não importa o que possa escrever, não diz / não traduz / não importa que eu possa limpar / aspirar /, não resolve.
não importa que eu compreenda, não explico, não curo, não embalo, não abraço, sou mesmo uma pedra de gelo que não descongela, pode ser pior do que isso? uma rigidez permanente / intrasponível?
vou lavar as mãos, deixar os pés de molho em água morna, esfregar o corpo devagar, limpar, perfumar, lavar, esfregar… quem sabe consigo explicar…Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2023 – Torres
O que me faz dormir, arranca as forças, não são os tambores, nem o silêncio das bombas, nem a cama aquecida, apenas o detalhe apaziguado. Tua voz a me dizer: estou feliz, consegui. E eu me estico na certeza preenchida de que te amar alimenta felicidade colorida, festejos perfumados com bolo de chocolate. Obrigada. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2023 – Torres
do sol esta lista colorida, quente… inverno em tiras, amorosamente, mornas / ensoladas / redundantes
e a minha particular desordem caótica a ser modificada, uaiiii / ufa! aonde se esconde a boa vontade de fazer, o espelho para arrumar este vento, educá-lo: cabelos a ser alinhados. Não escuto. Nem o sono consigo ajustar.
voltou o aspirador, meu vício amigo! amanhã, eu te prometo, comprarei flores e te esperarei perfumada. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2023 – Torres
Uma chuva que não chove. Dormi tudo e mais um pouco: nem o sono ajuda; desorganizado o esquema, perdi o caminho no meio dos livros… Não o ponto. Corro atrás do ponto.Ah! se adormeço estou salvo! Tão simoles!? Por que ficou assim complicado? Uma piada. Elizabeh M.B. mattos – junho de 2023 – Torres
Gota / pingo, onda possível: amor / achego e afeto. Necessário respirar o bom mundo possível… Teu beijo, abraço carinhoso nesta visita de surpresa, bom! Elizabeth M. B. Mattos – junho 2023 – Torres
Domingo – 25 de junho de 2023 – Torres. Calor, calor, calor, um vento morno neste inverno. Incrível variante: o tempo parece um romance explosivo / intenso! Incontrolável! Um dia, num repente esquisito, acordo desapaixonada: terminou. Soluços.
Notas e pausas, lembranças como fiapos.
Não esquecer as plantas / molhar.
Alexandre Soljenitzine / Arrancada do Rio de Janeiro, obrigada a encarar o Rio Grande do Sul, acolhida por amigos, Raul me apresentou o Gianfanco, e este me emprestou o livro Pavilhão de Cancerosos. Enquanto a obra do apartamento da rua Garibaldi terminava fui lendo dentro daquele verão, as crianças ficaram com o pai, tudo foi deixado para trás, um corte. Uma obediência cega que adquiri no tempo do colégio das freiras. Terminados estes preparativos eu recomeçaria a ser gaúcha. Abandonei meu trabalho no Colégio da Providência / deixei um amor amado inesperadamente / e me despedi da rua Viúva Lacerda assim, como uma fugitiva. Aliás, minha vida não tem lógica, plano, linha de conduta, se deu certo foi porque eu era de natureza certa, se explica assim? Tudo foi muito ao acaso. A infância às voltas com a tia Mariazinha e o tio Telmo, a menina depois virou sombra da Tia Joana / por um acaso foi estudar aqui, ali. De repente, acolhida pelas Madres no internato… Um porto, o barquinho sairia de alto-mar, e, atracaria. Aventais engomados, uniforme, fitas, lençóis e regras, jardim e dias previsíveis. O equilíbrio.
Leituras, leituras, diários, leituras e amigos. Domingos festivos. Leituras obrigatórias. Um livro por semana, o mínimo, mais livros mais fichas. E, agarra esta nota. A ficção cresce como massa de bolo, quieta… Vai assumindo posição ativa e se firma. Mas, nada me fez uma boa aluna.
Pequenos pensamentos aumentam e se desenvolvem ao/do impacto / efeito da natureza no corpo, o calor, o frio, o vento explodem dentro e assumo posições.
Alguém na sala de aula disse que eu estava amarela, e estava mesmo com hepatite. Precisei ir para casa / repouso, repouso, emagreci. O baile seria em julho, ou foi junho. Estaria eu boa?! Os acasos, eu fui ao baile.
Alguns sentimentos imobilizam, saem a me atropelar, decidem antes que eu possa reconsiderar. A beleza liberta e salva / um escudo de amor, suponho, pode ser o veneno, mas pode ser apenas mel. Ah! Boas e festejadas lembranças me afagam, acariciam. Outras apertam, assustadoras e assombrosas, tão desagradáveis!
Sentimentos opostos que se agarram a mesma pessoa / contraditórios. Sonhos intensos / campo aberto, florido, tépido e fantástico mundo onírico. Uma mistura de hoje e ‘pensação’ e amanhã projetado…esquisitices, eu querendo me hospedar no colégio, e a bolsa, uma desordem de papéis / coisas / uma tal confusão sem chaves, mas o bom humor daquela sensação ao, liberta. De verdade, o livro está preso / amarrado na hora… Se esconde / se manifesta na ocasião / no minuto do momento encanto do dia. Não é determinado livro, não sou eu, nem a voz da leitura, mas a magia. Tem um piano que não aprendi a tocar, um violão escondido, e ficou o ferro de passar, e um prazer esquisito que se mistura com o cheiro da roupa limpa… e escondidas esquisitices. Elizabeth M. B. Mattos – junho de 2023 – Torres
Com a Ana Maria no colo 1968 – e depois, os três – Pedro e Joana – 1970 e 1972. Estupidamente jovem, jovem. Tivemos filhos cedo demais. Hoje parece inconcebível, a vida acelerada… Tanto a ser feito no vagar… Com alegria de fazer. Que tempos! De repente fiquei chocada.
em baixo do acolchoado de penas, e outros térmicos; travesseiros acomodados, noite longa, quente, afofada e tranquila estou no céu do inverno / acordo, numa preguiça domingueira e ventosa… abro as janelas e o dia que já se aborrece no vento, venta. e, surpresa! calor, sim, calor: faço a caminhada, desconfiada, mas, definitivamente sentindo calor… sol de praia. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2023- Torres e suas quentes ventanias.
contar ou escrever pensar a vida é uma viagem divertida, sem ordem, agarrada na sensação de eternizar, ou pregar o sonho no lugar certo / depois dos oitenta anos a gente quer ficar / continuar ficando e sentindo / não é fácil largar a mão, muito menos transferir o sorriso. um egoismo / um precioso egocentrismo / um brilho de Natal, de uma saudade, e lá estou eu debruçada.
acho que nunca estive, de fato em casa, fui mais visita, fui eu a ponte e a passagem, o bichinho a espiar / o cheiro, as vozes, aqueles fazeres dos outros se espalharam como pedrinhas para marcar o caminho e eu tive tantos filhos /tantas urgências, nenhuma escolha / foi empurrando por aqui e por ali que cheguei em Torres. Queria Porto Alegre, na verdade, nunca desejei sair do Ruio de Janeiro, talvez ter ficado com marco em Montevidéu, mas não useu o excel não fiz tapela, não planejei e deu no que deu… vou me acalmar quando voltar para a minha casa, meu lugar meu canto. Quando descobriri que meu endereço é Avenida Independência, eu vou.