Setenta anos

Estes setenta anos apontam estranhados. Será que vou crescer? E já me visto de princesa, remexo nos velhos discos de vinil: Jacques Brel, Gainsbour, Ferrat, Sacha Distel , Catherine Sauvage,  Georges Brassens, Léo Ferré, Françoise Hardy,  e a voz de Aznavour, Piaf. E todos os que esqueci. Já estou no teclado a escrever, escrevendo, escrevendo, e escrevendo. Ouço o meu francês, e penso no meu norueguês. Levanto a cabeça. Não sei por onde começar. A leitura de Karl Ove me desafia, alucina, e já vai terminar. Fico então uma semana, dez dias para ler oito páginas…

Adormeço no sonho de escrever. E os pincéis, a tela em branco, ou o desenho rabiscado no caderno… A fotografia. Atrás de tudo está o olhar. Depois cheiro, tato, ouvido, gosto e a vontade. Atmosfera. A vontade é que precisa dominar. Existe um trilho amigo, existe a inquietude esquisita. Aquela alegria quente desta primavera, quase verão que se anuncia em agosto… Logo será setembro. E a vontade tímida tropeça, mas segue. Vamos escutar os chansonniers. Estou tentando voltar para a terra e me aquietar. Estende tua mão.  Hoje, Ônix e eu completamos duas lagoas ainda de manhã bem cedo. Pode não ser muito, mas para nós, caminhar, ler, e escrever, ouvir música, caminhar: o dia. Elizabeth M.B. Mattos –  agosto  – 2016 – Torres

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A Ônix – Foto de Joana Vianna Moog

Fazer coisas é escrever?

Um sábado com feira livre do outro lado da lagoa. Estou com o verde da salada, espinafre, brócolis, feijão. As mãos com aquele cheiro doce das mexericas, bergamotas, tangerinas. Não comprei flores. Tenho os olhos molhados de expectativa… Quero dizer, mas não digo. Escrever pode ser confessar, ou é só conversa de dizer? Acho que a chuva chega hoje. Esquentou. Parece verão nesta primavera, ou ainda é inverno: estações misturadas.

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Não terminei de te escrever, já é domingo. Do sol, o dia se acinzenta, quente. Será que ainda chove?

Sigo lendo o norueguês, não é apenas o texto, tampouco o que ele conta/diz/explica que importa, mas o rastro das leituras. Tão nórdicas! Impossíveis para mim! A mágica prende. Como conseguiu “agarrar” a narrativa, esta autobiografia criança que adolesce, e se joga numa paternidade festiva no meio de amor tempestuoso… Noutro tema, outro livro, não sei se teria me posto nesta agitação. Este último volume, aliás, o quarto (ainda faltam dois, e não li Proust inteiro, e não li Musil, nem Broch)), ele descreve como foi ser professor aos dezoito anos. (E já me encontrei no mote: por que fui ser professora, foi em sala de aula que eu me fiz inteira? Vou escrever sobre isso.)  Aqueles vilarejos, montanhas, fiordes, mar!  E a febre da idade. E eu aqui na beira da minha lagoa, sentindo o cheiro do mar, querendo estar comigo mesma, e neste turbilhão. Os meus fiordes, as minhas montanhas, o meu tédio, a minha solidão, as minhas angustias, onde estão plantadas? Como posso ficar assim tanto tempo exposta ao vento, ao perfume, aos desejos sem conseguir escrever? Sonhos. Passos hesitantes. Não é o autor que importa, mas a narrativa, não é a narrativa, mas a vontade que fico de escrever. Prazer completo, sensual. E o tempo me afoga, mas liberta porque agora posso, tenho todas as horas, o dia inteiro. Se digo qualquer coisa, não importa, apenas escrevo. Vou logo fechando as janelas, desligando os telefones. Interrompo a música, e me concentro no dia. Mas o dia está cheio de ruídos, latidos, vozes, sombras. Como é complicado se isolar! Uma buzina, o alarme daquela casa… A fome, a sede. E logo um certo cansaço pesado. Uma curiosidade idiota guardada naquela caixa. Estou velha! Que chato! E estas questões de quanto mais obrigações mais energia voltam a me impacientar. Lembro do meu quarto no Rio de Janeiro. O chão cheio de livros para serem lidos, e eram lidos. Insônia do prazer. Os chansonniers. Os meus discos. Estudar e ser mãe. Audácia e entusiasmo. As crianças? Sempre estive com os filhos a minha volta. Risadas, brincadeiras, conversas preguiçosas neste mundo silencioso e confortável, cariocando. Reverencio a vida e a sorte. Muito estranho quando o último filho saiu de casa para casar, viajar, ou viver a própria vida. Estar completamente sozinha aconteceu tarde. A primeira caixa materna, a caixa família, outra caixa paterna, outra caixa de dependência, a caixa dos estudos, a caixa da obediência, não esquecer a caixa dos maridos, dos namorados. Das escolas, como professora. A caixa dos amigos, a mais confortável. Desejei sair destas caixas todas para ter a minha própria solidão criativa, de gente grande. Este desejo de eu comigo desde que me entendo como gente, mas só aconteceu agora, tão tarde, mas deve ser cedo…. Não vou contar anos, nem horas, mas me debruçar nos livros possíveis, muitos ao mesmo tempo. Em olhares, no silêncio. E recomeço. Começo e respiro agitada. Medo do tempo, da doença, da morte, e deste cheiro de vida que todos os dias escapa, pode escapar…, mas está aqui nas minhas mãos. Tenho que aproveitar. Elizabeth M. B. Mattos –  agosto de 2016 – Torres

