vida e vida e vida

Pedro MOOG

Vida com vida e mais vida a cada olhar e clique. Sei lá o limite do tempo nem o gosto deste passeio/rota/e foto. Importa em cada gesto, a descoberta nova… aquele eu sou / eu posso, talvez eu fique, mas acho que vou… Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2024 – Torres

fica comigo esta noite

Pessoa, um amontoado de energia. O movimento, único e misturado: conjunto, atrapalhado. Escolher / definir complica tudo: quero tudo, quero mais, e de repente, nada. Vai entender! Vontade de voltar a te ver e a conversar. Faço estas reviravoltas no tempo para te reencontrar azul. Magro, agitado, intenso e atrapalhado. Fico a desejar tua aprovação, teus certeiros acertos nas estantes. Tuas surpresas e teus lânguidos encantamentos. Impressiona que passados tantos anos, vinte ou trinta, pensar em ti seja o estímulo para fazer e estar viva. o que fiz depois tem o teu carimbo. Da quieta e gulosa, grande apreciadora de bolachas, eu me fiz atenta, professora, e decidida. Se posso te contar o que sempre intuíste, viraste as costas, e a prateleira ficou cheia de pacotes daquelas recheadas tentações. Posso negar. Posso me fazer de apaixonada, posso abrir janelas e voltar ao banho de mar, posso escutar as canções francesas e posso ter um cachorro enroscado nas minhas saias, não, não faria nada disso se… Vergonha de confessar?, não, orgulho de ter vivido cada pedacinho daquela história que desenhou a Beth que eu sou, deu colorido, e ensinou a pensar, a ter voz… Tem coisas que sou e sou e sou, leitora, a senhora dos livros empilhados, das estantes abarrotadas, das leituras desordenadas e da preguiça. Esta era e segue sendo. Amiga de Iberê, bom olhar para a pintura, social e alegre. Professora. Não no sentido de conhecimentos e filosofias, mas a intermediação entre o gosto de apreender e a discussão dos não sei atrelados ao posso saber… Sigo não gostando dos aeroportos como tu gostas (vivias numa mala, indo e vindo), nem gosto de ir ali e aqui, bordejar. Estico a compreensão aos que gostam de colecionar cartões postais, fotos e descobertas. Credo! Emburrada pessoa que não quer o novo! Burramente atolado nas linhas. Canhota. Sonhos amarrados… Presos em certezas adolescentes. Palavra boa a que usamos para definir este brilho: adolescência. Ah! Pois é magro, acordei azul, querendo azul, saudosa de azul. Sem vergonha, sem vergonha de sentir, e sem vergonha do danado desejo em idade tão avançada! Um beijo. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2024 – Torres.

P.S. Saudade do meu amigo Danúbio Gonçalves – ia me visitar, olhávamos o mar ali do segundo andar, e ele insistia em criticar a minha ‘mesmice’ no tema meloso e arrastado: falta de atitude. Eu fazia a limonada, e, teimosa, resista a qualquer desvio… Hoje resisto aos novos amigos, ao sonoro e festivo movimento das visitas, e tenho mais preguiça do que antes. A sala de aula, no meu caso (manhã tarde e noite) energiza, polariza, mas depois vem um cansaço sem vergonha. Mas queria tudo de novo, tudo outra vez, eu nasci para a sala de aula… Sou aluna todos os dias, eu gosto de dividir as beiradas das descobertas. E queria o amor todos os dias. Eu me enrolei nos amados amores até ser sacudida pela morte do Gustavo! Foi tão cruel aquilo! Meu querido, nós ainda estamos vivos. Estaremos sempre? Não é?

