Não se trata de filosofar ou achar certo isso ou aquilo, ou navegar em acertos e estímulos, viver pode ser apenas respirar. E como é importante e bom respirar! As histórias pequenas, bobas ou importantes histórias boiam na superfície, a rede traz a tona, ou o nosso esforço, mínimo, de inclinar… Boiando, pronto, virou motivo pra dar uma revirada no passado, viajar no tempo, encontrar pedaços do que um dia fomos ( é divertido ), colar no hoje e nos refestelar, às vezes, dividir como confidência, despudoramente, sem esquecer a cautela. Em todo o nosso enredo, tão particular, arrastamos outras pessoas. Este P R O B L E M A paralisa, escandaliza, altera tudo. Pois é, não somos os únicos protagonistas e todos os papéis são importantes. Ah! Estas espetacularidades do palco! Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2024 – Torres viscoso tempo, grudativo, parece criança chegando da corrida na calçada… eta! tempo de Rio Grande do Sul sem sol.
Mês: setembro 2024
privacidade
JONATHAN FRANZEN Como ficar sozinho
Privacidade, para mim, não significa manter minha vida pessoal longe dos outros. Significa me manter longe da vida pessoal dos outros.
O aparelho que realmente causou prejuízo de forte impacto social – e que, apesar do mal que provoca, expõe ao ridículo quem reclama dele publicamente – é o celular.
O celular atingiu sua maturidade no Onze de Setembro de 2001. Está impregnada em nossa consciência coletiva a imagem dos celulares como canais para a expressão de intimidade entre os desesperados. Em cada eu-te-amo gritado que ouço hoje, em meio à orgia nacional de conectividade – a obrigação de pais e filhos se falarem por celular uma ou duas ou cinco ou dez vezes ao dia -, é difícil não ouvir o eco daqueles terríveis e totalmente apropriados eu-te-amos proferidos de dentro dos quatro aviões e das duas torres condenados. E é precisamente esse eco, o fato de que isso é um eco, que me irrita tanto. (p.21-28) Só liguei para dizer que te amo
pessoa /pessoal
Parece óbvio, mas não é. Eu já me equivoquei mais de uma vez. No entusiasmo da conversa, numa troca que parece evidente como a das leituras: li isto, adorei aquilo, gostaria de dividir esta estória e este autor, vais ver que espetacular… Porque isso e aquilo, e a conversa de espichar se anima / se animou para mim. No meu caso, tão extraordinariamente animou que esqueci as fronteiras, ou quem era quem. Fiz uma lista e não bastou fazer a lista, comprei os livros – achei / ou imaginei / fantasiei que a pessoa em questão ia ficar surpresa / feliz / presenteada: nosso selo de ouro. Foi um escândalo mal arrumado. Não só detestou o presente como disse que não iria receber aqueles pacotes. Colocaria na lixeira / não era sua intenção encher prateleiras com livros, era uma invasão e etc. Etc. Que não tinha me autorizado a fazer isso. Pois é. Ameaçou não receber os livros. Ameaçou com lixeira ou sei lá mais o quê. Um amigo que mora no mesmo estado resolveu recebê-los e guardá-los ou dar um destino mais nobre. Fiquei em choque, mas entendi a lição. Apreendi, nada de presentes! Nada de interpretações. Afinal, o nosso mundo é pessoal, intransferível. Não há conversa que o descreva. Somos mesmos, a nossa maneira, únicos em nosso planeta. Pessoa e pessoa. O amor é um braço que se estende, um alguém que toca nossos dedos. Mas não passa disso. Pra viver juntos precisamos da tal papelada que identifica, e entre irmãos, parentes, de uma sutil intimidade, mas nada de invadir território. Presentes / vem do presente, do agora, e, às vezes, o agora é infernal. Pois é, hoje lembrei desta história – não é ficção – cabe dentro do que chamamos de memória. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2024 – Torres acho que passados alguns anos eu me curei do episódio… Agora, posso contar. Aquela lista ainda é a minha preferida.
desmanchar
desmanchar um sonho para levantar outro / simplificar o caminho / respirar e se fortalecer /escolher o possível, escolhendo antes, ser inteiro. Elizabeth M. B. Matos / setembro de 2024 / Torres
o mal
O mal caminha pelos detalhes, levanta o dedo e se manifesta… O desavisado fica a pensar que se trata de inquietação, não é, mas apenas justificação…
O detalhe exemplifica. e pacifica. Esquisitices do ser humano. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2024 – Torres
…antes
Antes?!
Apreender, fazer, ou recomeçar, ou mesmo iniciar qualquer pequeno gesto, requer paciência. E, eu me surpreendo entre sombras, cinzentos e claros, objetivos e subjetivos. Não quero ter medo de ousar. Ah! O medo alerta! Eu encolho. Narrativas, histórias, envolvimentos e sentimentos se renovam. Os mesmos ditos amores, amizades, ciúmes, revoltas ou acertos? Não. Nunca o mesmo, sempre novo. Não consigo estabilidade, surpreendente: soluções diferentes embora o incômodo, a decepção, o problema pareça ser o mesmo. Acordei outra. Impacto, maior ou menor. Não temos nada de heroico, ou fora do comum. Estar atenta importa. No final, necessidade de ternura. Ternura derramada, natural, sem
compaixão. Ternura fácil. Esconder o problema
faz parte da estratégia. Exposição debilita. Sublinho o indivíduo, o estético. O universo estético arranca do real e a cor dos pincéis, o desenh0, as tintas solucionam. Ao escrever quero o cúmplice. Estender pequenas obrigações. Paz de certezas coloridas, meio aos temporais. O mundo num todo remexe com meu mundinho, não é possível fechar as janelas, trancar a porta, tirar o som, escuto a respiração. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2022 Torres
pizza ou cansaço / aquele cálice de vinho / coca-cola ou cerveja
Suco de uva e pizza / batatas fritas cerveja. A ideia do fim de tarde e de te escutar, pois é, vontade de te escutar / ou imaginar que me escutas. Aquela ideia da última coca-cola areia vôlei Guarita ou era futebol? Atenção com as ondas. O veraneio: latas de biscoito. Cinema todas as noite. Não importa o filme, importa o cinema e dançar depois. Ah! Não esquecer das cartas / jogávamos cartas de tarde. Amigos da praia do verão e algazarra, também confidências. O primeiro namorado, a primeira piscada disfarçada. E pensar que a praia era certa, se chovesse de manhã, de tarde fazia sol. Ou ao contrário. Era Torres no verão. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2024 – Torres Torres Torres e nostalgia.

