ficando você

Reli e gostei. Amar o amor se reformula: agarra a saudade, agarra o belo. O choro, o feio e o barro. Molde novo. E a pessoa, aos poucos, renova. Olhar se firma, outra vez reforço. Brinco de pensar no que já foi, e logo eu me encanto: hoje estou viva! Ventilo o armário, abro as gavetas, deixo o perfume entrar e volto aos projetos novos (risos): apontar os lápis, revisar os cadernos, alinhar os papéis, cortejar as fotos. As caixas? Retirar as fitinhas, os recortes de menina, e as tampinhas de refrigerante…, as pedrinhas.  As cadeiras valsam, novos lados, almofadas novas… e acordas às 4 horas da manhã multiplica o dia. Beth Mattos – 15 de julho de 2021 – Torres na madrugada agradável num inverno que também faz feriado de gelado e a noite fica doce.

Acho que estou esquecendo de ser eu e ficando você.

Beleza envelhece escapa, sai andando:

Justo quando mais se precisa dela… Elizabeth M. B. Mattos – Torres 2017

VESTIDO

SORRRINDOOOOOO

citação

“Mil conversas, buscando umas às  outras como raízes de árvores buscando umidade – vidas com sentidos ocultos disfarçados por sorrisos brilhantes, mãos cobrindo os olhos, malicia, febres satisfações.”  L. Durrell – Balthazar

no teu bolso

Não mudamos! Assustador!  …,vidas repetidas? As mesmas noutra narrativa, noutra dimensão?

Estou apaixonada. Ontem também estava, de certo amanhã também estarei, apaixonada. Estarei encolhida no teu abraço, apaixonada. Eu te amo no amor que sentes por mim, ou que eu penso/imagino que sentes.

…, espera por mim. Vou te buscar.

Vou te buscar/procurar em todos os livros, pelas estantes, pelos cantos. Depois na praia por todas as praias. Estarei entre as pessoas, sempre a te procurar.

Eu te encontro aninhado no mesmo sonho. Estás sentado com aquele olhar perdido no mar…, sempre a pensar/querer! Deste, eu gosto, teu sonho azul, também daquele das nuvens: ora peixe, ora urso, ora pássaro. No teu bosque…, na floresta.  Na tua vida hoje. Depois caminhas num passeio demorado: volta completa na Lagoa do Violão, eu te vi. Espiei pela fresta. As frestas…! …, e, fui ao teu encontro. E depois do abraço da saudade, demorado, quase aflito nós nos demos as mãos, e seguimos caminhando. Estamos sempre juntos. Quando faço mágica vou parar no teu bolso. XYJMWCLK Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2021 – Torres

…, perdida/perdido pelas ruas, no teu bolso.

folhassssssssssssssssslindas vivas

…tanto desastre, tanta loucura e tanto amor!  Estou pensando em ti. Beth Mattos

bolso

Quando faço mágica vou parar no teu bolso.

fragmento da história

Às avessas, primeiro a alma, primeiro por dentro, primeiro o pensamento, a idéia de ser alguém e depois o vulto que se confunde na imaginação e custa a entrar um dentro do outro. A foto, duas, três, quatro fotos e ainda não é ele. Pois ele tem cheiro, tem boca, tem braços, tem corpo, tem olhos bem pretos, cabelo escuro, pele escura, corpo pequeno. Doce, tranquilo, de paz. Observa quando olha. Óculos grandes, os de sempre: todas as fotos, os mesmos. Quero vê-los pequenos, redondos, menores. Unhas retas, longas.  A boca se abre sorrindo, entregue. Observo. Gestos lentos, momento novo, nervoso: “…é quando não se espera mais nada para si mesmo, que se pode amar.”Amiel

Atravessamos a geografia. Estamos um diante do outro. As fotografias enviadas plasmavam uma imagem nas cartas que iam e vinham…Mais rápido do que cartas seladas o computador. O virtual. As fotografias imagem com cheiro, voz. Agora, um diante do outro. Não é alto, nem tem ombros grandes. As palavras espremidas para sair. Quero dizer logo tudo o que penso: o som nos atravessa sem pontuação. Afago à pele lisa, a mão. Estamos no Porto dos Casais. Atropelo tudo na música, não palavras, não lógica. O abraço é fundo, grande, demorado. Demorado o encontro do meu corpo no corpo dele. Sem palavras. Apertado abraço de encontro, de pele. O cheiro. Ficar quieto na curva do corpo do outro. As mãos também apertadas, quietas. O suor do calor parado. A história se escreve sem vontade de largar. Parar o tempo. Apenas, parar o tempo. O espaço escolhe outro espaço, pensa forma; cresce desejo, alimenta sonho este espaço que se abre no abraço trancado de nós dois. Somos muitos. Ele é a pele das palavras:

-Venceram, as cartas. As vozes telefônicas atropelam-se, estranham, choramingam e nem sempre se entendem ou comunicam… Hora errada, tempo curto, ânimo perdido, voz lenta, linhas cruzadas… Enfim!

