“[…] – Hrrrrr…dit M. de Coëtquidan, qui trouvait confus tout ce qui est précis.” (p.23)
Autor de gostar de gostar de tanto tempo, tudo: Henry de Montherlant
(que achava confuso tudo o que é preciso /exato)
“[…] – Hrrrrr…dit M. de Coëtquidan, qui trouvait confus tout ce qui est précis.” (p.23)
Autor de gostar de gostar de tanto tempo, tudo: Henry de Montherlant
(que achava confuso tudo o que é preciso /exato)
Se eu te explico a fantasia / o sonho ou alguma coisa do outro lado… Acredito/penso/imagino o motivo para correr/ ou mudar/ ou inventar outra vida. Nós dois. (tão bom poder pensar / ter esta alegria de resolver…, acreditar que eu posso/ que eu consigo, tu me perturbas!). Mudar de casa pode ser, ainda, ainda uma vez, reinventar o caminho/viajar/procurar. Esta inquietude fantasiosa não se explica com palavra, melhor seria soltar balões coloridos ou todos brancos, ou todos vermelhos. Soltar balões pela janela. E se o vento conversa com balões a minha vontade se desgrudaria e iria junto pelo céu. Voltar a Porto Alegre, morar em Porto Alegre! Porto – chegada, Alegre – feliz! Estou ainda, outra vez, a divagar. Do porto saio / embarco, e posso voltar, ou não voltar. Quando este calor viajar, voltar pro lugar dele, sair por aí… Irei caminhar. E Torres deve me abraçar outra vez. Tens razão! Estou melhor em casa. Vais gostar do apartamento com este jardim iluminado, envidraçado, quase farol! Ou…Todas as histórias se prendem no ir e voltar. Eu sei que vais / estás a entender. E nós dois deitados, no sonho, contaríamos outras/ muitas histórias proibidas, e de meninos, de jovens vestidos de gala dançado, ou na areia, no jogo, no mar. E rir e lembrar enganaria a blindagem de ser como é/do jeito feito, acabado. Sim, tu tinhas uma casa em Torres. Como ia ser bom voltar! JMXCYZ ElizaBeth M.B.Mattos – abril de 2021
O silêncio se prolonga assustado, mas como força, depois como mediador… ‘possibilidade de fazer mais em pouco tempo’, e se tu pudesses voltar, ou eu ir o teu encontro! O que faríamos?
O fio / a ideia / a vida estica e aperta. Dói este longe / a distância Aumenta o vazio que se quer/ se pretende preenchido.
A casa com brinquedos espalhados, a casa das presenças.
O medo(sorriso), o estranhamento somos nós longe um do outro / com barreiras intransponíveis, naturais, eu sei. O medo (lágrima)…
O silêncio se veste de pânico. Este ir e vir das nossas vozes me engasga. Estranhas certezas incertas. Gosto de estar contigo. Atravesso o tempo. Fico te espiando: com certeza, te espero… Beth Mattos – abril de 2021 – Torres
“Eu te adoro por tua generosidade, por tua sensibilidade de flor, pela seriedade que pões em todos os teus pensamentos em todas as tuas ações, e até nas volúpias do amor. Todas as tuas ternuras, todas as tuas emoções, e as sofro ao mesmo tempo que tu! Rendamos graças à Providência por nos termos amado, e por nossos corações, assolados de solidão, terem podido ligar – se em uma união tão indissoluvelmente carnal! Não me abandones nunca! E lembremo – nos, eternamente, de que possuímos um no outro o objeto apaixonado de nosso A M O R.” (p.36) Roger Martin du Gard – Os Thibault
” O tempo passa e nos emurchece. E no fundo nada muda. Sempre os mesmos. Nada mudou, a não ser que eu me sinto desanimado e envelhecido.” (p.36)
“Ai! por que não vivemos com toda a força de nossa alma, em vez de raciocinar? Nós pensamos demais!“(p36)
A cerca / o muro, o impossível. Um desafio de ir , de sair e de voltar. A busca de / com perspectiva… Desafiar o impossível pode ser o bom motor, o necessário para o tal desafio desafiador: trocar a mesa, arrastar as cadeiras, alterar a ordem dos objetos, fazer uma horta, desafiar o céu. Arrastar fantasmas com doçura.
Há qualquer coisa de instantâneo na limpeza: o movimento como onda, um furacão ou o mágico que me arrasta… Ultrapassar obstáculos.
Sinto um certo e insistente aperto: sufoco no cinzento e silencioso. Outra vez arrumar… Pensar / recomeçar ou dizer sem me interromper…Usufruir do tal fluxo natural deste aventuroso encontro. Ah! Este tedio desorganizado! Beth Mattos
Foto: Tina Zappoli
Don Juan de Molière : orgulho e audácia – perturbador, malappris… Bernard Shaw il fallait ne pas les aimer et les fuir / Mozart Don Juan – não muito diferente do personagem de Molière, mas a música invoca traz/ faz ver / pensar / sentir um homem grandioso. São tantos! Eu me confundo…
Atravesso o livro. Releio autor amado (ah! os que fazem estremecer). Assombrada e misteriosa conversa. No texto, no fragmento, a voz se esconde, ou te procura. Sentimento inexplicável (preâmbulo)… És o amado ausente, e tão incrivelmente, paradoxalmente, próximo. Abro o livro. Em voz alta começo a ler, quero teus olhos…, também teu desejo.