Salto alto – eu adorava calçar sapatos com salto. Neles, a dimensão de crescer! Nostalgia dos nossos sapatos com salto, da vontade de crescer.


Joana Moog – Rio de Janeiro 2024 linda! Areia e mar diferente / cariocar, foi bom! Três filhos cariocas, e uma gaúcha – já quase pernambucana. Também tenho saudade deste tempo!

Não resisti. Pedro Moog no sorrisão. Claudia não resistiu.

Tem a ÔNIX na janela… Luiza tem sempre. E a ANA?

Achei um passarinho que o João fotografou.


Adoro esta foto! Quem tirou foi a Ana Moog / lembro bem – cadê a Ana, o Lucas, o João e a Valentina? Cadê todo mundo! Cadê tuas fotos? Vou ficar devendo a Ana Moog – vou ficar devendo… Não. Aqui está ela.

Ana Maria e o Hippy
1251 na Lagoa do Violão
sorridente e injuriada ou dia ensolarado e relaxado
Boneca da ilusão, a que eu guardo na sala, o brinquedo. A infância exposta: toque da ilusão do gozo perfeito. Existe?
Acho que eu sou do emergencial. Do socorro do momento apressado, apenas aquele. Esqueci como pode ser bom o lento, o vagar, o atrasado, o saltitante… Saltitante, mas, demorado. Ficar aonde se está plantado, para sempre. Sem pressa no gozo. Presa no projeto do que pode ser ou vai acontecer. Um dia, vai acontecer (e a gente espera). A paciência de cozinhar o feijão sem pressão. Como se ainda tivéssemos o velho fogão a lenha, manter o fogo aceso. Poder beber o vinho junto com o cheiro e a preguiça. Ter as coisas assim, como quer o tempo. Envolve, devolve. Não cartão postal, não coisas de ver sem estar. Coisas de levar e voltar, continuadas coisas. Sem plateia ou ato de representar e voltar. O único, como diz Alice Munro, estamos eternamente no palco para sermos visto pela plateia imaginada, necessária. Acertou. Acho exagerei… Costurei assim. Eternamente no palco com ou sem plateia, imaginamos. Pensei nas roupas que vestimos: algumas se ajustam bem, ficam no corpo como a pele. Usamos tanto e tanto, as mesmas. Não importam os furos ou desgastes, nem os espantos nos fazem desvesti-las. As crianças detestam trocar de roupa. Os vaidosos se acariciam como vitrines, adoram os novos modelos. Pessoas comuns / gente gente de ser gente, apenas veste para tapar… ou. Ou, ou. Acho que me distrai do pensamento. Tem uma curva nas flores da varanda que me fez sonhar. Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2024 TORRES, num desvio.


expliquei?
Ciúme dela / dele / da janela, ou do verde. Água derramada, não seguro, uauuu! Despejo logo a bacia. Amor faz / desfaz o ciúme. Ela espicha os cabelos espichados com as mãos. Estica a roupa no varal, pendura na sacada: faz exercícios na varanda… Estica o corpo. Enfeita a vontade. Ri pra ele… Ele deve exigir. O quê? Não sei. Ou se enfeita nela. Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2024 – Torres