– Somos dois malucos exercitando, alegremente, as melhores fantasias. Somos muito bons nisso. Em que mais seremos bons? Na possibilidade de nos sustentarmos nos olhos? Na coragem de cometer a loucura? A família, o trabalho, a vida cotidiana nada mais é que nossa loucura controlada. Estamos à beira do abismo. Imagino o salto para o abismo.

Elizabeth M.B. Mattos  – 1999 – Porto Alegre

“Era uma vez, na metade dos anos 60, um homem obstinado em permanecer normal. Por normal ele entendia casado. Marido de uma única vez e de uma vez por todas. Por normal entendia em primeiro lugar: uma vida contrária a de seus ancestrais, cujos amores tinham sido tumultuados, diversos e insuportavelmente doloridos.

Para levar a bom termo esse grande projeto de normalidade, havia cercado seu próprio casamento das mais vigilantes proteções.

Rompera os laços com o pai, por receio de contágio.

Não lia mais romances e via poucos filmes.

 Com a mesma preocupação de evitar riscos, passava sempre ao largo dos lugares que convidam à partida: livrarias dedicadas a assuntos marítimos, antiquários especializados em exotismos, agências de viagens, lojas de lingerie. Em sua casa nenhum mapa de geografia distraía as paredes.

Mas seu aliado principal, sua fábrica cotidiana de felicidade calma e sedentária, era o ofício que escolhera: […] “[3]

2016-04-17 08.41.35

MESA E RASCUNHOSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSs

 

[3] Orsenna, Erik in Longamente.Ed. Companhia das Letras

cada um e nós dois

por cada pessoa se desenvolve um espaço único, intimidade não se explica

o estranho,  o inexplicável é não definir nem delimitar qual espaço pertence a quem

se penso tanto …, o certo, é porque não amei o amor em estado de pertencimento

não dizemos, somos …

somos … não sei explicar, somos … acho que é isso

nada definitivo porque a estrada continua … o rio, o mar

e, seguimos como somos para reencontrar o sonho

de repente a raiva, vontade de dizer o contrário, contrariar, beliscar

por que gostar/ querer/ amar/ ou sei lá como se explicar?

porque a ausência é doida / doída.

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ElizaBETH M.B. Mattos – dezembro 2017 voando

FOTOS DAS FOTOS Jean Jacques

Preciso seguir o que dizes a me olhar severo possuído e tomado pelo prazer deste reencontro: “vê onde escondeste a tua vaidade, fulgor, brilho e intensidade de fazer o tempo andar para traz”.

Meu querido amado: Nada disso importa se não estás aqui. Se não posso te falar. Se não não posso explicar. Tudo faria por ti, por nós, mas por ti e para ter de volta o olhar. E para ser tocada. Despida lentamente  por estes 50 anos que nos esperam. Vês, ainda penso no tempo que temos para nós, não olho para trás. Apenas nos imagino amanhã, agora. Vou te abraçar e me deixar abraçar na languidez da manhã aberta, sem hora, devagar, vou te amar. Beth Mattos – junho de 2018 – Torres

desenho de maio na lagoa com a Magda

sempre juntos

Hoje te escrevo serena, antes tão aflita. Venta bastante, mas a chuva não veio. Terminei o livro que mandaste. Espero pelo carteiro, deve chegar o segundo volume, antes que o ano termine. Amanhã. Sim, está cinzento. E penso que logo estarás comigo. Enquanto conto os dias eu me distraio. Sabes o que quero te mostrar? Delícias da culinária. Por que não telefono? Por que nunca sei onde estás, e detesto esperar … Enquanto te escrevo, a sensação de presença é imediata, mesmo sem voz … minha natureza, sabes. Tu sabes de mim como sei bem de ti, das tuas mazelas. Apenas me pergunto por que separados? E logo (sorrindo) entendo o motivo: para nunca nos perdermos um do outro, estamos em trânsito… chegando … e  assim, sempre juntos. Estás comigo, estou contigo.

