Dores. Estranho movimento: acelerar, interromper. Problema para respirar, incômodo, dor, e ansiedade se misturam. Cheguei cansada. Costas partidas. Dor. Bastante dor. Mais à esquerda. Aperta. Aborrece. Dificuldade para dormir. Incômodo. Alívio depois do diagnóstico. Remédio certo o aperto é contornável.
O corpo pesa e pende para o lado esquerdo. Embora as persianas estejam fechadas não consigo me isolar. Vento, mormaço, movimento contínuo de carros. A luminosidade oblíqua explica: estou em casa. Tudo é bem-vindo, estou em casa. Busco intimidade comigo mesma, serenidade. Necessito do espaço, deste silêncio sem dor. Maldita dor!
Que acúmulo de objetos! O excesso, desmedida importância. Desqualificada exaustão. Amolecimento. Incerteza pestilenta. Sentimentos batidos no centrifugador, picados. Confusos. Medo de morrer. A dor sinaliza a chegada, o ponto. Limitado caminho. Medo personificado, vivo. Um envelope com surpreendente conteúdo: o que deveríamos priorizar nesta vida, neste momento? O próprio olhar, a mão estendida? Como expressar, colocar em palavras aquilo que nos parece o melhor, ou interferir no injusto, no atropelado pela ansiedade de cumprir, experimentar? Toda observação é descabida, descabelada, sem propósito. A cada escolha uma avalanche de cor, sabor, e obviedades. Sinalizadores inúteis. Por que não poderíamos parar de provar? A lágrima desce na emoção da felicidade, ou como válvula. Pressão maior, descuido, intimidade que se solta? Não sei. Um só dia com as características de mês, ou ano. Resultados imperfeitos num tempo que se propõe ideal.
Histórias são repetições: o véu, as alianças, as cadeiras, o sino, as pessoas, o deus, a confissão, a incerteza, o amigo, a pessoa, a delicadeza das flores, exuberância, volta, fotos: excesso de fotos que se cristalizam. Identificam? Fotos para o permanente, imortalidade. Alma do momento. Sopro da felicidade. Foto que foca o espaço entre os dedos. O modelo. O suspiro. Não sei. A revelação aberta das imperfeições que se querem perfeitas. O porta retrato, a poeira do tempo, o abraço, o copo, a garrafa, os pratos. O doce. O movimento da luz. A música. A dança. Já o corpo se apresenta inteiro, doído, apertado, mas inteiro. O sono, a cama. Travesseiros, cheiro, leveza, peso, os carros acelerando, freando, o som da televisão. Desconforto. Felicidade? Estou viva. É o começo que assinala o fim. O concluído. A exuberância da voz nos abraços, no encontro com gosto de café, de laranja, de pão fresco, ovos, o espaço. O conforto do carro, velocidade, chuva e música. Outras histórias. Saudade. Água, luz e sono. Muito sono. Elizabeth M.B. Mattos – 2014 – entre Porto Alegre e Torres