“Estão, constantemente, à espera, sempre prontos e determinados a seguir o rastro de uma aventura até a beira do abismo. Estão sempre carregados de paixão, mas não a do amante, e sim a do frio, calculista e perigoso jogador. Entre eles, há os persistentes, para os quais, desde a juventude e por toda a vida, essa expectativa torna-se uma aventura eterna; para os quais cada dia se dissolve em uma centena de pequenas experiências sensuais – um olhar de passagem, um meio sorriso discreto, rápido e silencioso, um roçar acidental de joelhos – e cada ano em centenas desses dias; para os quais a experiência sensorial constitui a fonte que flui eternamente, nutrindo e aquecendo suas vidas.” (p.13) Stefan Zweig Novelas insólitas
Tu me olhas inquieto. Não dizes nada. Talvez porque eu saiba o que sentes…, fecho o livro, e vou escrever. Tenho cartas a responder, outras a decifrar, este mês de abril me inquieta. Releio o início de Segredo Ardente. Estou a descoberto, entregue. Escondida de mim mesma, ainda a me despedir de um amor arrepiado…, o teu. Eu não entendo o porquê deste dessossegado inquieto. Eu te penso. E me encolho neste necessário silêncio… Ah! O filme, a fantasia, e a tal vontade de voltar para a vida sacudida de Porta Alegre. O passado me inquieta… Eu não pude escolher, apenas reagir. Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2021 – Torres
Cinzento, fresco, sonoro, descansado domingo. Estou a preparar o ânimo: a polir este estranho humor, inventar o silêncio, domar a vontade e não sentir dor. Coisa lenta, elaborada resvala na manhã: promessa, desejo, ter tempo nos anos destes anos, nestes meses, nas semanas destes dias. Quero/desejo movimento, pessoas! Que aquela beleza pequena aconteça quando / enquanto faço isso e aquilo. A janela me invade. Mergulho no devaneio de estar/ter e despedir… Coisa aborrecida este dizer a esperar sentimento e vontade …e, coisas novas tão velhas! Encontrei uma mina de esmeraldas no fundo do jardim… Estou paralisada de encanto. Esmeraldas! O que vou fazer com elas? Esmeraldas! Vou pensar em opalinas e pérolas. Cristais brilhantes, lapidados. Rubis. Os jasmineiros perfumam a cerca e escondem o caminho, ah! meus jardineiros mágicos! Vou colher dálias, juntar em ramo as camélias. Para o almoço, teremos frutas, vinhos e queijos, e aquele pão com semente… A mesa no gramado. Nas cadeiras coloridas amarrei pequenas almofadas azuis. Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2021 – Torres
22 de abril de 2021 – dia de sol, bonito, bonito demais. Ontem terminei a arrumação da cômoda e das estantes onde estão (o presente não se fez passado, permanência dos danados: os cupins)… Tempo perdido, guerra perdida, paliativo: os pozinhos voltam/voltaram, voltarão… Toda a manhã em função da faxina dos vidros, faz a diferença, muda o cheiro. Depois, dormi um pouco, o corpo doí. Tirei a mesa preta (está na garagem), o apartamento aumenta, móveis pesados, grandes. Espaço, no meio da casa, alecrim dourado. Ainda estou cansada. Escrever me animaria, não. Vou caminhar um pouco com a Ônix. Com ela/para ela foi um dia corrido (as faxinas são sempre novo jogo de esconde-esconde), e de estranheza.
Vacinada. Etapa vencida, brotam ideias de ir e vir, necessidades prementes, desejos urgentes: deveria ter comprado mais flores, e doces. Acertei no peixe. Delícia!, A facilidade e o gosto. Na minha pequena lista incluirei temperos. Diz minha amiga que a cozinha, o meu laboratório, traz sempre uma pequena surpresa interessante, vou ensaiar um bolo amanhã… Agora, voltar a dormir. O tempo ficou tão misturado, um dia pode ter uma cota misteriosa de multiplicação, e a ideia pequena fica tomada de poder de meses e meses… Mas nada aconteceu: ´penso em ti todos os dias, provo os vinhos sem entusiasmo, caminho menos, faça planos para resolver aquilo e isso, leio menos, muito menos, limpo, limpo, limpo e a vontade de mudar, ir pro Rio ou pra São Paulo se aquieta. Vejo filmes. E gosto. Ouço música e me entusiasmo. Tudo passa pelo entusiasmo… Tenho que espichar as manhãs. Beth Mattos – abril de 2021, ainda bocejando em Torres, inquieta.
” Me atravessa o vento
E dói
Me arrebata um sussurro teu
E dói
Me estremece teu olhar
E eu
Me arremesso entregue
Ao mar”
*** X ***
“Querendo sonho verdade
Querendo caminho canção
Quem conhece meus pedaços
Não fecha os olhos pra ver
Que dentro de mim tem vulcão
Lava pronta pra irromper”
E mais um outro:
“Dentro, por dentro
Buraco no peito
Trancada em casa
Ou nem tanto
Pensamento solto momento
Um ano, e tanto tempo
Parece outra vida
Num reino de abraço
De encontro
De dançar até pingar
De atravessar com toque
Tanto pouco longo tempo
Sentimos todos
Esse grande estranhamento
Sem saber se nos pertence
Essa lacuna no vento
Luiza Mattos / Luiza D. Mattos – abril de 2021
(eu gosto, gosto, gosto, gosta! desta poeta que se arremessa com força! gosto! gosto!
Epigrama Número 8
“Encostei a ti, sabendo bem que eras somente onda. Sabendo bem que eras nuvem depus a minha vida em ti. Como sabia bem tudo isso, e dei – me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí.”
Cecília Meireles