envelhecer

a boa definição sobre explicar / escrever sobre esta coisa aborrecida: envelhecer…

pronto, terminou o fazer antes da hora, agora, posso levar toda a energia para o sonho.

sonho de abraçar, beijar o amado,

esquecer dia ou noite, e rir

um cálice de vinho ou só o perfume da noite.

surpresa!

agora há coisas que você não pode fazer mais!

sou tu / não você

por que voltar aos pronomes? alterar o que será / não o planejado,

surpresas – um dia depois do outro: abrir os olhos = viver.

“Envelhecer já é por si só um destino!” Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres debruçada na leitura com Robert Musil

renovação

Tem uma pressa mental que se ‘agarra’ na renovação que pode ser perigosa… Perigosa para o pacato e ‘arrumado’ da vida. Explico. A idade chateia / criança quer ser adulto, atravessa a tal adolescência esquisita e ‘pumba’ / sou gente grande, e agora? Etapas. O envelhecer junto com a consciência… E longa vida. E lá vamos aos tropeços com dúvidas e alegrias. Secando lágrimas e inventando. A tal invenção esquisita… Eu exercitando os músculos, abrindo a rotina, ah! minha boa e conhecida rotina, acerto horários, sacudo a preguiça e coloco no varal a nova energia… Sei lá qual apressada avaliação posso fazer. Arregalo os olhos! Cuidado para não esquecer o óbvio. Meu amado querido! Não posso esquecer de te pensar. E te escrever. Amanhã. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres – vou entrar nos detalhes desta vida nova e me debruçar para te te ver, ao menos pela janela… Como posso ser assim estabanada? O óbvio? Vontade de te beijar,

achas que eu disse coisas que não disse

Eu não as disse. Esclareço. Você sabe como os sonhos se abrem. Sabe, quando sonha, às vezes: você já esteve ali, já falou com aquela pessoa, ou… É como se a gente reencontrasse a memória. Os sonhos se abrem meu querido. Assim, embora tão perdidamente perdido eu lembro. E volto / retomo você, enterro o pronome tu / ele. Passei a usar este pronome depois de o teres sublinhado. Bom gaúcho! Eu sou uma boa carioca, ou paulista, um gaúcha que você. Tanta desenvoltura… Tu me tiraste o você. O sua desenvoltura se esconde na nomenclatura. Você sabe como os sonhos se abrem: dominam, voltam, dançam. Neles, você e eu, Búzios, Buenos Aires e a ladeira que atravessas em Porto Alegre… Ora, meu querido, sempre foi você na estrada por Torres, nas idas e vindas e nos mimos. Reencontrar a memória dá uma força, uma energia menina que me faz dançar nos teus / seus braços e voltar a beijar, beijar e beijar…

Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres (você é a forma mais fácil de tirar a roupa e entrar no mar)

“Agora eu vejo-ouço um mundo em que as coisas estão paradas e as pessoas andam, do jeito de sempre, mas sonoramente visíveis.” (p.507) Robert Musil O Homem sem Qualidades

pó ou pedacinho ou…

Tem alguma coisa dentro da felicidade que se mistura / surpreende. E atrapalha. Define, esclarece e já não é mais aquele vento nem tem perfume, de repente, a definição. Qualquer absoluto ou clareza já estratificado anotado não tem o teu abraço, teu vulto, tuas ideias voadoras de flertar e sair e gastar o sucesso na conquista. E lá vou eu me perguntar aonde estão escondidas, multiplicadas, tuas / nossas exibidas certezas. Partículas, pedacinhos espalhados, pendurados pelas pitangueiras, amoreiras, pereiras, e nas laranjeiras. O teu pomar com limoeiros. E agora as certezas na tua biblioteca, entre os filhos, netos e as gentilezas. Teus irmãos. Que revoada é viver! Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres

existe o meu querido

existe ao meu lado o meu querido, e existe o longe… eu aperto o desejo e faço com que a mágica colorida se espalhe no céu… a conversa não faz sentido, reclamo das generalidades, eu quero saber apenas de ti / não quero derramadas filosofias do que deveria ser ou não ser, quero os teus pecados empilhados e os meus, juntos. trouxe violetas, uma ramo farto, e festejei a sala com flores, e outra vez a música do piano explodiu. dançamos. abri os pacotes das tuas esperanças e misturei com as minhas. somos felizes, que bom estar vivo e ser feliz! amanhã quero o prolongado desejo invadindo a manhã com preguiça, afinal, seremos tu e eu sem hora. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres

