conscientes, os velhos

Memórias empilhadas, entre afetivas e aborrecidas. Cheios de histórias aventurosas, e preconceituosas, também. Fortes e insistentes… Eles, nós, os velhos, iluminamos os caminhos com a juventude saliente da felicidade e feito tratores, derrubamos preconceitos e equívocos (para nós mínimos) – temos convicções e galhardia, afinal, fomos nós que vivemos os sessenta, setenta e oitenta anos… E estamos cheios de ideias. Ainda terei horta em Portugal, talvez um floreira em Lisboa… Afinal, meu avô era português, porque não posso ver os mares do lado de lá? Pressa! Tenho pressa para voltar a ser portuguesa de avental! Elizabeth M. B. Mattos – abril de 2024 – Torres, em tempo atravessando os mares em caravelas.

Torres

Torres dos nossos verões – nosso imaginário.

Um verão / um período / uma liberdade um sonho.

sonho / vida a nossa – apenas nosso sonho e nós / se transformou num sentir, incorporou nosso imaginário = somos Torres – somos nós os verões. Elizabeth M. B. Mattos – abril de 2024 – Torres e nosso imaginário real – o pequeno Farol francês / as gincanas e nossa meninice pelos corredores da SAPT da Tatuíra e do Marisco. Incorporamos. Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2024 – Torres

Outro mar, outra areia – outro mundo, outras crianças : nós

viajar

Eu não sou de viagem / não sou de ir e ir e mudar e ver paisagem, estar na estrada. Não sei , fico azeda, sem paciência com o deslumbramento deste gosto efervescente que as pessoas sentem ao viajar de viajar ou v i a j a r nas viagens dos outros… Fico a pensar, pendurar-se num avião e ou nas estradas neste ir e vir. Parece (pra mim) que as pessoas estão a se esconder dos humores / dos espelhos! E vou e venho a visitar os filhos -, pois é. Ia. Sou eufórica vendo cartões postais… Sei lá! Azedume meu / afinal, não sair de dentro do seu quintal pode ser também esquisitice! Vai entender! Mas depender de viajar para ser feliz, não entendo. Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2024 – Torres / viajando na poltrona da casa! (risos)

(risos) Se a poltrona estiver desocupada – caso contrário, não há viagem mesmo!

pois é

o tempo invisível tão visível e impressionante, o tempo do sono, de respirar e de estar / ficar, por quanto tempo a chuva? ou o vento? ou este sol? o frio e o quente. por quanto tempo a vida? Elizabeth M. B. Mattos – abril de 2024 – Torres

vamos agarrar o riso das lágrimas, vamos caminhar, e ainda tomar banho de mar…

lerda e acomodada

dois adjetivos de mãos dadas resultaram numa pessoa também desorganizada, desfocada…

o entusiasmo se esparrama, deixa o papel cheio de cores e riscas, desconexos, mas o começo. começo e entusiasmo, positivo – como explicar tudo / toda ou alguma coisa? desarrumada a cabeça. como pode ser assim? lerda, acomodada e agitada? agitado motor que faz a carcaça de mexer. um segundo / ou menos ainda de pensamento o dia se arrumaria fluído e eficiente.

esta perturbação que sai pelos poros a transformar a paz em tormento, ou para desorganizar tudo e tanto! Elizabeth M. B. Mattos – abril de 2024 – Torres com um calor estranho voltando? agarrado no dia… que coisa! teremos inverno? talvez este outono se atire numa primavera. será bom?

sempre uma bic por perto…

coisas de Kafka

“Se ela fosse escrever sobre a vida, anotaria apenas pequenas coisas, pois o fato maior, acredita ela, é a felicidade, quando as coisas são mínimas, quando ele amarra os sapatos, quando dorme, quando acaricia o cabelo dela.” Frank Kafka , Diários (1921)

Pode-se muito bem imaginar que o esplendor da vida rodeie tudo, sempre em toda a sua plenitude, mas velado, nas profundezas, invisível, muito distante. No entanto, está lá, sem hostilidade, sem relutância nem surdez. Se o invocarmos com a palavra certa, pelo nome correto, ele atende. Essa é a essência da magia que não cria, mas invoca.

Michael Kumpfmüller – romance – O esplendor da vida – O último amor de Kafka

verdade e fato

Os fatos, e as verdades estão camuflados na pressa de viver, quase cansada, mas resisto… e vou de citação mesmo:

” A verdade filosófica, ao penetrar na praça pública, altera sua natureza e se torna opinião […]. A verdade fatual, ao contrário, relaciona-se sempre com outras pessoas: ela diz respeito a eventos e circunstâncias nas quais muitos são envolvidos; é estabelecida por testemunhas e depende de comprovação; existe apenas na medida em que se fala sobre ela, mesmo quando ocorre no domínio da intimidade. É política por natureza. Fatos e opiniões, embora possam ser mantidos separados, não são antagônicos um ao outro, eles pertencem ao mesmo domínio. Fatos informam opiniões, e as opiniões, inspiradas por diferentes interesses e paixões podem diferir amplamente e ainda serem legítimas no que respeita a à sua verdade fatual. A liberdade de opinião é uma farsa, a não ser que a informação fatual seja garantida e que os próprios fatos não sejam questionados. A verdade fatual informa o pensamento político, exatamente como a verdade racional a especulação filosófica.”(p.295-296) Hannah Arendt Entre o Passado e o Futuro – coleção Perspectiva (debates)

aonde, como, de que jeito eu me encaixo? nos dias de nada dizer, como expectadora, e como impulsiva… logo uma vontade enorme de contar de todas as ondas, as ruas asfaltadas, os pedintes que proliferam… ausências e apagões. Muito a escrever. Elizabeth M. B. Mattos – abril de 2024 – Torres

penso em ti todos os dias, todas horas, compulsiva, entregue, como te dizer?

outra fresta

abri a porta e espiei… pensei ver sol, verde e lilases, mas vi as frutas machucadas, picadas algumas, mas estavam bem machucadas… o estrago me espantou, foi tão de súbito! tem este olhar azedo cercando o mundo, hoje vou ficar vigilante! Vou mesmo. Elizabeth M. B. Mattos – abril de 2024 – Torres

engasgo

a palavra não sai: descrever parece inútil e bobo, assim mesmo, preciso, preciso, preciso voltar a escrever, a escrever e a pensar, derramar e deixar o engasgo passar, terminar. Elizabeth M. B. Mattos – abril de 2024 – Torres

dois limões

Se a janela sorri e o sol entra, eu me acomodo nas inquietudes, ah! escalam como a guerra! Comentar dois vestidos, ou da mousse, dos limões sicilianos parece loucura maior… Neste mundo de hoje esconder a cabeça, fazer roda de histórias parece descabelado. Verdade que o estremecido do mundo, e do Brasil amontoam interrogações. Ufa! Quebrei o meu bloqueio, mas as cartas não saíram do papel…Elizabeth M. B. Mattos – abril de 2024 – Torres