Ela voou até a porta da sala, que abriu com ar solene, e depois agachou-se diante da fechadura para ver o que ia acontecer lá dentro.

Ela voou até a porta da sala, que abriu com ar solene, e depois agachou-se diante da fechadura para ver o que ia acontecer lá dentro.
Se ameaças cair, ou se agrides descontrolado, eu posso segurar, eu posso resolver. Se estás em perigo eu te ajudo. Se precisas de mim, eu resisto. Eu posso renascer e recomeçar, com certeza. Então tudo ficará em ordem, em movimento, a energia fará da confusão a certeza. Condição ideal para florir, eu posso.
Ao/no elogio, indefesa. Então eu fico pequena e assustada: preciso do desafio. Ao elogio fico vulnerável. E eu me perco no aeroporto. Tu compreendes? Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2021 – Torres Ah! Te abraçar, uma urgência!
Por uma fresta da minha indisposição a palavra se aventura. Não organizo pensamento, mas uso o aspirador, os panos, e a minha capacidade para limpar e polir. Atrapalhada, confusa, beligerante e seca…, vou amanhecer diferente e vou te amar do jeito que gostas. Um dia! Tens que voltar com a Primavera. Nem a leitura da Zero Hora, muito menos as surpresas, nem o livro que se despede consegue iluminar/ventilar meu ânimo. Abraço forte e beijo o neto, constato que o sol ameaça, mas não se instala nem faz acontecer: vou para Recife. Eu irei para Pernambuco sacudir o pó de pirilimpim-pim… Logo virá uma narrativa de evidências, de presenças, consistentes. Os meus olhos , ou a minha memória, seriam as pequenas pesquisas, ou a própria inércia enrolada no medo? Não importa, eu irei. Deve haver coragem nas fogueiras, nos retratos picotados, no mundano das conversas no bar, na lágrima, ou naquela risada fora do lugar. Não sou leve. Sou bruxa e sou menina: floridos jardins!
Como é doce o sonho daquela padaria! E os pastéis com a massa de pão e tantas azeitonas! Vou beber um suco de laranja, comer o proibido, caminhar cansado, e sentir certeza. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2021 – Torres
“Em nosso país desde antigamente um verdadeiro furor prohibendi [paixão por proibições] tem constituído a regra, uma tendência a manter as pessoas sob tutela, a interferir e a proibir, o que, como todos sabemos, não tem dado frutos particularmente bons. […] Imagino que o senhor terá algo de importante a dizer para a solução do caso da psicanálise ora em consideração por nós; não sei se o senhor tem o desejo ou a influência com que se opor a essas tendências burocráticas. Seja como for, não lhe pouparei meus pensamentos desautorizados sobre o assunto. Em minha opinião, uma pletora de regulamentos e proibições prejudica a autoridade da lei. Pode-se observar que onde há somente poucas proibições elas são cuidadosamente observadas, mas onde alguém é acompanhado de proibições a cada passo, esse alguém se sente realmente tentado a desprezá-las. Além disso, não significa que alguém seja realmente um anarquista se estiver preparado para compreender que as leis e os regulamentos não podem, a partir de sua origem, alegar possuir o atributo de serem sagrados e não-infringíveis, que são muitas vezes inadequadamente elaborados e ofendem nosso sentimento de justiça, ou o farão após certo tempo, e que, em vista da lerdeza das autoridades, amiúde não existe outro meio de corrigir tais impróprias senão violando-as ousadamente. Além disso, se se deseja manter o respeito pelas leis e pelos regulamentos, é aconselhável nada promulgar onde não pode facilmente ser mantida uma vigilância no sentido de serem obedecidos os transgredidos. ” Sigmund Freud A questão da análise leiga E, XX,p.226-227 – 1926 com 70 anos.
o meio do caminho da guerra / o campo de batalha exige que se passe por elas até chegar ao outro lado, ao desconhecido lugar da paz,
recomeçar é esquecer, colocar pedras e terra por cima das pedras: a cada violenta lembrança, enquanto eu não estiver, suficientemente, longe não posso falar nem ouvir… o silêncio precisa ensurdecer.
neste mundo sem gentileza ou palavra onde teus 87 anos me assustam, e todos os 97 anos me parecem judiciosos, e os 70 anos escorregadios. Quero me agarrar aos meus 47 anos coma certeza de todas as incertezas possíveis, sendo que aos 27 anos eu ainda não sabia respirar…Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2021 – Torres
Os olhos estão amassados por olheiras pretas, e os pés cansados, as mãos dançam inquietas…
“Nesta ordem de fenômenos, Freud observara, como lembramos, o jogo do seu neto Ernest, o filho mais velho de Sophie, dedicava-se quando sua mãe se ausentava. Ele amarrara um cordão a um carretel que ele atirava para longe, emitindo um fonema, fort, que significava embora, depois o fazia voltar com um feliz da que queria dizer voltar. Ernest controlava dessa forma o perigo que representava para ele a partida ou o desaparecimento da mãe, Ernest também expressava sentimentos hostis ou vingativos, atirando – o para longe de maneira repetitiva.