“o que houve, por que está demorando tanto?,”

Claro, eu me ‘arrasto’ dentro de certas / indefinidas leituras…, não sei explicar muito o processo, nem pouco, mas vou assim, a tatear, depois, o mapa… O que se faz / o que eu fiz para estar assim tão entrelinhas, tão reticências! Porque todo o processo necessita de mergulho, de grampos, de conversas enroladas num agora… E o agora é tão, muito, bastante cheio de entrar e sair. O que eu quero? Dar pulinhos de alegria, ter um corpo definido, as estantes cheias, e os discos rodando… Quero que me respondas, não vais me abraçar? Não tenho o menor direto de me meter, ou cutucar, ou inventar histórias que se misturam nos meus / teus sonhos, nas minhas audácias, e …. Os textos se misturam, e esta rodada de linhas que são as tuas, e outras tantas que são as minhas não resolvem… leias isso:

” ele escreveu, apenas umas palavras, umas poucas palavras, simples, pequenas, nada de grandiosas, mas aquilo era o suficiente, mais não era preciso, e ela respondeu, claro que ela respondeu, e claro que era um pouco doloroso pensar nas cartas que ela tinha enviado, ela pensa, porque mesmo que ele não insinuasse palavras grandiosas, ela insinuava, ela escrevia palavras grandiosas, mas ela não deve pensar naquilo, porque se havia uma coisa da qual ele não gostava era de palavras grandiosas, que serviam apenas para mentir e ocultar, as palavras grandiosas, elas não permitiam que o que estava lá existisse e vivesse, mas levavam tudo para uma coisa que se pretendia grandiosa, era assim que ele pensava, e era assim que ele era, ele gostava das coisas que não se pretendiam grandiosas, ela pensa, na vida, em tudo, e assim era ele também com o barco dele, um barquinho de madeira, um barquinho a remo, construído por aquele homem, Johannes de Vika, esse era o nome dele”[…]

(p.65,66,67) Jon Fosse –É a Ales

Sou eu aqui querendo saber o que passou?, do domingo e do dia de ontem, o de hoje. O que passou? Não. Não quero saber nada. Vou mais é deslizar…Eu volto. Suponho que não voltas / estás certo, nada grandioso… Elizabeth M. B. Mattos – fevereiro de 2024 – Torres

o perfeito chega e me sacode

“Crueldade inominável é não se perdoar de fatos do passado, fatos que as vezes beiraram o período lindeiro a algum tipo de dinossauros (como perambulavam em Torres, nos 60s e 70s), assumindo que tais fatos mudaram o curso da vida. Sim, decisões mudam o curso da vida, a qualquer tempo.

Aquele noivado rompido na véspera, por razões tolas, com a melhor mulher do universo. Ah … como teria sido tudo diferente. Fazem quase 60 anos e continua martelando. Ora …

2 anos. 10 anos. Faz uma diferença enorme. Tão grande que deve ser foco o hoje. As decisões do hoje serão as responsáveis pelos cenários do amanhã. Será que serão só mais 2 anos? ou 10 anos? mais ou menos?

A consciência do que o hoje é um presente, preparado pelas decisões do ontem, faz com que os seres humanos devam impulsionar-se para sair rápido da cama e viver o presente (sentido figurado ou não) intensamente. 

Perder neurônios, já escassos, para rever a decisão da ruptura daquele noivado,  não o restabelecerá.

A energia do ser humano deve estar focada naquilo que ele controla … os outros, em roda, devem aprender que nesta quadra da vida “dois pingos” na camisa são feios, mas não são desastrosos. O conceito faz o desastre, não os pingos. Se o conceito persistir … dane-se. 

O maior conceito é de que daqui há muitos anos (oxalá) não sejam as mesmas reclamações, porque faltaram decisões no hoje. Os mergulhos nas mazelas dinossáuricas embaçam o olhar. Não é não, para impedir que o incontrolável assuma o comando. É complicado, mas possível.

Cães serão sempre aqueles que farão xixi nos postes.

