Sem contexto

 “Sim, meu querido e jovial doutor, escrever um diário é renunciar ao destino. É viver no presente, é confessar ao implacável que nada mais esperamos dele, que nos acomodamos todos os dias, e que já não há relação entre estes e os restantes. É sorver o nosso oceano gota por gota, com receio de atravessá-lo a nado. É contar as folhas da árvore cujo tronco não tornará a reverdecer. Só se escreve um diário quando as paixões estão extintas, ou quando atingem o estado de petrificação que nos permite explorá-las como montanhas das quais a avalancha não se desprenderá.

Uma descoberta! Diário íntimo de George Sand. Editora Antígona, 2004.

Citar sem contexto… Talvez seja como pintar uma laranja! Há que se pensar no gosto,como é por dentro, de onde veio! De qual laranjeira,  na cor certa. Se está madura… A laranja aumenta, o quadro cresce… É delírio! O recorte conta uma história… Carta oculta, um grito de raiva, uma ameaça sem causa…Intimidade!  Tristeza. Ou o repartido? Velhas confissões!

George Sand (1804-1876) é o pseudônimo literário de Armandine Lucie Aurore Dupin, baronesa de Dudevant.

O VERANEIO

Veranear em TORRES 1960

O “bem” bonito de Torres
“Desde a hora do início do banho de mar(começa às 11hs da manhã) é constante um vaivém de mulheres bonitas nas areias e por entre as rochas da praia de Torres. Tornaram-se parte real da natureza fabulosa da praia mais elegante do sul. Em pequenos grupos, onde se discute os acontecimentos, ou se marca o programa para logo mais, ou, ainda, jogando tênis-de-praia, elas ficam ao sol. Os maiôs modernos, de uma peça, embora tenham surgido este ano muitas novidades dos últimos lançamentos da moda e colorido sensacional, não conseguiram desbancar a presença dos biquínis (preferidos pela jovem sociedade). Na Guarita, à tarde, continua o desfile de beldades. Ali o vôlei ou frescobol são os passatempos escolhidos. Um pouco além, no campo de golfe, reúnem-se as elegantes. Enquanto jogam pode-se ver o que existe de maior bom gosto no gênero de roupas esportivas. A noite serve de pretexto para trajes esportivos mais sofisticados a SAPT ou a boate do Clubinho para um conjunto de grande elegância. Dificilmente se encontra complementação mais perfeita do que a presença bonita das senhoras da sociedade gaúcha do que na praia de TORRES.”
Paulo Raymondo Gasparotto (idos anos 1960)

076Em Torres 1960

Glauco Rodrigues Salamanca do Jarau

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REVISTA ZERO HORA  Porto Alegre, 22 de outubro de 1989.

Ilustração: a matéria traz Glauco de volta  com exposição em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.  Fecha com a foto (1968)  do biombo  que Glauco fez reproduzindo a lenda.

Salamanca do Jarau é uma lenda gaúcha, também conhecida como lenda da Teiniaguá, que conta a história de uma princesa moura que se transformara em bruxa, e que teria vindo em uma urna de Salamanca, na Espanha, e acabou indo morar em uma caverna no Cerro do Jarau, no rio Grande do Sul.Esta lenda, registrada por João Simões Lopes Neto e publicada pela primeira vez no ano de 1913, inspirou Érico Veríssimo a escrever partes de seu romance O Tempo e o Vento.

O ARTISTA Glauco Rodrigues

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1968  junto ao trabalho de Glauco Rodrigues.

Geraldo  Moog e Beth Mattos

Missivas que contam 1967


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Tu fizeste bem de ir para o Rio onde há tanta coisa bela para se contemplar. E o belo faz bem a alma.”

