Ensombrada de pensamentos

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Leitura, o bom fluxo. Yasunari Kawabata, forma delicada, intimista. Gestos, palavras se recolhem, ou se explicitam numa dança oriental, rítmica, suave. O movimento interrompe a voz, e flutua numa modulação gestual. Advinha-se, extasiado, que neste cotidiano programado e sereno, a turbulência dos sentimentos está dentro de cada um, intensa, contida. E veloz. O tempo morno, lento, intensifica o gesto, o beijo. Kyoto, o livro, encanta.

“ Sua voz estava ensombrada de pensamentos. ”

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Respiro a natureza, o contemplativo importa. A beleza fermenta viva. A leitura se derrama no visual, e sensual, tange o essencial, o vivo.

Por ser em tudo uma grande cidade, Kyoto tem folhas de arvores com uma cor verdadeiramente bela.
Mesmo não considerando os pinheiros da vila Shigaku-in e do palácio imperial, e as árvores do vastos parques e templos, saltam imediatamente aos olhos do visitante as avenidas formadas pelos chorões de Kyya-machi, das margens do Takasegawa, de Go-Jo, de Horikava e de outros bairros: verdadeiros chorões, com uns ramos admiráveis que parecem querer voltar à terra, redondos e múltiplos, de linhas sutilíssimas, como os pinheiros vermelhos do monte Kita.”
( p.57)
Kyoto de Yasunari Kawabata.
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Lacunas, ausências geram defesas. Carências, o destempero selvagem da liberdade descabelada, e violência. A velha e desgastada tecla da educação, o polimento perseverante de uma boa leitura. Mas, de onde vem o texto? Nasce desta natureza exuberante? Do aquietamento da alma quando encontra beleza? E. M.B. Mattos – Torres