Outro dia de sol. Inacreditável. De alguma forma passei um mês na sombra: chuva, chuviscos e cinzento. Frio, vento, e sombrio. Ontem corri pra luz. Caminhei bastante. Tentei ver as baleias de setembro. É quando passam por Torres. Exibem cauda, esguichos, e nos assombram.
Não tenho janela com mar. Não sei se está azul, cinzento, esverdeado, agitado, ou se fazendo de lago. Então, caminho até a praia. Espio. Sinto saudade. Olho mais um pouco, e volto. A cada tempo seu tempo.
Antes que a manhã termine, e com ela meu ânimo, as notícias: sonhos estranhos e repetitivos, num ir e vir, e, logo distanciamento plácido. Durmo cedo, muito cedo. Noites compridas esticadas, silenciosas. Deveria mudar este jeito esquivo? Pondero sobre isso. Pode ser solitário, pode ser produtivo, pode ser eu mesma, pode ser doença. Não sei.
E, no entanto, gosto de pessoas, do riso, das noticias, da voz, dos gestos. De ser pessoa entre as pessoas.
Não tenho escrito, não tenho lido. E claro, não tenho meditado. Envelheci. Em alguns aspectos petrifiquei. Como explicar? Está me faltando uma dose de ternura. Acho que é isso. A cabeça se agita querendo resolver, mas nem de gavetas dou conta. Sempre desfeitas, abarrotadas. Faço e desfaço o bordado…
Levantar da cama ao amanhecer pode exigir um esforço particular. Levanto. O dia se abre. Muito bom.
Penso: qual motivo, justificativa, ou força uma pessoa acontece no mundo? Há que retomar a coragem. Penso: isso de desenhar, diariamente, novos contornos pode ser envelhecer…Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2019 – Torres