sonho derramado

vou / caminho / sigo a rotina da memória e do dia bem costurado… importa rotina / o modelo certo do fazer e do descanso e a paz da boa rotina. exigência pequena / condicionada, e resultado, quase sempre, previsível. escovar os dentes após as refeições / todas elas, se os queremos sadios. não se trata de hálito, mas de escovação. escovar os cabelos longos e fartos. sempre. precisam ser escovados para ter brilho e imponência. banhos atentos, eu, os demorados. ah! que saudade sinto da banheira! fora de moda, alguns consideram até pouco higiênica, sei lá… exalta – se a modernidade do chuveiro, americanidade – eu mergulho na languidez da água morna de uma banheira. de certo as bacias generosas passadas assombram meu imaginário. (risos) água perfumada com pétalas de rosas… delicadezas da História. cansaço bom de lembrar. rotina? não se deve esquecer, eu acho. bom lembrar a vida, apertar, enfiar este fazer / ser / voltar no mesmo no cotidiano de hoje. acredito que amanhã é o sempre. sempre. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2024 – Torres – já com pés neste pacote colorido de 2025. quase dezembro, quase tanta coisa. e a revoada de cupins já escreve verão, calor e bichinhos no ar… não gosto de insetos. tolero.

olhar olhar olhar e depois, olhar

quando o dia acorda bem humorado a surpresa do novo… vou reler tua carta, vou estender a mão e voltar a escrever sobre estranhezas. todos os sentimentos importam e todas as lembranças se levantam com uma graça nova. estas respostas da vida ajudam no silêncio bom. percebo que juntos diremos muito mais, juntos, acrescentaremos sabor / eu te confesso que as panelas voltam a me interessar e aquela febre das estantes também volta. adoro repassar os livros na escovada e fazer a nova seleção / a casa se modifica com estas minhas investidas… e te escrever arco-íris. recortei o jornal guardando as boas crônicas e espero o momento de ler contigo o relevante. estou feliz. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2024 – Torres

excesso de luz excesso

excesso de música / de festa / tanta dança tanto abraço tanta e tanta risada que o cansaço, ele mesmo, desaparece. carrega o tédio. o pátio cheio de novidades e propósitos + uma eternidade forte / nada pode terminar quando estamos / temos este estado de espírito. que magia das boas ser feliz!

amanhã arrumo estes papéis / e limpo eu mesma a casa até o perfume se espalhar / assumo a nova alimentação / os exercícios e vou me envolver no novo amor como cura. depois sento ao teu lado e fico quieta escutando o teu sorriso. estou tão estupidamente jovem. e vou aproveitar. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres

revirada virada

remexida, uma virada, revirada na vida: não tempestade, mas tão novidade! será que não estou de cabeça pra baixo? vontade de casa e quintal, sem este entra e sai dos vizinhos / que agito! ou é bom? Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres antes da chuva

o mundo que eu conheço

minhas filhas moraram em países diferentes / foram, ficaram, e estudaram, trabalharam, casaram, viveram, enriqueceram quando fotografam o tempo, o sol, nuvens, areia, ideia, e som. fotografaram o mundo. acordaram do outro lado, telefonaram… acho que também choraram. um ano, dois ou três anos. se contar a história de uma da outra e ainda outra, serão dez anos no estrangeiro, pelo mundo: alemão, italiano, inglês e aprenderam a viver, meu filho já viajou o mundo. eles se deslocam com facilidade. eu? eu viajei as viagens deles, todas, viajei os sonhos deles todos. foi assim quando meu neto foi pro Japão – eu fui, e comecei a ler os japonês. Tóquio ficou fetiche. vi as cerejeiras floridas, e caminhei os passeios, de trem eu me desloquei. festa na festa do neto. Inglaterra também. festa. netos e filhos foram pelo mundo / fui junto / sempre junto. resolvemos sonhos. eu vi / fiz a conta desta matemática. foi assim que eu viajei… nestes sonhos deles, eles viveram, eu sonhei. e deste jeito conheço o mundo,

eu viajei muito, eu morei fora do país, eu nasci em Porto Alegre, mas sou, genuinamente, carioca. ou de Santa Cruz do Sul – tão eu, ou Rio Pardo, ou será Torres. Montevidéu…ou foi em Buenos Aires… Belo Horizonte. O que o amor faz? milagre. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2024 – Torres