mãos ásperas

Começa a terminar! Tantos desastres, tanta loucura e tanto amor! Amamos no escuro, sem saber quem como e quando, amamos, simples assim: fantasia, miragem estranhamento. Meninos, adolescentes, e velhos. Quero quem me quer, ou quem penso querer. Reinventei o espaço. Dormi o sono.

Tenho mãos ásperas: polir, lavar, escovar aqui e ali. Espio dezembro. Dois mil e dezoito. És especial, sou especial, somos únicos. Estou a fazer as malas para voltar a Recife, antes São Paulo, outra vez o Rio de Janeiro. Por que não Paris? Por que não Limoges? Por que não São José dos Ausentes, sem esquecer Florianópolis… Acontece em cascata. A Porto Alegre te dar um beijo. Elizabeth M.B. Mattos , novembro de 2017

É o que chamo imagem-cristal em que um passado é apreendido não simplesmente em função do presente em relação ao qual ele é passado, mas em função do presente que ele foi. […] daí a estranha vida em que é como se víssemos a coisa através de uma bola de cristal.”  Gillhes Deleuze – Images-temps, image-mouvement –

e Francisco Brennand, pinturas

MULHERES NUAS de Brennand

amar amar um pouco mais

Assim mesmo dentro do contexto e da vida. “É interessante a mudança que o amor físico opera no corpo dos homens e das mulheres: a mulher floresce em sua plástica, arredonda -se, perde as asperezas, adquire uma expressão ansiosa ou triunfante; o homem torna se muito mais tranquilo, mais interior.” (p.13) Davis Hebert Lawrence – O Amante de Lady Chatterley – Volume 33 Os Imortais Editora Abril

do outro lado

Madrugada. Escrevo aflita e confiante porque estás do outro lado, e me entendes. Fantasma tu você nós. Uma ideia um grito, e uma loucura de amor. Estranho sentimento deste gostar nebuloso. Não existe o físico o real. A ideia se dilui na fantasia porque se for real, de corpo com corpo, voz com voz…

Se sentir cheiro gosto e prazer: descobrir / mostrar uma ideia de infinito será vida… Olhar nos olhos escutar a voz, e saberei. O sentimento não pertence ao corpo que imagino, e tudo se desfaz. A crueldade/ dureza da pessoa, o eu que nunca está pronto para o amor do amado. Somos outra vez/ sempre / ainda crianças. Estamos, tu e eu, amontoados em baixo do piano de cauda da casa de Ana Maria na rua Vitor Hugo. Cartas do baralho definem o Rei e a Rainha, e com o trotar dos cavalos pela floresta atravessando pontes vemos o castelo. O vento da janela aberta derruba as cartas: portas janelas corredores desabam, … recomeçaremos. A brincadeira não termina naquele fim de manhã. Elizabeth M.B. Mattos –  fim de novembro 2017 – Torres –

E, enquanto chove… Como chove! Penso:

Há um saber, um saber pouco que é mais do que nada, não sendo muita coisa … um saber de ti e nosso que é pouco! Mas no interior deste entendimento rarefeito descontínuo de tão pouca informação tua presença deixa rastros indícios e aromas que se misturam, os teus nos meus. A continuidade se antecipa e espera/aguarda o saber recíproco que existe além de nós os dois…  Este saber tem um sabor que se regozija neste provisório incompleto que não sabe, e nem necessita saber: desencontros, ou perdas ou descaminhos, pois é amor. Do amorasazuis.com: sabes o que não sei –  25 de abril de 2017 – Torres – Elizabeth M.B. Mattos

“ J’ai rêvé, l’ autre soir, d’ îles plus vertes que le songe … Et les navigateurs descendente au rivage em quête d´une eau bleue; ils voient  –  c’ est le reflux  – le lit refait des sables ruisselants:  la mer arborescente y laisse, s’ enlisant, ces pures empreintes capillaires, comme de grandes palmes supliciées, des grandes filles extasiées qu’ elle couche em larmes dans leurs pagnes et dans leurs tresses dénouées.

Et ce sont là figurations du songe. Mais toi l’homme au front droit, couché dans la réalité du songe, tu bois à même la bouche ronde, et sais son revêtement punique: chair de grande amour et c’ coeur d’ oponce, figure d’ Afrique et fruit d’ Asie… Fruits de la femme, ô mon amour, sont plus que de mer: de moi non peinte ni parée, reçois les arbres de l´été…” (p.111-112) Amers  – Saint- John Perse – Poesie Gallimard

P. S. Necessidade de trabalho: dedicar seis horas ao projeto.

pedra e poema sentido certopedra e poemamuro de berlim pedaço

Um pedaço do muro de Berlim, – recolhido no dia  da grande festa! Ana Maria M.B. Vianna Moog estava em Berlim

muro e livros

insistência enlouquecida

Fui reler cartas que te escrevi …  As mesmas e repetidas histórias de abandono, de beleza, e de silencio velado, como criança que se faz aparecer, e depois fica envergonha. Neuroses não curadas, o meio fato, ou a meia verdade. O mesmo passado num ensaio repetido sem que exista o definitivo. Escrita circular.  A mesma história desorganizada …  Sem desfecho, sem sentido. Contada infinitas vezes, e se interrompe no mesmo ponto. Um colorindo difuso, sem o desenho. Sem consistência. Olhada do lado avesso, ou do direito, mas inconclusa E me surpreendi com este emaranhado de lembranças. Sim deveria ser organizada. E o inconstante vem junto neste modelo inacabado…E faz muito tempo alguém me disse que se lesse uma carta minha de 50 anos atrás, ou 45 anos atrás ou da semana passada, ou 20 anos ou um mês seria a mesma coisa. O mesmo interrompido e lamuriento fato. Será viver uma insistência enlouquecida de dizer, gritar e nunca compreender? Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2017 – Torres

Farionh pesquisar

Aquarela de Fharion – João Fahrion – pintor, ilustrador, desenhista, gravador e professor brasileiro.

