PASCAL QUIGNARD

Oh! mes enfants, je ne compose pas! Je n’ai jamais rien écrit. Ce sont des offrandes d’eau, des lentilles d’eau, de l’armoise, des petites chenilles vivantes que j’invente parfois en me souvenant d’ un nom et des plasiers.

Mais où est la musique dans vos lentilles et vos chenilles?

Quand je tire mon archet, c’est un petit morceau de mon coeur vivant que je déchire. Ce que je fais, c’est que la discipline d’une vie où aucun jour n’ est férié. j’accomplis mon destin. (p.86) Pascal Quignard Tous les matins du monde

tu aqui ou ali / no disfarce

de repente insuportável! com certeza sem retorno. são só brilho, são só água. lâminas, golpes agudos.

BRUNO TOLENTINO

O embrulhinho

EU me debato dentro de um vulcão. A esperança de ainda voltar a ver-te dói como uma criança com medo de nascer, sufocando em meu ventre.

Ah, se, para arrancar-me esse pedaço que ainda hoje te pertence, eu pudesse matar em silêncio esse fantasma que atormenta a minha carne!

Mas não. Padeço com um vulcão por dentro, sem coragem para esse assassinato. Tu, que me inseminaste de doçura e de ultaje, ensina-me este parto!

Eu, Beth estremeço com o versos. Lá está a história todo, do amor tocado e impróprio, distante de nós dois, mas dentro de mim, a remexer…

Solilóquios

Mas não tem importância, aqui estamos nós outra vez… À distância, eu sei, mas ainda a sós. Que importa, eu nunca fiz sonhos de perspectiva e uma chaga furtiva vale uma cicatriz. E ainda que não houvesse nem uma nem outra, quem muito busca encontra: tu vens, tu me apareces.

Querido, sempre, meu querido. Obrigada. Escreves e se faz ponte: caminho por tuas palavras / teu ‘discurso’ certeiro a ponderar. Não te respondo derramada como eu gostaria, por pudor, por pudor, meu querido. Seguem versos. Que compreendas o quanto te amo. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres

AS HORAS DE KATHARINA – Bruno Tolentino, nascido no Rio de Janeiro – 1940, publicou seu primeiro livro, Anulação e outros reparos, em 1963.

intimidade feminina

Diário Íntimo de Amiel (Henri-Frédéric Amiel ( 3 de junho de 1877 )

A intimidade feminino, a intimidade platônica e santa me foi tantas vezes concedida, sempre foi no entanto uma fonte de dores, para uma das duas partes, ou mais exatamente para ambas. Mas como proceder? O que me faz morrer foi antes o que me faz viver. O amargo decorre do mel. A Natureza nunca é generosa senão parcialmente, e em aparência. Encontramos o nosso momento em nossa alegria, a nossa punição em nosso privilégio. Para casar-me, teria sido necessário encontrar uma igual, meu complemento, aquele que tivesse satisfeito integralmente o meu ser. Ora, jamais encontrei aquela com quem a ideia de passar toda a vida e toda a eternidade não me causasse um pouco de temor. Sempre percebi o lado da sombra, o limite, a insuficiência, o obstáculo, o ponto ameaçador, e não pude ter a ilusão necessária para a fé. Essa percepção crítica de algum modo impede a amizade, isto é, a afeição que perdoa, encoraja, ergue, suporta, melhora, mas dissipa o prestígio, impede essa admiração encantada que faz ver, em uma determinada mulher, a mulher, a desejada, a única, a suficiente, a esposa, em suma.“(p.455) Henri-Frédéric Amiel Diário Íntimo

Parece tão fora do contexto – bem, é 1800 / categórico – os adjetivos saltam objetivos. Assusta um pouco / arranha o que se entende hoje de escolhas / parceiros… Mas eu o sinto íntegro, corajoso e fiel a ele mesmo… De toda a sua enorme obra / o que chega com reedições e leitura é o DIÁRIO / cada dia… o que posso dizer?

Espiar diários, anotações rápidas, páginas embrionárias / esta nudez do escritor / esta perturbadora exposição é minha coragem. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres

onde você está em mim?

