faz falta o mar, a caminhada, o sono, as risadas, a pausa
faz-me falta alguém a me dizer ‘relaxa’,
um beijo é suficiente: não explica
tenho o vício da conversa comprida, inútil,
pontuada, exaustiva…
ao desespero a inquietude de limpar, de organizar,
limpar outra vez, lavar, cheirar, ordenar… varrer ou ler
ler e escrever cartas… do outro lado, na ponta da corda,
na ponta da corda a esperança
esfarrapada esperança, afinal, não mudei nada, sou a mesma
e ser a mesma pode ser a desordem de sempre.
“Quanto ao meu modo de vida atual, devo notar em primeiro lugar a insônia, de que sofro ultimamente. Se me perguntassem: o que constitui agora o traço principal, básico, da sua existência? – eu responderia: a insônia. Como outrora, seguindo o costume, eu me dispo exatamente à meia-noite e deito-me no leito. Adormeço depressa, mas acordo depois da uma, com a sensação de não ter dormido absoluta ele ingressou no funcionalismo.mente nada. Torna-se necessário erguer-me da cama e acender a lâmpada. Passo uma hora ou duas andando de um canto a outro do quarto e xamino quadros e fotografias há muito conhecidos. Quando enjoo de andar, sento-me à mesa. Permaneço ali imóvel, sem pensar em nada e não sentindo qualquer desejo; se tenho um livro na frente, aproximo-o maquinalmente de mim e leio-o sem qualquer interesse. Assim,, não faz muito tempo, li maquinalmente um romance inteiro. Ora procurando ocupar a minha atenção, obrigo-me a contar até mil, ora imagino o rosto de algum dos meus amigos e ponho-me a recordar: em que ano e em que circunstância. Gosto de prestar atenção aos sons.” (p.113) A. P. Tchekohv – Uma História Enfadonha – Das memórias de um homem idoso – do livro O Beijo e outras histórias
Perfeita insônia / danada desta intrometida insônia! Ainda mais quando se perde a noção de que 5 ou 6 ou apenas 7 horas seriam o suficiente -, o tédio, o desconcerto, a louca inércia, a dita preguiça, os joelhos cansados, talvez o calor, ou serão os vícios todos a pressionar que não querem dormir, apagar esquisitas vontades! Ah! Como se faz para interromper / parar de se remexer sem sentido. Ir em direção, estabelecer metas, sacudir os pincéis nos potes de tinta e fazer acontecer uma tela revirada, bonita, fazer acontecer a história de fazer. Pois tudo fica preso num filme (ah! que saudade de se enfiar numa sala de cinema e beber café com pipocas, achar bom ou ruim, e… voltar para casa preenchida!) de televisão, ou nas notícias espicaçadas – e, concluir a ideia atrapalhada (vai terminar a guerra que não podia ter começado) do sentido de guerra. Os estragos das chuvaradas já foram resolvidos. Problemas Brasil resolvidos, as pessoas se importam. Logo teremos novas eleições! Mas a insônia não vai terminar… Elizabeth M.B. Mattos -fevereiro de 2023 – Torres