importante

Sim, velhas, tu me dizes, mas seguimos bonitas. Eu penso. Ainda usando três pontinhos para solucionar o texto. Dás risadas. Dançamos no asfalto. Certo? Alegria não se compra na farmácia. O prazer do passado também desarruma meu armário… Dias e tardes arrumando. A questão do ‘experimentar’. Conhecer/ ter um apaixonado, um alguém, e experimentar / experimentar… Pessoas se apaixonam: o desgoverno. O luxo da entrega: prazer. E neste momento não existe barreira, certo ou errado. A paixão. Aquilo que algumas pessoas chamam de loucura. Estas loucuras já vivi, tantas! Nunca aventuras, mas loucuras consciente. Experimentos, brincadeiras, tudo interno ou na corrida, o momento e este continuado sentir… Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres

o perfeito

o perfeito do amor são as pequenas loucuras / enquanto falava ao telefone contigo e castigava minha garganta eu me perguntava, e o sentimento? amontoado num canto da conversa ele, pacientemente, esperou explodir. quando veio… porque chegou, fiquei exausta. limpei a casa, empilhei a vida ordenadamente e dormi a tarde inteira. Elizabeth M. B. Mattos – novembro – Torres

Susan Sontag

” Na arte reflexiva, a forma de arte está presente de uma maneira enfática.

Fazer com que o espectador tenha consciência da forma implica em prolongar ou retardar as emoções. Pois, na medida em que estamos conscientes da forma numa obra de arte, tornamo-nos de certo modo distantes; nossas emoções não respondem da mesma maneira que na vida real. A consciência da forma produz simultaneamente dois efeitos: proporciona um prazer sensorial independente do “conteúdo” e convida ao uso da inteligência. Pode se tratar de um nível de reflexão muito baixo, como a solicitada, por exemplo, pela forma narrativa (o entrelaçamento das quatro histórias separadas) de Intolerance (Intolerância) de Griffith. Não obstante, é reflexão. (p.210) Susan Sontag – Contra a interpretação – vontade de encontrar as vozes, o outro, os muitos, e poderíamos conversar sobre estas questões todas, eu cito, faço fatias, tiro do todo, não arrumo, não continua… no ar a vontade de conversar, e conversar e fazer uma palavra chamar outras tantas palavras. ” O que importa é recuperarmos nossos sentidos. Devemos aprender a ver mais, ouvir mais, sentir mais.” E não estamos fazendo isso por causa da pressa… ou por muitas coisas que nem conseguimos nominar. SOS vamos parar um pouco pensar um pouco, sentir um pouco. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres

a cada um

A cada um seu particular / um tempo. Cada pessoa vê um lado diferente… Era o mesmo? Não. Outro olhar / visão… O mar é / era o mesmo. Para um represento o quadrado, um dado, para o outro? Sou o sonho, a sentinela. Ou sou pesadelo, engasgo. E, ou ainda, o afago, o beijo. Ou sou as costas da boneca, da pessoa que nunca fica, apenas vai… Cada um tem uma experiência diferente (é claro!) / particular. Nas explicações, divagações: sou aquilo que imagino ser, a narrativa, sou também a parte do que poderia ser o inteiro… Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres

Divago sobre saudade, imagino. Sinto a mão, carinho. Existe finitude a cada decisão. A dor aguda faz parte do efêmero, nosso encontro. Vontade de correr, também de imobilizar. Depois alívio. Terminou. Não existes, no teu lugar, ponderações, eu? Sei lá se existo. Imobilização. O momento se cristalizou ou morreu, ou se resolveu, aquele momento. Nem sempre corajoso o meu abandono, nem sempre… coisas miúdas da saudade.