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Vou terminar de pensar

Penso que és menina porque temos quarenta anos de diferença. Quarenta anos! Tanto! É a metade da vida.  É tanto e sendo assim um nada. Estás distante, do outro lado do mundo, na outra história. São tantas para se contar! Não aquela que te deixei sozinha, e fiquei sozinha no hospital. Nem a do arroz integral. Não aquela em que tapavas a boca, os olhos e ficávamos apertadas uma na outra. Não aquela de te deixar em casa. Não aquela de te levar para casa. De gritar. De ficar. De pegar a estrada. E de mudar tudo. Eu te imagino sorrindo, tomando sorvete, suando e chorando. Outra história com muito sorvete.

Lágrimas brotam na tristeza isolada, pequena, picada, diária. Nos teus olhos, nos meus olhos. Lágrimas da luta, da superação, e do esforço para não fazer nenhuma concessão. Procuras ilusão, amor e o abraço, o beijo. A mão pousada no braço. Temos vivido o espanto, minha menina, e a sombra, a ilusão. Então, olho dentro deste teu olho de Anita e confesso: a estante de livros, a música, os pratos empilhados, as fotos no papel, e teus escritos, as flores daquele vaso, os tecidos empilhados são o mundo. O teu e o meu misturados na história desta ficção… E como posso te explicar?  É a procura do sólido, da certeza, mas tudo se desfaz neste tempo que não é o tempo, mas ilusão de que estamos, as duas aqui, agora, juntas. Buscas desenfreadas, desnecessárias.  Eu te escrevo e vejo que te remexes na cama insone. E bebes o último copo de vinho, e toda a água da jarra … este agora é real. Se eu pudesse te dizer que não se chega, e nem importa chegar! Passamos. É a cadeira, a mesa, o armário, esta mistura de lá e cá que faz a diferença e fica real. Se eu pudesse te contar, com detalhes, que todos os lugares são os mesmos …  E nossos! E não são nada, apenas ilusão. Que tu és inquieta, sonhadora, e triste como eu. E somos felizes. Não tem medida, somos nós, assim, alegres e felizes. Vou terminar de ler. Vou terminar de pensar.

Consegui um jardineiro para o meu canteiro. Poda – se as buganvílias, coloca-se o novo gramado, talvez um jasmineiro. Mas é só um canteiro suspenso… penso em gerânios, nas azaleias. Ou apenas o muro verde? Poderia ser azul, cor de rosa, ou amarelo? O sol chega sempre. Não comprei os pincéis, nem tinta, nem papel. Vou desenhando assim, só na imaginação.

