Quando outubro termina e novembro espia já estou a me preparar para o veraneio oficial, férias beira mar. O verão se exibe, exames terminam, despedidas e expectativa de reencontros…
Quase sempre chove neste feriado: chuva das lágrimas não explicadas.
Posso ir duas ou três vezes até o rio Mampituba. Sonhos, pastéis e filé com fritas no Hotel Farol. Viagem longa, estrada lotada. Milho verde, abacaxi, feijão de Terra de Areia. Livros selecionados. A casa estará deserta e fresca cheirando a cravo. Realidade colorida desenhada com listas, ora largas ora estreitas: esquecer / renegar/ apagar / abraçar / voltar e namorar. É possível arrastar o amarelo num esforço valente, mas o vermelho puxa meus cabelos, e faz doer a cabeça. Fico imóvel para que todas as cores se misturem e a vida vivível se organize. Não distribuir perdões nem afagos. Reservas e coragem armazenados. Liberdade tem gosto de anis, hortelã e pitanga. Quando demoro para voltar é porque estou a me reconstruir num vagar cauteloso: dou corda na caixa de música, e escuto, repetidas vezes, o som mágico da infância que se esconde na caixa de couro e ouro presenteada no aniversário de menina pelas amigas chinesas. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2020 – Torres dentro da memória longa, perfumada e bonita da rua Vitor Hugo, 229 – Petrópolis.