Quero teu mundo no egoísmo do segredo. Eu …, aqueles verbos todos: amar, querer, gostar, estar, apaixonar, pensar, ter … com o tal poder. Estou/sou apenas quando contigo. E não és (quando afirmo, desafio). Então, estou, absolutamente, isolada/sozinha, e sem poder. A transgredir, … e tu me seguras no ar … (minha pequena vingança amorosa), escondido. Brincas comigo, brinco contigo como Macunaíma … gosto de lembrar do nosso herói, dizem que era sem nenhum caráter. Sei lá … o que sei da rigidez, ou do certo e do errado? Não sei.  Será que te quero porque não te tenho? Foste cruel, ou justo; … as páginas estão juntas mesmo separadas. O poder não me manipula … Afirmas.

E confesso: estou sendo manipulada pelo que sinto. Tu consegues me virar do avesso … eu me desvio, esqueço onde quero ir, fico a te esperar …

Encontrei o significado da palavra lábil … Nossas loucas conversas matinais! Tua erudição. Estremeço, tu sabes. Eu percebo, tu sabes, todos sabem … então repito, nós.  E ninguém nos imagina. São mesmo perigosas as confidencias de amor. Temos felicidade com uma danada sensação de culpa. Dizes bem, somos transitórios e … estou apaixonada. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2017 – Torres

 

lábil. Significado de Lábil. Adjetivo. Diz-se dos compostos químicos pouco estáveis, notadamente ao calor, como certas proteínas, as vitaminas etc. Que escorrega ou desliza facilmente. Geologia Diz-se dos terrenos ou rochas instáveis. Sinônimos de LábilLábil é sinônimo de: fraco, transitório.

texto espanhollivro partidocapa

Silvina Bullrich Los Pasajeros del Jandin

“Tú eras la atracción que me daba estabilidad de cualquier otra atracción. […] qué podían  darme más valioso que nuestra secreta intimidad […]”

apenas certeza

O tempo que passa, droga! …, passou, e sigo atrás da porta. Temos tudo para sermos evidentes visíveis, e sermos nós mesmos, mas justo nesta visibilidade nos escondemos em completa timidez. A nudez, estar assim, completamente despida, assusta. Sinto saudade de mim mesma porque envelheço. Envelheço. Quando jovem eu me sentia especialmente corajosa! Capaz, e entendia tão bem o entardecer. Dormia para ser feliz no dia seguinte, mais feliz ainda. Quem eu sou que não sou mais? Perdi autonomia, coragem, altivez, e meu prazer mudou. Durmo para esquecer depressa do dia. As cartas preenchiam o afetivo. Abrir os envelopes, reter cada palavra, pegar papel caneta e responder de imediato … o tempo lento, tão lento! …. Eu tinha o mar, eu tinha janelas, eu tinha aquela energia da juventude … e, apenas certeza. Elizabeth M.B. Mattos – 29 de dezembro de 2017 – Torres

paradoxos

Estou a me dizer saudosa, apaixonada, inquieta, insatisfeita, … mas, em absoluto, sei quem eu sou. Não tenho traço nem desenho, nem esboço. O nome  se transforma. Vida de caverna na praia movimentada e remexida de um verão ventoso. Não sei dançar, não sei cantar, não uso vestidos bonitos, ando descalça. Pareço feliz e triste ao mesmo tempo. Apaixonada e desesperada. Galeano pergunta, com razão:

Para que a gente escreve, se não é para juntar nossos pedacinhos?”(p.119)

Tenho uma pergunta inquietante que me afoga: por que me amarias se não existo? Elizabeth M.B.Mattos – dezembro de 2017 – Torres

“Se a contradição for o pulmão da história, o paradoxo deverá ser, penso eu, o espelho que a história usa para debochar de nós. Nem o próprio filho de Deus salvou-se do paradoxo. Ele escolheu para nascer, um deserto subtropical onde jamais nevou, mas a neve se converteu num símbolo universal do Natal desde que a Europa decidiu europeizar Jesus. E para mais inri, o nascimento de Jesus é, hoje em dia, o negócio que mais dinheiro dá aos mercadores que Jesus tinha expulsado do templo. Napoleão Bonaparte, o mais francês dos franceses, não era francês. Não era russo Josef Stálin, o mais russo dos russos; e o mais alemão dos alemães, Adolf Hitler, tinha nascido na Áustria. Margherita Sarfatti, a mulher mais amada pelo anti-semita Mussolini, era judia. José Carlos Mariátegui, do mais marxistas  latino americanos, acreditava fervorosamente em Deus. O Che Guevara tinha sido declarado  completamente incapaz para a vida militar pelo exercito argentino. […]’Acho que você está meio nervosa’, diz o histérico. ‘Te odeio’, diz a apaixonada. ‘Não haverá desvalorização, diz, na véspera da desvalorização, o ministro da Economia. ‘Os militares respeitam a Constituição’, diz, na véspera do golpe de estado, o ministro da Defesa. […] “(p.126-127)  Eduardo Galeano – O Livro dos Abraços – 