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Lugar nenhum

Recomeço a escrever a mesma coisa que já não é … perco o fio da meada, a vontade, o assunto. Os textos somem, desaparecem. […] eu me chamo Elizabeth, como se escreve o nome da rainha da Inglaterra, da atriz americana. Por que não podia ser Maria, Ana, Lucia, ou Elisa, talvez Izabel? Os nomes carregam histórias, não nascem vazios. Eu me chamo Elizabeth e parece outra pessoa, não eu. Não é o nome que me aborrece, sou eu mesma aborrecida por dentro. O tempo se esgota, desliza. Tantas vezes enfiada nas caixas, tantas vezes procurando o lugar, o esconderijo, a caverna. Parece o bom quando chego. Limpo, lustro, arrumo, lavo, seco. Esfrego. Despejo toda energia. Brota vontade de ficar, de ficar para sempre, mas nunca é para sempre … tão absurdamente temporária a vida. Faz cara de coisa séria, se engala no olhar, abre possibilidade, e depois se arrepia, congela, se anula… E não é mais o meu espaço. Recolho meia dúzia de fotos, as caixas cheias de papel. Os livros, os copos, deixo as flores. E já estou em lugar nenhum.

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Fazer importa

Levanto pouco antes das oito horas da manhã, e dou uma volta curta com a Ônix.  Faço o café. Não está tão frio… Apenas úmido. Sairemos mais uma vez, a volta completa na lagoa. Hoje vou arrumar a roupa do armário, e as gavetas. Viabilizar espaços, e jogar papel fora, ordenar. Selecionar livros, descartar outros. Já separei caixas, sacos plásticos. Um pano… Começo a empilhar livros por autores, no chão. E o ritmo me parece bom. De repente, interrompo tudo para escolher feijão. Colocar de molho. E fazer isso me surpreende. Resolvo escrever. Não basta abrir o livro, e ficar ali lendo, curiosando, folheando, mas também isso? Escolher feijão. E já me volto para a sacada, o jardim: podar buganvílias, colocar grama nova… Cavar… Pensar nas varetas de bambu… E já estou fazendo outras mil pequenas coisas sem fazer nada. Esta incapacidade de concentração,sem objetivo, me deixa a florir sem flor, fazer sem chegar. Vou lavar a louça, e tomar café. Mas estou a repetir feito mantra “hoje, as roupas, ao menos, as roupas”…

A mensagem eletrônica da Joana me mobilizou, remexeu comigo. Escreveu sobre o tempo sem tempo, da exposição, da vida, do acúmulo. Do dividir, de escutar, e de amar. Uma carta. Ninguém usa o correio. Deveríamos  usar. Há tanto prazer em abrir o envelope, segurar o papel! E depois esta foto! Esta foto é especial: ainda vou aprender a colorir, e desenhar. Pinceladas com mãos  de artista, firmes. E seguir fazendo, e também sonhando contigo meu amigo amado.

A pintora da foto era a minha avó Zenith Quintão que, infelizmente, faleceu em setembro de 2014, pouco antes de completar 99 anos. Até os últimos dias, frequentava aulas de pintura e produzia trabalhos assim, firmes e belos.

Depoimento do neto Armando Quintão Bello

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No meu braço, tua mão

Sonhei contigo esta noite, um sonho cheio de gente, mas era tua mão que estava no meu braço. Estar em casa e ao mesmo tempo longe de casa. Estar em alerta. Estar em exposição parecia, ou era pesado. Ou como desbravar. Chegar. Não sei explicar. Todos estavam lá, os da família, pais, filhos. O lugar era em casa, mas também era fora desconhecido grande e vazio.  Acho que morar, habitar é sempre pequeno.  A posse. Possuir é intimo, questão de posse.  Por isso pessoal, inexplicável. Pode – se possuir o mundo, ou estar em lugar nenhum tendo vivido sempre na mesma casa. Estar a caminho… Sonho de sensações. E tu, sentado. Sim, estavas numa poltrona como se bem me lembro. Eu apoiada nas costas desta cadeira enquanto observava a sala, o espaço. Olhava as pessoas se agitando, atônita. E depois a sensação de calor: senti tua mão no meu braço. Afeto. Cumplicidade. Era tua mão no meu braço. O melhor sentimento.  E foi paz chegando confiança. Eu te olhei. Desviaste o olhar, mas a tua mão ficou no meu braço. De costas um para o outro. Mas tua mão no meu braço. Alegria, confortavelmente instalada. Um sonho…