Hoje. beijo”

Outro beijo. Os beijos todos que não consigo dar porque estás longe. Os resmungos constroem…, eu acho, mas enjoam, é claro. Vou abrir a porta e vou, vou, vou… Sei lá! Esta mania, este temperamento costurado de retalhos vitimizados… Claro! Quando cito a geografia do tempo não lamento o fato, a liberdade, o depois… Ah! Tu sabes que não lamento, intimamente, tu sabes porque eu me esbaldei, usufrui e dancei, consegui cantar e ver o invisível daquelas cidades em que vivi… e do mundo aberto / livre que pude ter / ainda tenho. Tu sabes. Faço o que me permitido, e muito muito muito do proibido, com máscara ou sem máscara. Teimosa! Teimoso! Eu te gosto. Beijo. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2024

Tu és impecável, todas as tuas cartas são azuis, não, são violetas, não, são dentro do cinza, bancas… tuas cartas são… Tuas. Beijo

teia de aranha

Teia de aranha segura o voo da estabanada. Analogia com o meu pensar, estou travada, enredada… A desviar. Escrever penoso. Vulgaridade prevalece. “A democracia, não permitindo mais do que uma série entre os homens, prejudicou a tudo que não é de primeira ordem. Como sem ultraje não podemos mais julgar os homens dentro da sua classe, são eles comparados unicamente às sumidades e parecem mais medíocres, mais feios, mais abortados do que antes. Se o igualitarismo eleva virtualmente a média, degrada realmente os dezenove vigésimos dos indivíduos abaixo de sua situação anterior. Progresso jurídico, retrocesso estético. Por isso veem os artistas multiplicar-se a sua besta negra; o burguês, o filisteu, o macaqueador do homem de gosto, o ignaro presunçoso, o pedante que se faz de entendido, o imbecil que se julga igual ao inteligente.” (p.247) Heri-Frédérique Amiel – Diário Íntimo

burguês – Na Idade Média – natural ou habitante livre de um burgo que gozava de certos privilégios / vivia fora da cidade fortificada sendo considerado cidadão livre

filisteu – relativo e/ou povo não semita e inimigo dos hebreus que habitava a Palestina desde o século XII – na Bíblia os filisteus são descritos como arqui-inimigos dos israelitas – um povo estrangeiro que veio do oeste e se estabeleceu em cinco cidades: ASDODE, ASCALÃO, ECROM, GAZA e GATE (Google)

E deveria seguir estudando, entendendo a geografia que define a história, deveria seguir estudando… Acrescentando ventos atuais a loucura das estratégias: pretensões de poder / mando. O louco desejo de enriquecer / do fácil e do bom. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2024 – Torres

Uauuuu! burguês filisteu macaqueado ignaro presunçoso pedante imbecil e inteligente

cheiro de jasmim na chuva

A chuva e as janelas escancaradas: cheiro do jasmim. Aquele prazer acorda faceiro: madrugada com violão e voz, bem baixinho, porque é cedo. Então, que bom!, súbito uma alegria fantasiada de frescor se derrama… Posso sentir o silêncio cheio. Vontade, súbita, de sacudir o corpo: eu danço. Leio sinais e vejo a lua… Não vai mais chover, não vai mais haver aquela conversa tamborilada da madrugada. Estou transbordando… transbordo curiosa alegria. Elizabeth M. B. Mattos – Torres

mudar a vida

mudar a vida significa, exatamente, o quê? caleidoscópio / girar um pouco mais devagar, olhar /olhar e olhar… e agarrar o recorte, porque estou na mesma casa, sentada na mesma cadeira, cozinho nas mesmas panelas, aceito os mesmos medos, e sonho, sonho os mesmos sonhos… o que não consigo segurar / agarrar?

o tempo

o tempo que foi ontem. nem muito o de hoje que me deixa mareada, insone. tropeço rumo para a noite. a noite anuncia o amanhã. ah! dormir e acordar… não é uma maravilha? Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2024 – Torres

JMZMC és tu?

Foto clássica: Pedro Moog

Pitangueira florida / exuberante. Outra triste… Um verão quente entre ensolarado e sombrio, mas quente. E os dias se empurram, ou se aquietam na esquisitice do dito temperamento… O que devo entender?

