Incomunicável

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Não compreendo. Contas, respondes, argumentas. Palavras soam, repicam, e voltam. Eco. Monólogo. A voz pequena, vazia, ou distante. Não sei repetir. Escuto. Já nem penso, ouço. A cada frase, afirmação… Interferência, uma crítica. Sem palavras minha resposta. Silêncio. A cada história tua voz. Particular. Fotos, muitas fotos.Texto? Pode ser! Desânimo.

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Nomes da memória

Dia de comer dois pastéis. Claro, tomar cerveja, depois espumas na banheira. Folguedos. Nada. A tarde foi se indo para terminar neste pôr do sol grandioso: Rio Grande do Sul, e África. Será? Vontade escondida, como diria Lygia Bojunga Nunes, em histórias de gordas, e grandes vontades… Vontade de viajar. Amarras. Ancorada, isolada. De noite, vinho. Velas. E agora a meia lua…
Biografia? Escrever esvaziado…Nomear? Vianna Moog versus Iberê Camargo, Almeida Lima, Lopes de Almeida, Menna Barreto, Veríssimo, Vitor Hugo, ou Petrópolis? Vargas, Dionélio Machado, Sérgio, Dona Ondina, piano. Frignani, Marco. Gianfranco. Modena. Itália. Esquisitas histórias. São Paulo. Minas Gerais. Voam, apitam os trens. Glauco Rodrigues? Carmélio, Danúbio Gonçalves. Paulo Hecker Filho. Termina, e começa. Francês. Edy Lima. Françoise Hardy, Petrópolis. Porto Alegre. Rio de Janeiro. Rio Pardo, Ipanema, ou Botafogo. Santa Cruz do Sul. Petrópolis. Piscina, barrancos, bonde. Nossa Senhora das Graças. Cônegas. Santo Agostinho. Torres. Praia, Bom Conselho. Rio de Janeiro. Dodge. Fotos. Cartas. Copacabana. Paris. Limoges. Advogado. Processo. Casa. Divórcios. Maridos. Namorados. Escrita, Hemington…Despedida. Amigos. Encontros e desencontros. Livros, textos. Papel, caneta tinteiro… Máquina de escrever.

Felicidade

Sentimento doído diante de pessoas, de coisas: este mundo. O pequeno medo. Sobressalto, doçura, preocupação. Dúvida. É preciso ofício. Procuro a coragem. Sim, o livro é perfeito, no entanto, o essencial se esgota, mergulho no supérfluo. Temida clareza que ofusca. Pessoas passam, vão e vem como sombras colorida, e sonoras. Influências brincam com a  vontade. Felicidade  que ultrapassa minha ambição.

CARIOCA

Completamente carioca. Gaúchos são guapos, corajosos, valentes (não é a mesma coisa?), honestos, politizados, preparados, e a lista é enorme… Nada de chope, batata frita! Rua, cachorro, tênis, conversa, ideia, escola? Cachorro quente, pastel, livraria, sebo, túnel, galeria, Copacabana, Leblon, Ipanema, Floresta da Tijuca. Tu, não, você. Calçada. Sou carioca. Amores cariocas, mar carioca… Rio de Janeiro é demais!  Vinicius de Morais, Prudente de Morais, Urca, Humaitá, Largo do Machado, Parque Laje. O que mais? Carioca.

Nostalgia dolorida, despedida.

Perdi o que preciso, encontrei o que não procurava, afundei na cama, dormi. Tirei o pó, varri a casa, abri as janelas, fechei. Desejei estar ao teu lado, quieta. Não abri o vinho, nem comi o queijo, não fui a praia. Desanimei! Escuto o silêncio. Obedeço…

“E vivemos partindo, ela de mim

E eu dela, enquanto breves vão-se os anos

Para a grande partida que há no fim.”

Vinícius de Morais, Soneto de Carnaval

Sem limites

Quem limita o impossível de cada um?

Envelhecer, medo assombrado. O medo ganha corpo, autonomia, e decide morar na mesma casa, sem perguntar. O intruso entra, e fica…  Não vizinho, mas coabitando. Está no que antes era apenas meu. Deita-se na mesma cama. Come ao lado, na mesma mesa. O mesmo sofá, interfere nas leituras, nas risadas. Decide se vou, ou não abrir o livro. Medo mesquinho, manipulador. Precisar de, sujeitar-se, apequenar-se, despir-se em frente ao estranho. Abre minhas gavetas, espia caixas, deleita-se com a desordem do armário. Altera minha rotina, o medo.

 

Para sobreviver existe, também, alienação automática. A luz se acende… Divagar. Filosofar. Desligar televisão, rádio. Não abrir os jornais, nem as revistas. Num estalo embarcar rumo a ilha. O inacessível. Só o medo, colado ao corpo viaja na mesma prancha, no mesmo surf...  A mesma onda. Dores no corpo, fome, incômodo, frio, insônia, calor. O inteiro possível desliza. Ruído, escuro, passante, vento, excesso, precariedade, carências. Reais. Substantivos dotados de inteligência. Manipulação. Para escapar de incômodos, a caverna.