São Paulo, 21 de setembro de 1967

Le Christ semble dire à tout chrétiens: Tu est destiné eternellement à la joie. Sans doute, Le temps que tu passes sur terre est um temps d’ épreuve. Mais si, au milieu des difficultés, des contracditions et des souffrances tu sais mantenir quand même la joie  dans ton âme, tu me donne la plus grande marque de confiance qui soit, car tu affirme par là ta foi totale em mon amour qui sait, mieux que toi, ce qui te convient.” Abbé Gaston Courtois

Cartas Curiosidades 1965

013 (2) Correspondência  cartas: várias facetas. E todas importam.  As da Madre Paulina, também da Madre Hermínia, e muitas da Madre Maris Stella: Cônegas de Santo Agostinho. Colégio Nossa Senhora das Graças. São Paulo, 28 de novembro de 1965. Eu deveria estar terminando o que se chamava terceiro ano do Segundo Grau, no Clássico, estudava línguas estrangeiras, e deveria fazer o que se chamava uma segunda época, prova em fevereiro, um exame para ser aprovada, era inglês: “Se tiver… uma segunda época, pouca importa… o importante é vencer! Tenho esperanças que vencerás!” Mas o mais curioso diz respeito ao que eu fazia na época: jornalismo na televisão. A primeira folha termina assim: “Espero que estejas feliz – com ou sem namorado. A impressão que não esqueceu o outro é impressão. Naturalmente (segue na segunda folha) cada um tem uma personalidade; no amor é preciso se dar para se sentir feliz. Aliás, em tudo na vida. Só se é feliz e alegre na vida quando deixando de pensar em nós nos entregamos pelos outros. É muito moça para se desiludir no amor. Viva sua vida aberta em flor! Agora seu dever é vencer os estudos. Aproveite tua inteligência e capacidade de aprender. Quero saber que no próximo ano seguirás um curso superior… Depois, continuando na Aliança Francesa, poderás obter bolsa de estudo… em Paris! Que alegria para nós (…). Ainda não me acostumo com a idéia de trabalhar na T.V. Não gosto mesmo. Nem gosto de saber de tais propostas…” Eu tinha sido convidada pela TV Piratini, canal 5, dos Diários Associados, para  criar/ fazer um Jornal Feminino na emissora, na época  concorrente do canal 12 da Globo.  Ela segue: “Já te disse que poderás fazer linda carreira como escritora, sem precisar te expores às críticas do público, como está acontecendo em teus programas de T.V.” E na terceira folha: “Veja se aproveitas tuas férias para no ano que vem, seguires a nova etapa da vida (…)”

A correspondência enriquece sempre a linha biográfica, a história de um determinado tempo, contexto. Nesta carta religiosa que segue a filosofia de Santo Agostinho!  Veio  também um São Francisco… E relendo me parece tão atual! Tão importante como um bilhete do Glauco Rodrigues, ou do Paulo Hecker Filho, do Iberê Camargo, do Danúbio Gonçalves, ou da Edy Lima. Do meu pai, da mãe, das irmãs, dos amigos, dos amados… Não estudei em Paris, mas em Limoges. Curiosidades, coincidências! Amorosidade!015

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O GRUPO DE BAGÉ

Deixo a memória de menina chegar. Em 1955 acompanhei a festa imaginando o salão dos espelhos do Clube do Comércio. Casa cheia nos preparativos para o grande dia! A mãe costura e borda o cetim azul do vestido que minha irmã vai usar no Baile de Debutantes.  Estou sentada na ponta da escada, atenta. Glauco Rodrigues também costura. Dele o desenho. O jovem artista usa com habilidade a agulha. Enfia minúsculos canutilhos, contas azuis e prateadas no risco do cetim. Vejo os moldes em papel de seda! A sala de jantar é o grande ateliê. Penso no baile. Nas cores. E os quadros da casa se movimentam na minha imaginação! Estou atenta ao biombo desenhado em nanquim por Glauco (ainda não conheço os painéis do cinema Cacique) que divide a biblioteca da sala grande. Imagino o prazer das virgens da lenda A Salamanca do Jarau.  A tentação do gaúcho dos pampas. Minha memória. Deixo-me queimar. Passados tantos anos! Encontro mensagens, jornais, protesto, e já são bem outros tempos! Os anos escondidos, guardados nas grandes caixas de papelão, e a história volta com O GRUPO DE BAGÉ.  Elizabeth M.B. Mattos – março de 2013 – Porto Alegre

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