pensamento engasgado

Tem dia que atropela o pensamento / se é bom ou ruim… sei lá, o atropelado fica meio estropiado / surpreso. Pois, é. Pensamento atropelado se esfarrapa. E todas as respostas ficam mesmo engasgadas. Fim de outubro. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2024 – Torres

o novo

Já 29 de outubro de 2024 – terça-feira ensolarada – ou sem penumbra melhor dizer. E eu abrindo os olhos atrasada, mas em tempo para festejar o aniversário da Marina, ontem foi o da Suzana. Conversas matutinas, hoje espreguiçado dia. Quero pensar e escrever e dizer, ou fazer alguma coisa. Talvez faça panquecas ou sonhos! Sim, nós fazíamos aqueles açucarados! E as montanhas desapareciam com o café com leite! Que bom comer as fantasias! Bananas fritas com açúcar e canela! Estas gostosuras não eram interditadas e perfumavam as manhãs, também as tardes. Ainda estou devagar, ainda estou atordoada e sem orientação. E quero respirar. Quero caminhar. Quero estar. Hoje eu vou escrever um pouco, sobre nada. Escrever para chegar em mim. Aquela coisa de criança e de tempo, dos rabiscos. Aliás, vou usar todos os lápis de cor. Depois (pra não esquecer) arrumar as gavetas. Vontade de fantasiar a fantasia com camisetas novas, um vestido estampado solto, um colar de contas coloridas penduradas nas pérolas descascadas. Tem tantas velhas histórias penduradas no frescor da lembrança! Sim, hoje (pra não esquecer) vou limpar a casa e escrever pro meu amado. Tem mania de ficar longe / longe… Tudo mentirinha de esconder. Perto. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2024 – Torres

já 29 de outubro

De outubro enfeitado de coisa boa

Fico a pensar / ou quero assim, entrar na caixa como a Valentina, espiar pela janelinha, ou inventar um mundo dentro da caixa – caixas festas: grandes ou pequenas, festas. Esta coisa de 80 anos parece esquisitice imposta. Foi assim que Isabel resolveu não se ocupar mais da casa, das panelas e das podas, nem de roupas / qualquer roupa seria a boa. Enfiou uma calça bem larga, e ficou confortável, foi o que me disse sem susto. Resolvi o problema. Eu estava encolhida no canto, ainda tricotando, sem entusiasmo e pensando no tédio dos oitenta anos espichados. Precisava escutar o que ela dizia. Viajou para me dizer: trouxe flores, bolo e a lógica. Acertar os pontos. Sem comentar absolutamente nada de política. Sinto a cabeça rodopiando, um aperto no peito, as costelas se apertando, um sono ardido e complicado. Troco de cama. Sinto falta dos teus beijos que escaparam faz já uma semana.

Peguei as xicaras do chá / pinguei o leite. De fato, não sei que dizer pode ser acrescentar, colocar os pontos e as vírgulas, ou passar o pano… doem as contas, os olhos estão ardidos, a cabeça aperta. Um tumor, uma hora marcada para morrer, mas a droga disto tudo é que não quero morrer. Nem as fotos… quero é não morrer, mas, minhas decisões são insignificantes. Tenho rezado, mas rezar não altera, traz paz? Sei lá, ver / olhar pessoas. Uma pequena viagem para um hotel de repouso…talvez. Um hotel que tenha festa e dança. E eu dançarei com ssssssssssss sem pressa.

Preciso entender a janela, a porta fechada e as limitações / comer pão doce / um copo de leite com chocolate e um aconchego de vozes. Não vou descrever a sala, nem a estampa da minha blusa, nem as minhas sinistras intenções. Vou beber mais água / uma secura que pode ser diabete / ou um corpo novo no meu corpo assusta, estou com medo. O medo grita / fica sem voz, depois encolhe e logo quer se esparramar na maior cama…

Já 29 de outubro de 2024 – terça-feira ensolarada – ou sem penumbra melhor dizer. E eu abrindo os olhos atrasada, mas em tempo para festejar o aniversário da Marina, ontem foi o da Suzana. Conversas matutinas, hoje espreguiçado dia. Quero pensar e escrever e dizer, ou fazer alguma coisa. Talvez faça panquecas ou sonhos! Sim, nós fazíamos aqueles açucarados! E as montanhas desapareciam com o café com leite! Que bom comer as fantasias! Bananas fritas com açúcar e canela! Estas gostosuras não eram interditadas e perfumavam as manhãs, também as tardes. Ainda estou devagar, ainda estou atordoada e sem orientação. E quero respirar. Quero caminhar. Quero estar. Hoje eu vou escrever um pouco, sobre nada. Escrever para chegar em mim. Aquela coisa de criança e de tempo, dos rabiscos. Aliás, vou usar todos os lápis de cor. Depois (pra não esquecer) arrumar as gavetas. Vontade de fantasiar a fantasia com camisetas novas, um vestido estampado solto, um colar de contas coloridas penduradas nas pérolas descascadas. Tem tantas velhas histórias penduradas no frescor da lembrança! Sim, hoje (pra não esquecer) vou limpar a casa e escrever pro meu amado. Tem mania de ficar longe / longe… Tudo mentirinha de esconder. Perto. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2024 – Torres