Alucinação! / Suportar o dia a dia /amar e mudar coisas diz Berchior / o tempo que volta: boa canção, bom cheiro, bom amor, apaixonada palavra e teu braço! O beijo de amar! A saudade colorida que traz o hoje embrulhado no ontem e já é amanhã… Elizabeth M. B. Mattos / março de 2025 – Torres

Esta coisa da idade?! 90 anos, 80 anos ou aqueles preciosos 70 anos. Que idade eu tenho? Que idade tem o amor? O que é ontem não está dentro deste agora e eu vibro, querido.

sombra e manhã

A sombra da manhã me agrada. Frescor! Aquelas boas sensações do dia abrindo… Gosto. Gosto de estar viva / desejo e alegria transbordam. Confusão para fazer acontecer. O silêncio adormece. Certeza mansa: estás a caminhar na direção amorada das frutas maduras. Amo isso. Apegada, agarrada aos teus sonhos, meu querido. Obrigada. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres

estica tua mão

Como estou perto de ti meu querido! Estende tuas duas mãos, vou te dar um beijo. quero sentir teu abraço, entender o trevo do jardim e acreditar: somos dois. Sigo amanhã para São Paulo. Estaremos juntos. Nada mais importa. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres

31 de março de 1964

Onde eu me encontrava em 31 de março de 1964?

Se o tempo me prega peças, eu me vingo: faço acrobacias dentro dele, pulo ora para frente, ora para trás ao sabor das minhas conveniências. Autorretrato ou memórias. Eu viajo: livre e solta. E paciente, entro numa conversa fora de contexto: falo ao telefone, puro acaso. Respondo ao telefone: assunto descabelado, carnavalescamente vestido e preparado, se atira ativo… Sono, quarto, cama, e um pesadelo de possibilidades fantasiosas. As pessoas saem do real / não são sérias, nem coerentes, dançam rumba. Saem do real e se atiram no palco do obsceno. A graça!? Cama de casal, ou solteiro, uma cadeira… até a praia, a praça. Uma entrega. Jogo de pura conivência, demência ou loucura / o que seria uma dose de atuante desvio…

Igual falar. Falei bastante, desmedidamente, para um assunto tão fora dos trilhos… O que resta? A certeza de que estas conversas são infantis: despropósitos lógicos, nada ajuizado depois de duas horas esquizofrênicas. Uma lágrima.

Positivo: aproximações e conversas Cartas fora do baralho. Outro jogo. Conclusões assertivas. Falei muito. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres – terminou a brincadeira!

fragmento do desenho / desejo

Que tipo de pessoas somos nós? Será que eu me defino quando te escuto? Eu te sinto perto, ou estás flutuando? A terra de ninguém / o lugar de ninguém, a passagem que não vejo, ou não sinto… Estás perto mas não te compreendo.

Escreve Doris Lessing: “Julia, no entanto, estava agora lutando contra o sentimento de terra de ninguém em que vinha vivendo havia tanto tempo, aquele território sob as águas onde uma coisa confunde-se com a outra, onde é tão fácil derivar ao acaso, de acordo com o movimento das marés.” (p.204) Doris Lessing A Terra do Velho Chefe

Leves como o vento os braços que me apertam, igualmente inseguros… Vou tentar levantar todas as varetas sem bulir. A destreza da juventude, do empenho. Não sei se quero de volta. Dou-me conta que a vida / bem, a vida me encanta. Elizabeth M. B. Mattos – março 2025 – Torres

da saudade

Je suis si sauvage, Monsieur, que je pense que j’appartiens qu’à moi même. Vous direz à sa majesté qu’elle s’est montrée trop généreuse quand elle a posé son regard sur moi. (.p.30)

Ecoutez le son que rend le pinceau de Monsieur Baugin. (p.69)

J’ai voulu lui parler et ma voix s’ est perdue. Immobile, saisi d’un long étonnement, de son image en vain j’ai voulu me distraire. Trop présente à mes yeux, je croyais lui parler, j’aimais jusqu’à ses pleurs que je faisais couler…(p.71) Pascal Quignard Tous les matins du monde

COISAS de Casare Pavese

(7 de agosto)

Ruptura comum em tempos de transição: as formas são novas e a alma velha. Não o contrário como se pensa.

Primeiro, as formas mudam; depois, as coisas interiores. Poder da palavra, da forma, do estilo.

(8 de agosto)

A vida não é uma busca de experiências, mas de si mesmo. Descobrindo a própria essência básica a gente se dá conta de que ela combina com o próprio destino, e encontra-se a paz.

(11 de agosto)

Uma das mais desagradáveis coisas da vida é perder o ritmo, mesmo numa simples frase. É tão fácil – aliás, fácil demais – dar um ritmo a uma personagem da arte e jamais permiti que ela saia dele. Por isso existem muitos tipos ideais de romance, que agradam leitores e leitoras.

Odiamos uma pessoa quando ela perde o ritmo.

Parecem ser poucos os casamentos felizes porque porque não se encontram romancistas em um casamento feliz. (p.199-200) Cesare Pavese O Ofício de Viver Diário de 1935-1950

janelas abertas – segredos do recanto – Paty / RJ