 

LINDA esta foto de abrigo

amor se arrasta

…, leio devagar, tão devagar! Não leio, eu me arrasto pelo livro. Quando falo, falo muito. Digo depressa, atropelo as palavras. O que tenho para dizer salta. Quando/ ou se me calo, e não digo mais, é porque estou esgotada, exausta.  Estar com a pessoa, conversar tem essa característica da rapidez, certa pressa para concluir, terminar, encerrar. Se colocar logo do avesso.

Estou lendo o primeiro livro dO Quarteto de Alexandria de Lawrence Durrell, como se fosse um soluço, um parágrafo sem conexão com o outro, vou espicaçando o livro, rasgando uma página depois de outra. Vira uma franja: “Sempre nos apaixonamos pelo objeto do amor de quem amamos.” desta frase uma viagem (cobiçamos até o perfume daquela camisa) …, outra: “Na verdade, Justine não era humana – não podemos considerar humano alguém completamente dedicado ao próprio ego.” E já estou a pensar naquela história de que não somos o que somos, mas nos submetemos ao jogo do ego… (respiro) Ou quando ainda na mesma página escreve: “Nós que viajamos demais, que amamos demais: nós que – não direi sofremos, pois através do sofrimento sempre reconhecemos, nossa autossuficiência e compreendemos quão tênue é a relação entre amor e amizade.”

Enquanto leio repenso a vida ela mesma. Encontro, desencontro. Se amor foram, ou não foram, …afinal, seguir em frente, pode ser apenas, seguir. Dou-me conta que nesse vagar refaço o traçado de sentimento perdido/escondido. Tempo e vivência/sentimento. Experiência paralela. O livro conta uma história. O livro escreve e descreve um sentimento ardido. Ora de um lado, ora do outro, e o painel faz parte de tantos pequenos pedaços que me pertencem! Então posso ser eu mesma, ou tanto Justine como Melissa, … ou feito boneca de pano, costurada / montada por/com retalhos. Observo. No tempo de dizer e escrever reafirma o texto: “O amor é bem mais verdadeiro quando surge simpatia em vez do desejo, pois deste modo não deixa feridas.” O desejo atropela! E o dito amor armado  atento e esperado sangra, pinga …e, nem sempre termina. O amor de vida inteira, intacto. Se arrasta andrajoso na carência de um querer mais que não se esgota, nunca termina. Começa quando […] “tomados pela sensação que irrompe naqueles que encontram alguém para compartilhar seu fardo de preocupações inconfessas.” (p.192-193) Vou devagar mastigando. O filho sublinha, não queres escrever – és leitora voraz. Entristeço. Na verdade tudo e muito  e tanto já foi dito sobre o amor. O que de novo, diferente tenho eu para contar? As mesmas histórias, sempre as mesmas histórias. Inventar significados, pontuar diferente, mas vou dizer de amar, e não amar, confessar, esconder, fugir, correr, sangrar, chorar. E tudo foi mesmo dito. Apenas  peço perdão. Peço desculpas. Avanço e recuo. Assim mesmo escrevo. Elizabeth M. B. Mattos – dezembro de 2017 – Torres

muro e livros

pedaço do muro de Berlim, livros do curso de francês … e, uma saudade vibrando, atenta

não somos mais quem éramos

No fundo dos olhos azuis um lampejo de tristeza. Raiva. Mansa dolorida despedida. Altero a voz. ( …, cruel, num repente, curada e impaciente).  A entrega chamo amor.

Perdoa o abandono. Não deixo de me ferir. Em mim também dói. Desagradável silêncio. Você me fez/faz falta! De todas as maneiras, em todos os instantes. Restabeleço ordem na lembrança: rosas, petúnias, hortênsias e cravos, laranjas, pêssegos e morangos. Ajoelho e peço perdão. A igreja está quase vazia. Não somos mais quem éramos. Volto para casa. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2017 – Torres