paredes sem janelas. Longe! O inatingível. Nós mesmos. Qualquer narrativa tem o ponto certo. Uma passagem perigosa, em frente. Não interromper o fluxo. O que acontece pode ser definitivo, mas também aleatório.
E vemos diferente este externo. O prazer de quem e busca é diferente daquele que apenas espera ser ‘encontrado’! Este não atravessa o interior, reflete. Amontoado de perguntas, amontoado de dúvidas, nenhuma resposta. E sequer estamos onde deveríamos estar.