Ganhamos no vôlei, duríssimo jogo. Merecida prata da Itália, e também o bronze americano, mas ganhamos o ouro. Choro, emoção. A superação, a juventude. Ganhar, vencer, conseguir chegar lá… a vitória. E nos emocionamos todos.  Inexplicavelmente, até as lágrimas.  Guerreiros são eles, mas para nós, expectadores, em determinado momento, tão perto deles, somos eles, e guerreiros somos nós. É o inteiro. O motivo forte, interno, este alcance… Não sei. É Brasil. Acontece. Então choramos. Elizabeth M.B. Mattos

Pequenas flores brancas

Chove sol, chove calor. Já deves ter chegado a Porto Alegre. Embora se tenha passado um par de dias juntas, pouco foi dito. As raivas de ontem se desmancham nos beijos recheados de olhares mansos. Há saudade na tua presença fugidia.  Momento de alívio quando adormeces vestida; posso afrouxar tua roupa, fechar as cortinas, colocar outro travesseiro para melhor apoiar teu corpo pequeno. Silêncio conciliador neste curto espaço de tempo… Entregue, suspiro no alívio, como se toda tensão pudesse desaparecer. Transformar erros em acertos. Poderiam as queixas se volatizar? A beleza do corpo adormecido transforma o quarto. As cortinas estufam ao vento. E a floração do jasmim perfuma a sala.

O vestido que cobre teu corpo está colado na tua pele suada. A perturbação desta contemplação tira o ar, e sinto um enjoo doce e quente desta floração tão próxima da janela. Mastigo as pequenas flores brancas… Minhas narinas abrem e fecham, tenho as mãos molhadas. Adormeço sentada. E a tarde vai esfriando o dia. A chuva fica mais forte. Venta. O verão surpreende.

 

Durante o tempo em que estivemos juntas imaginei cada palavra que poderia dizer, pensei o discurso, imaginei o pretexto para dizer o que me afligia. Separei qualidades e defeitos.  Mas confundi amor com responsabilidade. Felicidade com abnegação. Elaborei, mentalmente, o que escreveria reconsiderando a dificuldade das longas, retardatárias, ou invasivas cartas. Repassei leituras adequadas, procurei autores que auxiliassem apoiando minha advertência, mas não consegui escrever. Nem dizer.  Não consigo. Sempre adormeço ao teu lado…Elizabeth M.B. Mattos – 2016 – Porto Alegre

INVERTIDO

O invertido também é verdade, o teu traçado de roteiro aconteceu dentro do meu livro. A experiência da narrativa pode ser maior… Pode? Acho que pode. Uma rotina de deslocamento diferente de atravessar a rua, olhar e ou falar com pessoas de carne e osso. Beber chá ou café com amigos, olhar o verde, as cores, conhecer, cheirar, tocar, tudo diferente… Esta coisa do olhar, do mergulho tem… Tem coisas que não podemos explicar com palavras, é verdade, sentimos. Daquele jeito esquisito que sei que estás atrapalhado com uma coisa sem controle, sobrecarregado. E depois sei que estás frente à televisão entretido com a estória da história. Sei que não gostas tanto assim de frutas e legumes. E não sei nada. Invento tudo. Apenas sei que estás feliz, ou quando não estás. Mesmo longe, eu sei.  Palavras escritas. O escrito pode ter um viés transgressor fantasioso. Leitura tem um contra ataque. Sofro todos. E agora fico a pensar que nunca estaremos prontos para ser felizes, ou completos. Estamos presos na construção: operários da catedral… Não adianta projetar, desenhar, idear se a construção não acontece, em se tratando de catedrais… Não sei. Também sei que qualquer sonho vale, ou não sei? A expressão não é território real? Quero aquela tela, escuto a música, visto a roupa, mergulho no livro. Entro no fantástico mundo das maravilhas. E em cada fazer está pendurada a inquietude, insegurança, angústia.  O que me revela veladamente porque não encontro o lugar para trabalhar, escrever, e me acomodar. Nem silêncio, nem a luz certa. Reclamo da sorte, e agradeço a sorte. Incoerência completa. É preciso muita sintonia pra que a verdade funcione nas palavras, na escrita, nas entrelinhas, no silêncio.  Sabe como me descubro? Vaidosa, Susceptível. E me faço de corajosa, e me ponho nua na calçada, para surpresa de todos. E se comentam, acho engraçado, ninguém vê a carapaça, o meu escamoteado jeito de ser, como se a exposição, fosse ela mesma a minha caverna. A minha escura e real morada. A proteção pode ser exposição.  Com dureza Sábato escreve:

“Lamentavelmente, nestes tempos em que a palavra perdeu seu valor, também a arte se prostituiu, e a escritura reduziu-se a um ato de valor similar ao de imprimir papel-moeda. Como já disse em O escritor e seus Fantasmas ‘Ficam poucos que contam: aqueles que sentem a necessidade obscura mas obsessiva de testemunhar seu drama, sua desventura, sua solidão. São as testemunhas, os mártires de uma época’ Estão destinados a uma missão superior, não pertencem a igrejinha literária nem cenáculo e, por isso, não sua finalidade tranquilizar indivíduos confinados em sacristias, e sim romper todas as conveniências, devolvendo-nos o sentido de nossa trágica condição humana. Nesta vocação, muitos foram levados à loucura, às drogas ou a tantas outras formas de suicídio. […] Van Gohg morreu suicidado por uma sociedade que não podia continuar suportando suas terríveis revelações. Como duvidar que Artaud estava também falando de si mesmo; em uma carta a seu médico, depois de terríveis eletrochoques, declarou sentir-se ‘tratado como um alienado e maltratado em razão de um gesto, de uma atitude, de uma maneira de falar e de pensar que foram na vida as de um homem de teatro, do poeta e do escritor que eu era. ‘Acabou morrendo como um cão; o jardineiro encontrou-o uma manhã, sentado em sua cama com um sapato na mão. Nunca saberemos aonde ele se dirigia nesse dia da sua última solidão.”(p.78-79)  Antes do Fim  Memórias, Ernesto Sábato

 

Então, na minha completa nudez eu me pergunto. E eu? Não sei, mas sou obsessiva. Isso deve contar. Caminho, caminho na angústia, e vou registrando. Teclando, dizendo. Deve ser assim que ando no encontro com Karl Ove Knausgård. Estranha sensação… Mistura encantamento, não parei de ler, e decepção porque não tem espetacular, nem porão, nem sótão, o livro é de um hoje inquietante, casa plana. Noruega e Suécia se contrapõem. Pano de fundo. Apoio e espelho da relação marido e mulher. É minuciosa a diferença de países. E de longe nos parecem tão iguais! Não são. O que me atrai? A facilidade com que conseguiu colorir minúcias e transformou tudo em biografia.  O tanto que ele, obsessivamente, se coloca na palavra. E a palavra descreve banalidades ao mesmo tempo em que rasga a alma dele. Vai deixando o rastro das leituras, da arte, da dor, do difícil. Obsessivo sim, e tão comum! E eu me agito. E gosto deste perdido achado. Deprimido. Como me descartar? Há que ser/ter a certeza que mesmo sem ser, somos. Escrever é transgressão. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2016 – Porto Alegre

Incompleta

A voz da  mãe e o olhar do pai.

Não passei do portão…

Demoro tanto para ficar gente grande!

Ainda estou  a crescer …

 

”   […] o passado era apenas um dos vários futuros possíveis.

Não era o passado que deveria ser evitado e ignorado, mas apenas a estagnação. O mesmo valia em relação ao presente. E quando o movimento que a arte cultivava tornava-se estagnado chegava o momento de evitá -la e ignorá -la. Não porque fosse moderna e estivesse ligada à época em que vivemos, mas porque não se movimentava e não passava de uma coisa morta.” (p.387) Karl Ove

 

 

 

Hoje não posso

Leitura solitária. Difícil. Divertimento, passatempo, vício, depois a longa e frutífera conversa… Leio e pondero. Julgo, aceito, nego. O livro briga … E não existe solidão…

Pequenas mágoas doem bastante. Apertam. Empurramos pra esquecer, mas  se amontoam na gaveta, desarrumadas … Esquisito sentimento.

Enquanto você se mostra e faz o mimo,  recuo desconfiada. Consciência ajuda a perdoar.  Amanhã estendo os braços, abro a porta. Hoje não posso. Continuar lendo