Henrik Ibsen

“[…] deveria ter-me lançado na realidade – na dura realidade que não admite sonhos. Eu deveria ter recomeçado de baixo e ter subido novamente até as alturas – mais alto ainda do que antes, apesar de tudo o que tinha acontecido. Sra. Borkman balançando a cabeça, e olhando –a com um ar professoral:  Nada de novo acontece. Aquilo que já aconteceu também não se repete. É o olhar que transforma as ações. Um novo olhar transmuda antigos atos. (Interrompendo – se).  Mas, você não compreende nada disso. – E é esta a minha maldição: não ter nunca encontrado uma única alma que me compreendesse. Talvez uma. Mas há muito muito tempo atrás. Numa época em que eu não imaginava um dia precisar de compreensão. Depois mais ninguém. Ninguém atento o suficiente para, estando de vigília despertar-me – para soar com o sino da manhã fazendo – me renascer alegremente para o trabalho duro e convencendo – me de que eu não tinha feito nada de irreparável. ” (p.67) John Gabriel Borkman  Henrik Ibsen – Editora 34 – 1996

Uma conversa entre poetas.

numa noite de audácia incomparável passo a tratar – te por tu, e abraço com as pontas dos dedos os nós das tuas mãos; no fresco calor condicionado de um quarto onde a luz não dá para ler, recito estrofes e mitos; beijo -te não é? nada estava escrito, nenhuma verdade comum aos planetas, éramos só nós sem nenhum segredo, vivos e completos, serenos, mortais” – Antônio Franco Alexandre -, matemático, filósofo e poeta português.

escrito pensado

… de frente para a verdade: não há nada de novo, e afinal, sou igual, a solitária e ansiosa pessoa que olha … Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2017 – Torres

– A vida de um homem é tudo o que há de importante para ele. Ele prova, sente, vê, ouve … e julga ser o centro do universo. Isso é perfeitamente natural, pois ele não pode provar, sentir ou ver por ninguém mais. A sua dor é dele próprio, e ele nem é capaz de descrevê – la. E nas células sombrias e reclusas do se cérebro, os pensamentos acham – se tão sós como cadáveres enterrados no chão. Mas, – continuou –  em volta de si, no espaço e no tempo, existem outros como ele; e quando ele fala, esses podem ouvi -lo. De sorte que, afinal, ele talvez não seja o centro de coisa nenhuma. […] – Para onde quer que ele olhe,  – afirmou o religioso – verá diversidade e esperança, dúvida e perplexidade. De sorte que isso talvez importe em nada. Entende agora?“(p.78-79)

Roberto Nathan – A luz da manhã – Editora Globo  Coleção Tucano – 1944 –

arvore mulher

Foto: Luiza Mattos Domingues – Recife –  2017

“na fotografia o escrito pensado, reverbero! “Pedro Sidero

fantasia

Avanço casa adentro sem pensar sem medo. Arrombo porta externa e  interna. Sigo vestígios traços. Encontro cheiros e pedaços, e por fim,  chego no teu abraço.

Somos personagens de carne e osso. Somos criação fantasia: tua e minha. Tu que és eu mesma sendo outro, do outro lado, … sou inteira  completa quando estou contigo. Desperto, aturdida. Sou o medo. Eu a te esperar e desejar no susto de não ter nunca mais, de nunca mais te saber.  Porque nem sou eu, nem és tu, somos o vento. O mar com fúria com voz, e  também esta montanha com sol e sombra. Somos apenas fantasia. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2017 – Torres

a mais linda eu em TORRES chegando

Valentina e JAMBO

 

doeu muito muito

Preciso registrar, – a leitura doeu. Kazuo Ishiguro colocou na minha mão a dor, dor sólida. Sufoco.  Sentimento rasgado e ardido. Desesperança inteira. A vida, Ah! Artificial, real? A minha, a tua não passa do abraço.

Talvez eu possa chorar lágrima, ou desespero. Sentir mais, desesperar mais, ou te amar melhor. Não sei. Este livro! Este / esse livro, a ficção chegou… Preciso caminhar e respirar, respirar.

O texto se agita dentro do corpo.  Não me Abandones Jamais de Kazuo Ishiguro

Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2017 – Torres

nesse mergulho, não me abandone

Apaixonada recebo o bônus, chance de sobrevida…

Tantas vezes não presto atenção. Caminho às cegas a bocejar.

Feitiço do agora, do imediato, no entanto, tudo pode mudar “num pânico cheio de riso”.

Modelada, enfeitiçada, desenhada: qual a importância? O prazer. O choro de qualquer lágrima. Apaixonada vou adiando o necessário. Eu te espero no outono. Não se pode esquecer amores que amam…

Apesar da vida traçada (factível possível no que é) sonho com desvios.

…leitura paralela, o meu mapa desenhado com Kazuo Ishiguro. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2017 – Torres

FOLHASSSSSS