Recebi notícias tuas depois de bom silêncio, ou de pausa necessária, ou sei lá, algum motivo que não explica o sentimento, nem justificativa o espanto, nem o calor. Estes acidentes internos emocionais, suponho (não teus, mas meus) descrevem o envelhecimento, a rabugice e neurastenia do tempo de aceitar, escutar, silenciar e entender… E nunca esquecer. Entender exatamente o quê não sei explicar, então, não escrevo… Nem espero. O que acontece do outro lado importa, mas o fuxico do tempo por aqui atrapalha leitura, escrita, e… Pensar em ti, ou em mim, ou pensar na imaginação. Conversa com a paciência, o tempo. Interrompe a vida.

Estou sempre pensando que a pontuação é longa, chata, explicativa e destemperada. De repente (coisa de minuto, de agora) a realidade, o fato, ou a lógica com acento de preponderância… O que será que eu quero dizer com isso? Sou assim, enroscada em explicações esquisitas… O sentimento brota como erva daninha e ‘se agarra’ pra esconder ou pra ser arrancado… Podar, ou florear: um fato / um espanto preciso explode: medo. Ando com medo do passo seguinte, de dobrar a esquina, de falar o que não devo ou calar o que importa, usar os pincéis errados e as tintas sem misturas. Esquecer o importante. Estas coisas de amor e sentimento preguiçoso complica, ou reduz tanto o que importa quanto agiganta… Preguiça e urgência. As pessoas atendem / escutam as vozes próximas, tropeçam nos próprios sustos, e se alegram com margaridas, surpreendentemente. As flores que escolheste chegaram ontem com tua carta, bem como seria há vinte anos passados, atrás… Esconderam teus beijos, tua saudade, mas expuseram / escancararam / esbanjam / evidenciam o desejo, a volúpia de ser, por um momento, apenas tu e eu, curados da curiosidade amorosa, sem desafios e entregues a curiosidade do olhar desnudo. Afinal, viver é assim mesmo, surpreender. Se nos é dada a chance de sobreviver ao susto da paixão e mergulhar no real, por que não aceitar? Eu aceito. Tu brindas / ou brincas, e, por duas horas esquecemos as bordas lógicas da vida. Por que respiramos? Um beijo. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2024 – Torres

organizar “a bolha”

Pensar em ti todos os dias. Pensar em ti sem invadir a tua bolha: as bolhas soltas a se desejarem… Tudo imaginação – pedacinhos congelados de meninice, não somos nós como somos hoje, pessoas. Estamos na praia, jogando tênis na areia, enfrentando a caminhada e o sol manso daqueles tempos: vestidos de meninos espertos..

Não pensar em ti porque não faz sentido nenhum amontoar desordem e expectativa. Aliás, será o susto do susto se te encontrar ou ficar perto de acontecer… Fechar as janelas e portas: escrever desenfreada porque a tensão se acomoda nas vírgulas. Depois, enfiar a cabeça nos livros escolhidos com certa lógica, não brincar de página em página, ou sacudir os pés para não ter câimbras… Colocar um ponto final. Escutar todos os discos da pilha da esquerda. E não falar. Conversar parece ser o exercício do dia, esgotar as forças… Preciso estar revigorada para dizer bom dia, passar um café, comer uma maçã. Lembrei que colocas as maçãs no forno. Ficam gostosas e perfumam a casa. Casa da tua casa inventada. Das escadas que nunca terminam, dos livros ordenados, a maior biblioteca particular que conheço. Sofás que são camas, não são camas, mas tem nome e sobrenome, são sofás. E o violão importa. A música importa tanto que tudo o mais diminui atrás das cordas. O que estou fazendo? Não sei. Quem és? Não sei. Elizabeth M. B. Mattos – fevereiro de 2024 – Torres

bacia

Água, sabão em pó ou líquido, a roupa, os dedos a esfregar. Tempo e eficiência. Sol. Houve o tempo de quarar a roupa… E do anil. O hino, o tambor e a voz. Tempo fácil de fazer acontecer. De dar passos. Com a cascata tão forte não escuto as vozes, e até os pensamentos desaparecem… É o silêncio, ou voz distante… Peço socorro, ou dou socorro?! muito estranho. O danado do tempo leva a geografia para o espaço. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2024 – Torres