coisas de sentir explica Montherlant

Inès

Vous ne sentez plus rien!

Ferrante

Il y a les mots que l’on dit et les actes que l’on fait sans y croire. Il y a les erreurs que l’on commet, sachant qu’elles sont des erreurs. Et il y a jusqu’à l’obsession de ce qu’on ne désire pas. (p.133) Henry de Montherlant La reine morte

Assim mesmo, arrancado do contexto, a gente não sente mais nada, estamos / estou anestesiada com os fatos, a vontade de tantos e o rumo do barco, sem leme, ou…, não sei. A vida fica assim à deriva mesmo porque a vontade, o desejo, a tal chamada alegria, evapora, e a credibilidade junto.

Então, tem palavras que a gente diz e atos (coisas) que nós fazemos sem minimamente (por minha conta) acreditarmos. Os erros que a gente comete sabendo que são erros. ( no desatino de fazer e seguir em frente). E existe / e vamos até a obsessão de desejar o que de fato, de verdade, não desejamos. Que loucura isso! Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2023 – Torres

vaidade idade e velhice

Tópicos diferentes: vaidade não tem nada com o envelhecimento ou tem? Salvo se for mental, penso, se eu perco o controle não cometo nenhum pecado capital, começo a falhar geral. Pode ser controle quando a pessoa amadurece? Sei lá! Amadurecer não se emparelha com envelhecer, eu acho. Se assim fosse! Que bom seria! Vaidade tem começo e fim, não sei. Vaidade tem estágios, até na escolha da profissão interfere. Envelhecer, não dá pra fugir. Envelheço vaidosa? Cheguei a ser vaidosa? E logo associam com prepotência. Escorrego quando penso, não pensar pode ajudar? Dá pra ser melhor, mais gentil, mais acolhedor, talvez. Eu me tornei velha cheia de espinhos, azeda. Ou talvez eu ainda esteja adolescendo, apaixonada, esperançosa, e, visionária. Que seja temporário ou casamento com a doença conhecida ou desconhecida, falha no sistema da doçura e da compreensão. Conceitos ou ignorância? Estudar ou desligar-se afundada num bom livro, num enredo, numa outra pesquisa ou na matemática. Estudar a matemática, conhecer o abstrato da lógica. Terei tempo de somar com precisão, dividir e multiplicar, fracionar, resolver, problematizar. Uaiii! Credo! Que enrosco! Quero que chegues hoje, queria que tu tivesses vindo ontem, ou que hoje já fosse amanhã, e certo! Seríamos adolescentes ou nós juntos por um dia, dois dias, talvez uma semana. Estar apaixonado / apaixonada, muda tudo. Gosto de te saber assim, ocupado comigo! Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2023 – Torres

segredo

não compartilhar segredo pode ser a ideal conivência, e assim assimilar uma espécie de paz… aquela conversa que nunca acaba é um fio de novelo sem ser tricotado, não resulta em nada… um tricote de palavras comprometedoras. esquisitice da vida esta conversa solta. contraditório, a solidão do silêncio esmaga, exige treino, quase uma religião. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2023 – Torres

transbordamento de vida

Visão imediata da vida não existe. Não está em um lugar /momento especial a coisa boa da vida, a tal felicidade. Não é pobre nem rara a felicidade, mas viçosa e até populosa… Não se conquista felicidade ela nem sabe chegar na pessoa, ela vive / está dentro da tal pessoa. Felicidade mora dentro da gente, e, às vezes, transborda… Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2023 – Torres

livro do Mishima

Um livro não deve ser intenso do começo ao fim, dá uma exaustão, um cansaço sem explicação: uma tonteira que não consigo dividir. Cada leitor é um leitor… O óbvio, somos tão únicos e diferentes na nossa patética igualdade! Adormecer o desejo de dividir e iluminar: ler é uma caverna solitária, a leitura não pode ser compartilhada. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2023 – Torres

urbana

Sou urbana, por isso escolho Porto Alegre. Outra vez, encore une fois, desta vez, eu comigo, na minha casa. Outra vez, a ideia se realiza. Sou urbana. as caixas se empilham, a vontade volta. Eu vou. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2023