memória certa

Não sei qual memória enquadra melhor o sentimento. Eu me agarro numa lembrança de correria, noutra de ficar olhando as formigas trabalharem, infância com jacarandá, agito do mar. Se penso Rio de Janeiro encontro o fervor, alegria constante da idade. Seria a idade? Vinte anos explode. Não permite, não quer tristeza. A risada vem se arrastando, mas chega e desfaz o nó. A rua Viúva Lacerda é coração. Um dia foi a Vitor Hugo, outro tempo vibrante era feito das fitas do uniforme das cônegas. Indisciplinada comportada. Existe? Gostava de entrar no mato para colher as pitangas, de ler livro na hora de conversar. De correr ladeira acima pra não fazer as costuras daquelas aulas com bainhas e bordados. Era tanta coisa escondida e ao mesmo tempo comparada. Um capítulo longo este. Ambígua pessoa, escorregadia e pacífica. Será que os adjetivos se encaixam? Ajudar sempre, mas nada que segure por muito tempo, infernizar também. Relações fluídas, divertidas e tanta intimidade! Fico cavando e fazendo morrinhos ao longo da pesquisa. Uns se ajustam bem, outros viram castelos e vou atrás da minha amiga Ana Maria. Correta, séria, reclusa. Então eram as cartas usávamos para montar castelos / cresciam poderosos em baixo do piano – grande e suntuoso piano! E nossos reis e rainhas, protegidos. Nós imaginávamos / éramos reis e rainhas. Nós e todas as meninas. Outros dias, prosaicas. Um passeio pelo jardim, como mães de bonecas fui atacada pelo Jeff, o cão pastor amarelo, mesmo na corrente, saltou no meu braço e cravou os dentes. Estragou nosso espanto e nos assustou com sangue e correria. Não queríamos das travessuras. Por quê? Talvez devêssemos estar estudando e não brincando. Lavamos bem o braço e colocamos pasta de dente / não contamos, recorremos ao dentifrício. Imagino que era arteiro o que fazíamos. Tenho a cicatriz… Aquela infância vivida! A dela, com proibições. A gente guarda no corpo os boléus que levamos. Escondidos misteriosos, mágicos. É pensar na infância, na meninice, mais do que a adolescência a sacolejar. Das danças e correrias na calçada esta amiga nunca participou. Sempre esteve atrás dos portões e dos muros. Mas todas as outras amigas / amigos eram da correria, das árvores e do pingue-pongue. Campeonatos. Adorávamos. O Beto, era o campeão. E a turma suava nas disputas. Era verão? Inverno? Férias? Não sei. Éramos um agito. Isso eu lembro. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2024 – Torres

agito ou turbulência?

aqui venta muito, tanto! por dentro a ventania ou um jeito estranho de sentir o que passa neste vento e sacode… é tua voz? não sei. passa por dentro a ventania. o vento conversa tudo ao mesmo tempo. sei lá. esta coisa estranha de adoecer de vez em vez, pois é, meu querido, não tenho escrito. resolvi mudar tudo… mas, tens razão, sigo a mesma. estabanada? distraída? ou sei lá… quero mudar. ou quero agarrar o tempo. agarrar… pegar, e guardar o tempo. esta é a saudade que sinto de ti enquanto te estranho… por onde andas? por qual estrada passas? o que, de verdade, sentes? tenho que acalmar e voltar, algumas mudanças se inquietam, percepções, sensações. a gente não consegue explicar, apenas sente. estou sentindo. deve ser coisa de muito amar este sentir. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres

frio em novembro

Sempre fez frio em novembro, ou sou eu que sinto frio? Quero achego, certeza e tudo. É vago? O espaço-casa me acolhe: no lugar que devo estar, estou. Voar nas lembranças e abraçar delicadezas. Ouvir boas vozes, sonhos coloridos. Estou viva e gosto. Aqui e agora. Muito bom. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres

e a surpresa?

vou para a academia, e apreendo a sentir o corpo. especial

bilhete com desenho borboleta

querido, meu amado: abcdefgluarenuvemestrela, todas as palavras transparentes surgem em vermelho com esta tinta mágica. uso da magia de dias e dias em teste – procuro o formato certo para tocar no teu lado avesso a convenções – procuro o menino. o homem se esconde numa seriedade justa, num reverter correto. numa gratidão derramada. o que desejo? apenas rolar pelo gramado e me esconder atrás daquele arvoredo perfumado com jasmins. estaremos presos nos sonhos descascados das laranjas e das bergamotas, lambuzando as mãos. ah! eu te amo inconsequente. lúcido: a felicidade tem lógica colorida. por isso estamos escondidos e incomunicáveis. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres

amarelo amarelo amarelo

Entre uma tristeza interrompida e a vontade de despejar lágrimas e soluços para aliviar os pesos de certas dores imaginárias. O tempo deve virar horas. Encontro daquela memória despida / sem pudor. Nua. Olhar altivo: tu me compreenderás. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres

virando a página

Minhas confissões lotadas de lacunas: imediatamente preenchidas pelas tuas cartas, tuas reflexões. Hoje justificas a gritaria que fazias com tua mãe: teu pai te maltratava com o descaso, desamor. Pesos se faziam necessários. Ele não me ama, ela carrega a culpada. Sou a complicação destes desafetos. E troquei temporariamente de mulher. De casamento em casamento para acertar os enredos das solidões. Nenhum copo de cerveja resolve, mas as mulheres se apresentam, generosas e tolerantes. Eu sobrevivo. Cem estes acertos de amor, sou um pai distraído. Nada fácil nem natural. O modelo da mulher de plantão serve para que eu preencha as necessidades. Quase sempre as dela. Se ela gosta, devo estar acertando. Não questiono o departamento. Reparo no corpo flexível nas roupas combinantes, no carro funcionando, e nos cabelos espichados e compridos / definem o feminino / mesmo que a voz destoe e tenha modos masculinos ou sei lá como descrever. Ela entrou no papel de minha mulher, convicção musical. E tu me perguntas sobre felicidade? Eu proporciono todos os prazeres de consumo que ela me impõe…Não é ótimo? Ah! Comprei um carro novo. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2024 – Torres