Eu estava lá

Eu estava lá. Lá estava eu.” Na metade do século XX toda reportagem importante dizia assim: “Eu estava lá.” Hoje em dia “Lá estava eu.”

Ali Smith no seu bem humorado livro Suíte em quatro movimentos. Diverte, e nos faz pensar.

Cá estou eu de volta. Na alternância de calor e frio. Ao fluxo deste ir e vir que se agita. Inquietude. Intensidade acelerada. Silêncio estridente. Cá estou eu meio ao arrumadinho tão ao gosto da maioria. Revisitando prateleiras,  gavetas e caixas. Durmo menos, penso menos. Espreguiço e ventilo o pouco assimilado da revista VEJA.  Niall  Ferguson levou a nocaute o Nobel da Economia (2008) Krugman que defende e amplia um dogma de John Maynard Keynes segundo o qual os governos podem gastar a vontade. Pelo tempo que quiserem, e produzir déficits abissais em suas contas sem que isso leve os países à bancarrota e o povo à miséria. Ferguson, o Colosso Escocês, explica: Eu mostrei que Krugman está quase sempre errado. Mostrei com dados. Ele rebateu com ofensas pessoais.

Quem é quem?  Colocamos as peças no tabuleiro.

Conversar, pipocar ideias, reafirmar: “Eu estava lá”.  Não se trata de estudar, pesquisar, mostrar dados matemáticos, estatísticas.  Quando se diz “Eu estava lá.” Tudo se transforma em absoluta verdade. O remetente, o emissor encaminha, descreve, diz, pensa neste espaço compacto de tempo para um alguém, pessoa, ou entidade, amigo, parente, enfim, ao destinatário. Mensagem, carta, texto, o apanhado começa a circular. Autobiografia presencial. “Lá estava eu”. E o fato histórico se retorce nesta ótica. Verossimilhança ocular. O relato tem cor, e nuance do cidadão que sofreu, e praticou determinada ação, em determinado momento. Tudo se transforma, numa mágica, em pessoal. Arma principal, mais do que a ideia, será a experiência de estar lá.

Escrever histórias parece libertador. Contar o que viu, presenciou, e sofreu.  Seguir o fluxo. Delicioso! O jornalista se conserva aprisionado, não como autor, contador de histórias, mas como testemunha do fato. Nem sempre, quase nunca objetivo. A foto parece estar preenchida de verdades… Afinal, onde está a verdade? O certo ou errado? O verdadeiro ou o falso? No vazio. Não está. Nem o bem e o mal, o bom e o ruim.  Nada é verdadeiro, sem contudo ser falso. A mensagem, o texto, a carta, a reportagem se completa no A L V O.  O leitor, aquele que coabita meu universo. Está devidamente apto ao entendimento. Como expectador. Receptor, destinatário. A conversa segue.

 

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AH! Esqueci de contar.

“A buganvília continua a crescer. Apareceu no alpendre ao lado da casa, mesmo por baixo do meu quarto e ninguém sabe como.  O António diz que deve ter sido cortado antes do pai comprar a quinta e ter ficado alguma raiz. Eu vi o primeiro ramito aparecer. Era tenrinho, de um verde-tenrinho. Mais tarde cobriu-se de espinhos. Outro raminho surgiu e depois mais outro.”

Pepetela, O Cão e os Calús, Editora União dos Escritores Angolanos Contemporâneos.

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 Porto Alegre me encanta.  Mas, estou em casa, de volta.