E se o vento, passarinhos, ou vozes atravessam o mar … Fecho os olhos. Mahler, ou Liszt, não, Jacques Brel, Françoise Hardy, Maysa? Artificial a vida. Volto ao próximo livro.

Limites

A imaginação é uma louca esperança de ver sem limites.

“Decerto a felicidade é expansiva, tem necessidade de concentração, de intimidade. Assim, quando a perdemos, quando a vida proporcionou `maus sonhos`, sentimos saudade da intimidade da felicidade perdida.”

 Gaston Bachelard

–  A Terra e os Devaneios do Repouso –

 

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Explorações interiores

O diário de família. O hábito de se fazer na escritura. Qual seria o motivo da rotina? Escrever para que ele também lesse? Na separação confiscaram o caderno, colocaram no cofre, e nunca mais lhe devolveram. Escrever era o jeito de lhe dizer  …  dela, dele, dos filhos. Dos sentimentos. O irmão advogado selou o desaparecimento do diário, das possibilidades…

Retomo o tempo, desconheço o verdadeiro, confundo imaginação, calúnia, e raiva.

A questão de resolver o que deve permitir que apareça no diário e o que deve ser para sempre escondido está no coração da escrita. Escrevemos para o leitor. No virtual o diário se esparrama… A verdade será a felicidade, a infelicidade, ou a média de sentimentos aflorados. Esta relação amorosa que atravessa dúvida, incerteza, coragem, e covardia está na escrita. Exposição. No entanto, escrever interfere na intimidade … Pintar interfere, a generosidade e  verdade interferem. Corrupção, mentira, interferem.

Será que tem de ser tudo tão cruel? Deve haver uma forma de sentimentos e talentos  coabitarem. Que os seres continuem imersos em suas respectivas explorações interiores… e se respeitem nas diferenças.

Mudar a monotonia – política

Fragmentos de excelente livro, indicado aos amigos Bento Roberto, Eduardo Costa, Caio Ribeiro, Lalo, Doca, Jan, Walter, Alcides quem sabe Jorge? Flávio Tavares, Dr Raul. Quem se interessa por pérolas, e pelo Rio Grande do Sul?

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Memórias do Coronel Falcão de Aureliano de Figueiredo Pinto

Se em cada correligionário há um dissidente futuro: é a inveja. Se em cada adversário há um detrator ou um adesista: é a ambição. Conosco não tem disso: nós nos instalamos no equador da virtude. Somos a pauta, e o paradigma.” (p.74)

Sobre quase 30 anos de estagnação e charco, de considerar a coisa pública como propriedade particular, o sindicato municipal mamando o orçamento magrinho, teve um arrepio de surpresa. Era lá possível vir outra gente para a direção e posse dos cargos? Que esperança! Aquilo era deles. Por direito divino. […] Ninguém saberia governar uma comuna, senão eles. Ninguém tinha o direito de meter a colher ali. Assim o exigia o partido. Assim o determinava a verdadeira natureza das coisas. Um absurdo. Uma loucura desses idiotas. O Presidente do estado fora iludido. Ora, querer governar município …Quem? […] (p.76)

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Entretanto, de cada querência saiu gente relinchando entusiasmos. […] Não era o programa. Não era bem a novidade o que sacudia o ânimo popular. Era uma aura de rebelião contra tudo o que estava há tanto tempo. Mudar a monotonia do estabelecido. Rajada de vento novo varrendo o tédio das instituições. Desmoralizando de vez, a manha canhestra e conhecida das raposas políticas. Dos conspícuos sujeitos que uivam pelas tradições gloriosas. Pela evocação dos ancestrais. Da gleba – heroica. – E vão palmeando, de manso, enquanto a turba lhe segue o braço eloquente para o céu da pátria, vão palmeando de manso, no orçamento ou na trampolinagem, o preço encoberto de safadezas […]. (p.77)

Jogo de palavras

“Sou constante, sim, com orgulho, no caminho das minhas indefinições. […]”

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“Minha indefinição me faz aceitar cada pessoa como é e leva os demais a me atribuírem uma qualidade que não é minha, é dela (indefinição). Quem me chamar de bom confundira a capacidade de aceitação plena de pessoas e coisas, com bondade. Bondade é uma ação na direção do outro. Os definidos (quando bons) o são muito mais do que eu. Mas a mansidão de minha compreensão, meu medo de ter verdades, minha expectativa ante o enigma, é compreendido com bondade apenas porque nada impõe, pede, cobra ou exige dos outros. Às vezes sou lúcido demais para ser bom. A indefinição me faz partícula de algum cristal, ou mistério alquímico feito para refletir a natureza inteira, filtrando todas as suas cores e irradiações. A minha indefinição é a minha humildade ante o cosmos. A certeza de que não o posso limitar nas fronteiras do meu pobre entendimento. […] A realidade é sempre mais ampla. Ao aprisioná-la (sempre por momentos), não retemos. Sabê-la é transformá-la. Verbalizá-la é privá-la de plenitude. A palavra não esgota a realidade. E até para pensar eu só tenho palavras. Palavras cruzadas. Jogo de palavras. (…)” Artur da Távora

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Fotos – Parque Laje – Rio de Janeiro – Pedro Moog