às vezes

o ruim disto tudo é aquele vazio da solidão completa, o que importa é reagir, dar-se bem na vida, o parceiro, a parceira, a família… tudo muito confuso. quem eu olho, quem eu vejo, quem fala comigo, quem de verdade se importa? estou solto / solta e é assim, entregue a mim mesma / mesmo, catando lixo na lata do lixo, aquele pseudo amigo que dá uma risada e oferece um cigarro… tão o mesmo.

ás vezes a gente não quer viver, mas não é explícito, mas atravessado em / por maus hábitos e mau humor e displicência… o tal mal que nos ronda, ronda o bem.

eu queria ser cachorro, agora todos tem animais de estimação / latem miam, olham e tudo acontece. alguém se importa. esta coisa de se importar tá danado… ninguém se importa porque ninguém quer ceder o lugar em que está, o sonho que tem, a casa aonde mora, ou o desejo de acolher, cada um na sua ilha, e a ilha no arquipélago… pois é. é esquisito este pertencer (ironicamente) a lugar nenhum, a nós mesmos. reconheço que não me reconheço, então, então, então eu arrasto as correntes… esta coisa de estar preocupado (risos), preocupado com o quê, que eu respire? que eu beba o vinho, ou fume o cigarro, ou que eu vá até a praça e tome sol no rosto, nos braços…, nas pernas. com o que exatamente estamos (estás, estou) preocupados se não temos tempo sequer de ser /ter então, ficção. viver é uma piada. alguém perguntou se eu queria viver? Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2023 Torres – gosto de chocolate, isso, eu gosto.

Fotos Pedro Moog – 2023 – São Paulo

romance

excesso de juventude, excesso de romance, excesso de beleza, excesso de concorrência

todos querem imprimir a marca ao mesmo tempo e o dinheiro. O ouro, a prata, o poder, o centro. E a beleza, claro: A bela e a Fera. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2023 – Torres

lassidão e beleza

cheiro das frutas e a vontade se misturam,

e o gosto deste dia que chove sem chover, intenso

“- Eu tinha feito todos os preparativos e estava a um passo de agir – murmurei comigo mesmo. – Tendo fantasiado esse ato tão concretamente, tendo vivido essa fantasia tão completamente, será que é mesmo necessário executá-lo? Nesse estágio isso não seria inútil? Kashiwagi talvez estivesse certo ao dizer que o que muda o mundo não é a ação, mas o saber. E há também o tipo de conhecimento que tenta copiar a ação até o limite máximo. Meu conhecimento é assim. E é esse tipo de saber que invalida a ação. Então a razão de todos os meus cuidadosos preparativos está na constatação posterior de que eu não teria que agir a sério?

— Sim, é isto. A ação é agora simplesmente uma espécie de coisa supérflua. Ela saltou para fora da vida, para fora da minha própria vontade, e agora se posta a minha frente, como um mecanismo de aço frio esperando ser colocado em movimento. Como se não houvesse a menor ligação entre meu ato e eu. Até agora tem sido eu, de agora em diante não é mais. Como posso ousar deixar de ser eu mesmo?”(p.237-238) Yukio Mishima O Templo do Pavilhão Dourado

poeira de frutas douradas

poeira dos olhos

sempre

maçã no forno

Enquanto espero vou apenas esperar, não, não vou a nenhum lugar. Vou esperar. Nenhum lugar específico. Imagino conseguir e seguir o fantasma sonâmbulo ou a moja consciente, aquele sacrifício possível, não o necessário.

Pedro Moog – 2023 – olhar de São Paulo

O sacrifício possível, como o sono possível, nunca o de esquecer que transborda no sonho. Os sonhos, guardei na gaveta do armário. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2023 – Torres

Duas maçãs ao forno perfumam a casa e adocicam o tempo.