a gente / nós / eu…

empurro a vida, ou deixo a vida acontecer e espero. a gente faz uma história? ou somos figurantes? de repente é seguir, seguir, e bordar, cozinhar, e plantar, pintar, dizer e escrever. como é mesmo que viver tem pressiona? ou força? atenção! não poço me deixar levar… tenho que fazer / temos que ser atores. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2024 – Torres

físico o cansaço / pesado emocional, medo?

A gente (ou sou eu?) desconhece o medo / ou sou eu que me esquivo do fácil, e complico? Fazer de conta / como no tempo das bonecas e da menina… Na luz do fogo da lareira o faz de conta da vida em chamas? Queimando? Não, claro que não. A chama ilumina e aquece. Devolve luz. A imobilidade do sonho vai dançar. Deve ser tudo coragem. A coragem se opõe ao medo. É como se contestam testamentos surpreendentes que não somam, mas subtraem. Existem estes ditos testamentos a proteger o óbvio? Algumas pessoas, muitas, se atravessam quando não tem outro recurso ou quando ganância pode ser qualquer coisa e também assim, como o ladrão não pensa no crime, pensa no momento, e entra pela janela aberta, pega o que pode e sai pela porta…Como nascem os testamentos… De histórias fabricadas. E a gente fica a pensar no certo e no errado. Na escolha e neste peso que somos submetidos… Abençoados advogados?! Sim, com eles contestamos. Podemos contestar e emperrar o processo. O mecânico decide se o carro vai ou não andar. Quem perde? Perde quem pensou errado. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2024 – Torres / não sei se faz frio ou calor / se a chuva veio para refrescar ou… se o calor…se a primavera venta ou sopra? Não sei mais nada.

barra de chocolate

Barra de chocolate / o bom conselho. O pote com bombons e a janela aberta. Comprei flores com talos pequenos, perfumadas: jasmim com margaridas e…

Eu me distraio. Olho inquietude. Passo as fronhas e os lençóis e imagino… O ideal seria fazer o esquema: as cabeças, as pernas e o volume do corpo. Inclinar o lápis. Comprei bons grafites. A mãe desenhava com firmeza, sabia usar cores. Era cenógrafa. Definia espaços com perfeição… Detalhes de beleza. Não adianta falar, dizer tanto. Há que respeitar a majestade do silêncio. A casa? Tapetes e cortinas, o bom cheiro da imaginação. Perfumada alquimia da cozinha. Quando penso a minha mãe lembro generosidade, nela, o gesto transbordava amoroso e cooperativo, nunca inútil. Inteligência é espelhar. No comando a luz sem medo, colorida a vida. Nunca preto e branca. Há que pulsar. Tá quieta a noite. Quieta. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2024 – Torres

pendurado no papel

Tem um risco visível pendurado no papel e uma urgência estacionada: inquieta e indecisa eu observo. Imobilizada pela dúvida. Escrevo três palavras, a quarta já se derrama… A Ônix quer explicar, não consigo entender. Vou desligar as luzes. Já é tarde. Amanhã penso na solução. Comprei lápis de cor e fiz desenhos na página do caderno e com os grafites macios eu brinquei. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2024 – Torres

Não organizei nada, nem comecei a escrever. Pensamentos emaranhados.

Jean ECHENOZ

14 (Cinq hommes sont partis à la guerra, une femme attend le retour de deux d’entre eux. Reste savoir s’il vont revenir. Quand. Et dans quel état.)

14 de Echenoz: um romance a ser lido e traduzido. E pensado.

Si quelques hommes meurent à la guerre, c’ est faute d’hygiène. Car ce ne sont pas les balles qui tuent, c’est la malpropreté qui esta fatale et qu’il nous faut d’ abord combattre. Donc lavez-vous, rasez-vous, peignez-vous et vous n’avez rien a craindre. (p.31) Jean Echenoz / Editions de Minuit – 2012

Je m’en vais / roman 1999 presente de minha amiga Lisie / Ah! Saudade desta amiga… Destas leituras. Saudade estou de mim mesma: paciência! A seguir . Hoje importa mais do que ontem e do que amanhã. Estas coisas do hoje e do agora… A agradecer. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2024 – Torres ainda frio! Danado deste inverno. Mas a praia e as piscinas estão povoadas. (risos)

As ponderações sobre higiene me parecem acertadas. (risos) E ótimas se pudessem evitar morrer na guerra / não dá pra evitar morrer, mas que morrer é um transtorno, com certeza é. E alguém nos esperar, pensar é bom demais / como pensar alguém… Ah! os acertos da vida! O agora.