De maneira análoga, observara-se nas neuroses de guerra e nas neuroses traumáticas que a cena traumatizante tinha tendência a reproduzir-se nos sonhos e nos pesadelos. Esses sonhos escapam, mesmo em formas disfarçadas, à lei da realização de desejos reprimidos. Eles ultrapassam o princípio do prazer.”(p.188) Freud René Major e Chantal Talagrand biografia
” Nesse sentido, a pulsão de morte coloca-se paradoxalmente a serviço da vida. As pulsões de vida não cessam, por sua vez, de dedicar-se a recriar novas unidades, já que buscam sem cessar, segundo o modelo do mito de Aristófanes no Banquete de Platão, restabelecer a unidade perdida de um ser originalmente andrógeno, anterior à separação dos sexos. ” (p.189)
Galhos com espinhos, exuberância das folhas e o colorido devolvem energia. Há qualquer coisa a deteriorar-se, memórias / lembranças / sentimentos agigantados e fortes: também nós jogamos o carretel para que alcance o tempo, e seguramos o fio da vida e o fazemos voltar, reconciliador…, depois, mais forte, devolvemos raiva no lance / jogar, usamos os dois movimentos: e o fazemos retornar mansamente, na esperança de que o perdido se reestruture e conforte… Nos sonhos escondemos a vontade e o medo, respeitamos o susto. Colamos as fotos, recortamos as revistas, vestimos alternadamente amarelo, preto, castanhos, vermelhos e muito branco. Estranho, muito se dilui. Igual acredito que aquela vigor vai agarrar minhas mãos e me devolver ao centro, e ainda, uma última vez, vou te amor que deve ser o amor. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2021 – Torres
Os olhos desaparecem: pensei que seriam os últimos. Mas se modificam e desmaiam. Triste. Não vejo: ver o que não enxergo?!? Procuro uma frase, quase verso. Perdi. Esbarrei em mil detalhes ou fatos, ou invencionices a vida pare uma grande invenção cômica e e trágica / insone e alerta+ pairar. Então nada importa, mas o detalhe faz a diferença, aquelas pétalas caídas no elevador. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2021 – Torres
“A neurose não repudia a realidade, apenas a ignora; a psicose a repudia e tenta substituí-la.” E Freud acrescenta que um comportamento é ‘sadio’ se “ele combina certas características de ambas as reações – se repudia a realidade tão pouco quanto a neurose, mas se depois se esforça, como faz uma psicose, por efetuar uma alteração dessa realidade.” Sigmund Freud A perda da realidade na neurose e na psicose
“O mundo fantasmático (o imaginário) tem um papel proeminente nos dois casos: no primeiro, ele utiliza um fragmento da realidade, ao qual dá um sentindo simbólico; no segundo, é o simbólico do mundo fantasmagórico que se torna real.“(p.167) Freud R. Major e C. Talagrand
Hora de dormir! Por que dormir no mesmo entardecer da passarinhada?! Gosto de dormir cedo, gosto da rotina. Horário / compromisso e sonho. Não sei se estão na mesma caixa. Passarinho de manhã / chuva / cantoria e eu. O dia espia E o dia me surpreende aos gritos: por quê!? No internato, verdade, as Madres nos recolhiam cedo, sem traumas: vida organizada. No último recreio das internas, que eu me lembre, seria às 20 horas?! Música, sempre música, e com dança, ou leituras tardias até a luz ser apagada. Apenas irmãs tinham quartos, nossos redutos eram no que se chama dormitório. Ah! lembro de dançar, mas lembro de poder ir para o quarto, mais cedo. Tínhamos janela individuais que se abriam para um avarandado. E era bom! Tudo. Disciplina e liberdade. Ordem. Limpeza. Previsíveis, às vezes, o piano… Adorava aquela salinha do piano. Conversas, conversas misteriosas, um chocolate extra. uma confidencia. Um sonho.
Esta memória se atravessou num dia da limpeza: esfrega aqui e ali, pendura lençóis. O passa passa que adoro. Perfumada lembrança do colégio. Na rua Vitor Hugo, nos verões, ficávamos de correria até escurecer. Arteiras e molecas. Estes hábitos monásticos eram coisas do meu gosto de ser freira, convento, ou sei lá… Preciso detalhar. Talvez não devesse ter casado, mas logo, imediatamente as festas / muitas e tantas festas me seduziram! Os dias amanheciam e já estávamos engaladas com rendas, cetins, flores e aquela profusão festas, ah! tanta festa! Somos as meninas do possível e do sempre. E tínhamos nosso Clube Bandeirante para reuniões dançante, brigadeiros e comilanças enquanto dançávamos o baião. E era verão.
Ah! Que saudade também da hora certa pra dormir, hora certa para acordar, hora certa para pegar as roupas cheirosas na lavanderia, e o lugar era lindo! O Beco do Carvalho! Nossas Madres Agostinianas! Voltei para o internato para o Instituto Nossa Senhora das Graças. Alguém chorava com saudade de casa, poucas. As que choravam choravam e choravam até voltar para casa…, diz Ana Helena que não sente saudade do internato, do colégio, das cônegas, do internato não. Temos que lembrar das salas, dos pianos, da capela, das missas e das danças! Dos retiros com Frei Celso. Das fitas complicadas do uniforme. Dos aventais impecáveis. Faço analogias com o Colégio São José, em São Leopoldo? Elizabeth M. B. Mattos agosto de 2021
Rio de Janeiro – rua Macedo Sobrinho – Largo do Humaitá – 1973