entrar na vida de uma pessoa (fazer parte, ou se envolver) como parceiro, amigo ou sei lá que nome possa se dar, acontece. perde-se e ganha-se, mas, pois é, no entanto, algumas pessoas não se satisfazem com isso, e, aos poucos, progressivamente, tomam conta, se infiltram em passado e no presente. querem tomar, ser donos e absorver as rédeas no futuro…
o curioso, o inadvertido é não se dar conta disso, e se deixar ir… Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2023 – Torres
Já tivemos um jardim de pedras. Ainda hoje restam alguns jardins de pedras nos templos de Kyoto, como os de Saiho-jin, Ginkaku-ji, Daisen-in, parte de Daitoku-ji, e Taizo-in, de Myoshin-ji. Pedras tem significados fortes.
Estou limpando, tirando o cheiro da poeira do pó. E engrossa nas estantes o odor. Deteriora os livros. Exagera em ficar, poderia ser mais rápida a visita… Encontro o que esqueci no meio do empilhado de ‘faço amanhã’. Encontro Bertrand Russel com outras pedras. Vender, comprar.
Atribuímos menos importância às coisas quecompramos às coisas que vendemos.Quem compra uma obra prima de um mestre da pintura fica mais satisfeito do que quem vende, Mas o mestre, quando era vivo, ficava sem dúvida mais satisfeito por vender seus quadros do que ficavam seus clientes por comprá-los. A razão psicológica que nos faz preferir vender do que comprar é a maior importância dada ao poder do que o ao prazer.Esta não é uma característica universal: há os esbanjadores, que preferem uma vida curta e festiva. No entanto, o tom competitivo de nossa época é dado pelas características dos indivíduos vigorosos e bem sucedidos. É a psicologia do produtor que torna as pessoas mais ansiosas para vender do que para comprar e que leva os governos a se empenharem na risível tentative de criar um mundo em que todas as nações vendem e nenhuma compra.(p.66-67) Bertrand Russel O Elogio ao Ócio
As questões se atolam, as respostas flutuam. O poder se agita desenha e assina, e se prolonga voando e aterrissando. A competição não tem fim para apertar o nome ao para sempre. E eu penso em cerejeiras, em pedras. Escuto o movimento, vejo a poeira e sei que o importante… O importante deve ser aceitar e ponto. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2023 – Torres
“Um campo de chá que aparenta ondular, cheio de juventude. À primeira vista, pensei representar um coração prestes a se incendiar” (p.113)
E a história de amor: ondulação, inédito. Tudo agarrado num único momento de sedução. Sedução furiosa, doce, ou a sedução violenta do acaso… Aquela que surpreende e excita o momento, colore, exagera, e, se faz… E depois! Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2023 – Torres
“Claro que fui até o campo de chá para fazer os esboços, mas foi nos primeiros trinta minutos, uma hora, que concebi a imagem dos arbustos, a ondulação da plantação.”(p.114) Yasunari Kawabata Beleza e Tristeza
Depois dos cinco anos no cárcere com possibilidade aberta aos grandes sonos e constantes sonolências eu me habituo aos comprimidinhos de sono induzido, transformo os dias em noites e as noites em espelhos do passado: silenciosas e minhas. Perfeitamente minhas.
Envelhecer tem peculiaridades: posso observar / ver / acompanhar detalhes do meu corpo. Eu sinto que pode acontecer hoje ou amanhã, percebo a finitude. Um estranhamento ativo.
Ainda entra água pelas janelas, todas as madeiras incham e choram por fora e por dentro, derramam a chuva. De alguma forma acompanham meus desânimos. Lavam tudo: as possibilidades, as tristezas. Talvez não tirem a esperança, porque a chuva e este choro forte renova.
2.
Esta coisa de vingar ou lembrar o porquê disso ou daquilo é um daqueles cálices inúteis, não preserva o bom cianureto, nem resolve a sede. Aquele esforço necessário para tocar a beirada da piscina por capricho, numa braçada, porque, verdade seja dita, é tão rasa, que posso ir caminhando com a água pela cintura.
Talvez ir / tomar um avião / ou trem, ou ônibus e voltar para casa / voltar para o jardim. Plantar novos / outros cinamomos… Acreditar que o jardim poderia /deveria ser meu: camélias brancas e rosadas, beleza… E tu saberias. Acreditar que o trabalho, no bom e certo tamanho, produz alegria e traz paz.
O tiro que marcou a porta do quarto. Não atravessou a madeira. Guardou a bala. A história e o tempo foi no desespero dos sonhos findos. Cronologicamente a vida era começo, embalo e saúde. Algumas traições são feitas no escuro das verdades, no completo breu. Sem alcance. A percepção do alvo não existe. Como sair metralhando numa guerra com medo de acertar… E nenhuma maturidade, nenhum sol ou lua, ou holofote ilumina o suficiente.
