conheço alguém, apresentação descontraída, gosto. a conversa segue o desgosto político, gosto de flor e cheiro de prazer. recomeçar sentimento não poderia ser melhor.

volto para o fazer de todos os dias: vejo / escuto / percebo o sábado pela janela. incrível?!

tanta conversa mas não sei se você pinta janela, compra e vende sapatos, ou estuda, ou pode ser terapeuta.

falta -me a dita curiosidade natural das pessoas.

eu me escondo ao não fazer perguntas, estranho sentimento! respondo a todas as questões com voz infantil desavisada. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2023 – Torres

limite / atenção e cuidado / palavra comedida, sem opinião,

mesmo quando perguntam, não dizer nada /

a cada vida uma escolha

tantas e tantas possibilidades! a boa comida, o bom gesto, o melhor beijo, as risadas, e

por que o cuidado para acertar, para chegar no poder, qual poder? não posso controlar, ninguém pode, um jogo de azar e recomeçar, recomeçar, recomeçar

as fantasias.

viver é uma ilusão, eu sei. fantasia e criatividade: todas as cores Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2023 – Torres

todos os dias eu conto uma nova história sobre apaixonar / gostar e amar…

Detalhes, ângulos, traçados diferentes porque amei diferente, diferentes vezes. Eu me apaixonei, senti loucamente mais, menos, enfurecidamente. Fatiei os gostares de muitas formas, meus professores de francês, importantes agentes… Escrever e ler em francês me renova.

“La création est toujours difficile parce qu’elle est tentative de retrouver ce qui est perdu. Pour retrouver, on doit d’abord se sentir abandonné.” (p.482) 21 février 1939 – Villa Seurat – Henri Miller Correspondance Passioné

Tu fais mon printemps. Tu fais la gare Saint-Lazare et mon amour pour Paris. Sais-tu de quelle manière tu m’as renvoyé hier? Un peu comme si j’avais été ton jardinier. J’ai fais un autre détour aprés Bougival. J’ai grimpé une côte terrible – je crois que ça s’apelle la côte de la Jonchère. Et lá il y avait une charmante auberge, au milieu des arbres. Une vue merveilleuse. Complètement hors du monde. […] J’ai t’ai imaginée te refermant sur toi-même dans cette maison soudain devenue trist et écrivant ton Journal. (p.272-273) Henry Miller – Anaïs Nin Correspondence passionnée 1933

Olhar-se no espelho aos oitenta anos e ver a jovem de vinte anos pode ser apenas questão de nomenclatura… O tempo passou, as expressões mudaram, expressar-se assim ou daquele jeito faz a diferença.

A idade pode ser uma questão de nomenclatura. O que deveria ser certo / ou tomava – se por certo, algumas questões objetivas de anos atrás se alteraram… A gente não perde mais o bonde, nem o trem suponho, pode – se perder o avião. O ônibus, suponho, ainda se perde. A minha imagem, a ideia de ser quem eu era aos vinte anos, ou aos tinta anos… Esta, definitivamente, está perdida. Como é mesmo que se diz um apartamento de estudante quarto sala e banheiro? Apartamento de jovem estudante independente e responsável. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2023 – Torres

eu te amo / o amor cuida e cumpre tarefas? tarefas? obrigações. amor escorre e lava e encharca? o amor sente amor e se alegre, infinitamente feliz se refestela o amor no amado.

vigia / prende / atende e chora este amor, romaria, uma ida… mora/ morar é ficar, estar dentro este amorar. Elizabeth M. B. Mattos – agosto se desgostando em 2023 – ausência silenciosa e solta de amarras / exigências / desleixo, deve ser isso, desleixo.

Pedro Moog – São Paulo – 2023

As escolhas nos lesionam, podem destruir… Gostaria de voltar para Porta Alegre, gostaria de voltar para dentro de mim mesma. Os lugares nos forjam / deformam, ou alegram. A montanha interfere, o mar modifica, a cidade transforma… E os galhos de nossa árvore pesam, sim, podemos podar, mas as podas modificam tudo…

A relação com as pessoas, não somos sozinhos, mas intrinsicamente somos muito solitários. Dividir com o outro, olhar, partilhar, conviver não impede que sejamos carentes, ansiosos, ambiciosos a querer querer querer.

A alegria é o bem precioso, não a risada… O corpo nos abriga, mas o que temos, de verdade, é a alma, a nossa espiritualidade que não se acomoda em qualquer lugar, mas dentro de nós. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2023 – Torres querendo estar em Porto Alegre

cheio de vida, passado de amor, um amor passado presente

Foto Pedro Moog

“O sonho e o pensamento estão estreitamente ligados, sobretudo nos momentos em que as sociedades sonham-se a si mesmas. É importante, pois, saber acompanhar esses sonhos, tanto mais que sua negação é, em geral, uma constante de todas as ditaduras. Essas não possuem mais a face brutal que foi a sua, durante a modernidade. Elas tomam o aspecto aprazível e bastante asséptico da felicidade tarifada ao menor preço. A ditadura contemporânea não consiste mais no fato, salvo exceções notáveis, de indivíduos sanguinários e cruéis, ela é anônima, doce, dissimulada. Ela é sobretudo, não-consciente do que é,, ou do que faz, e se empenha, em total boa fé, em promover o sacrossanto princípio de realidade utilitarista. E desse modo extirpa, de fato, a faculdade onírica. Nesse sentido, ela não exprime senão uma constante da história humana: os poderes dormem em paz, enquanto ninguém pode mais, não sabe mais ou não ousa mais sonhar.” Michel Maffesoli A contemplação do mundo

música faz dançar, alegria faz dançar, euforia e amor faz dançar

O passado se expande quando dou um rodopio pela sala, antes do dia nascer. Posso escutar música e me deliciar dançando… Pequenos grandes prazeres que transbordam. Café na madrugada, ordem e alegria: sem a barulheira (da obra que me parece inacabável de nossa portaria), sem a possibilidade de alguém bater na porta, nem o telefone chamar…Posso me deliciar com as trufas Kopenhagen presenteadas. E depois, dormir até às 10 horas da manhã… Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2023 – Torres