As pequenas e silenciosas frases apagadas nas dobras das cartas, explicam o inexplicável, o desconhecido. A isso chamamos de histórias de terror. Vomitar não resolve a doença, não cura, por um momento dá um certo alívio e sono. Estas pequenas e grandes insônias que se transformam em prazer… Depois, eu posso escrever. Depois do sono. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2023 – Torres
Palavras do/de amor: amantes, estranhamentos, voltas e encontros que nos envolvem… Espicaçados se colam, e volta o sentimento. Escritos imaginados, fugacidade surpreendida. Existiu? A beleza da autora da biografia de Marguerite Duras – colas permanentes da vida. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2023 – Torres
voluntariamente é demais, mas digamos por imposições, escolhas mais ou menos óbvias, econômicas?! feito ratoeira mesmo / acordar com aquele espanto… a trituradora está se aproximando.
de certo eu cavouco um humor fantasia, ou brinco de limpar, não chego a comprar flores, (risos) – seria um faz de conta além da medida. em várias circunstâncias enfrentei obras / obras inacreditáveis / fogão na sala, pensamento no freezer / boa vontade no forno, e fala amordaçada.
e aqui no prédio não termina, o Natal se sacode na janela, a britadeira canta nas escadas! que venham os novos azulejos, a nova lógica! depois deste mau humor grudento, se resisto, venço… assim é a guerra, não quero matar ninguém, nestas condições psíquicas posso até estrangular. a contar os dias… 2023 termina. Oba! Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2023 – Torres
A pessoa cola o nome na biografia de alguém… Depois não consegue descolar. Não é a viúva, nem a filha, nem a mãe, nem mesmo tia ou amiga desta pessoa, um certo tempo, bem, existiu / depois foi tudo imaginação! Aquela mania de estórias na história! Colei / grudei a identidade e não desgruda mais… Aquelas colas caseiras eram boas, mas depois veio Araldite, cola definitiva! Enfim! Uma chatice, uma aberração! Aqueles namorados que não tem rótulo nem de primeiro, nem de último. Não é a última Coca-Cola nem mesmo Pepsi-Cola! Sou antiga! Mas uma invenção tipo fantasma… Estou sendo cruel, comigo, ou com ele? Não sei. Nem aquele feijão com arroz, aquela lentilha, engasguei, mas não tem jeito. Aqueles enroscos que demoram para ser curados, não são uma soma de eventos da vida, mas um enjoo. Terminou, no fundo, a pessoa mesma, eu mesma fiquei esticando, e agora!? Tenho um amigo, que vez que outro telefono, assim do nada, lembrei disso, devo ser assombração quando ligo! Dá uma saudade! Dele, de nós sendo jovens, da ideia toda, da alegria, de um período longo! Faz sentido, mas tem tanta gente evento! Leio muito memórias, de verdade, as esquecidas são as melhores, mas da história levantam fatos e grandes sentimentos! As de gente como eu, gente de carne e osso, parecem magras demais. Que sentimento esquisito! Jesus meu Deus (sem ser blasfêmia), eu me assustei, credo, foi a foto balofa, no sentido de repetida, engasguei outra vez. Elizabeth M.B. Mattos -novembro de 2023 – Torres (salva!)
“Estar amargo não é incomum. Domar o amargor é um pouco de magia. Difícil. Muito. Necessário. Certamente. O amargor não é originário do externo, mas na forma como recebido internamente. Às vezes ele pode nem existir.” JMZMCL
Coisas de amargo e amargor, passado, presente, que não seja futuro, mas despenque pela ladeira… Vá pela correnteza, ou cachoeira. Entre no mar e desapareça numa onda. Não adianta a gentileza, a pessoa azeda azeda… Nem sei explicar. Mas Domar o amargor é um pouco de magia. Perfeito. Vou cantarolar. Voltar ao perfume da cozinha, e ester o aroma. Estas coisas da casa iluminam, ou desaparecem nos panos. Passar panos, depois ensaboar. Aquelas regras gerais, verdadeiras. Eu e minhas lembranças azedas… Estão lá, por isso empacoto pessoas, empurro os embrulhos com as fitas e odores. Não consigo esquecer, alimento aquele ranço azedo, não abro sorrisos, não consigo. Sim, pode acontecer de acontecer, mas será pura distração alegre daquelas alegrias extrapoladas e gordas. Elizabeth Menna Barreto Mattos – novembro de 2023 – Torres – O dia de Natal espia…