espiando o amor

Às vezes já não sei o que é ontem, hoje. Saberei do amanhã – planejarei!? Aonde estarão meus sonhos sonhados, vividos… pesadelos do aprendizado. O susto de quebrar o prato preferido, espatifar o copo, tropeçar: joelhos esfolados. Aonde a corrida, o perder o fôlego.  Já sinto dores de cabeça, pernas doloridas… Desconfiança no tempo. O calor? Talvez o cansaço se misture com o sol, ou exaustão de respirar. A leveza desapareceu. E nem sei das explicações, daquela lógica de dentro… Pois é, está tudo tão explicito na negação, no susto. O tal medo se estica.  Abraçar o escuro

Amar ou apaixonar-se é risco / como andar no escuro. Tropeçar nas coisas, cair, mas, chegar… O querer, o derramado das lágrimas! A gente sempre chora no amor. Ganha-se e perde-se tudo tão depressa! Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres

inquietude

inquietude move a montanha como movimenta a vontade. aquela vontade espinhenta / instigante… sentimento agitado. o dia se fez agitado, caminhado. neste passeio pelas calçadas a viagem vai no vagar do olhar… Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres

anotação, data e vozes: pequenas alucinações da memória: o perigo de ser gente / pessoa em movimento

de vez enquanto

vez que outra ela encrespa os cabelos, de escorridos ficam ondulados. às vezes faz um sorriso, sai no/ao vento, mas pouco… toda morena gosta do sol. e se enfeita sim, vejo as roupas… gosta da vida carregada, festeja a sorte, a carta premiada e sorri, ri… de vez em vez se arrepende, mas pouquinho. confia no testamento. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres

Inteligência Artificial

A IA mastiga a energia da memória… Tudo está, estupidamente, pronto: posso teclar a metade de um nome, dedilhar no computador pedacinho da ideia, logo, imediatamente, tudo está completo. Como casar com alguém com filhos e netos: família entra no meu domínio, eu, inteira, borbulhando, aceito ou não me caso. Pegar ou largar. Muito estranho. Tempos de hoje a serem engolidos.

Paul Auster ainda me encanta. “Como todos os seres ainda pré-alfabetizados, a memória do menino é espantosa. A capacidade de observação minuciosa, de ver um objeto em sua singularidade, é quase ilimitada. A língua escrita exime a pessoa da necessidade de lembrar muita coisa do mundo, pois as lembranças ficam armazenadas nas palavras. A criança entretanto, situada em uma posição anterior ao advento da palavra escrita, lembra do mesmo modo que Cícero recomendava, do mesmo modo imaginado por todos os autores clássicos que trataram do assunto: uma imagem casada a um lugar” (p.184-185) A invenção da solidão editora Companhia das Letras 1982

Este esforço mínimo de pensar, rascunhar o que se pensa, escrever como exercício, abrir um livro porque tem cheiro, data e memória própria, deixou de importar. Fica na memória um resquício de vida vivida resolvida num clicar…Procuro na IA que me conta o que já sei e o que, possivelmente, desejei saber, mas não memorizei. Pensar, estudar, ficou fora de moda. E já vou catar o que possa eu sentir… Congelo, uso o micro ondas para descongelar: panelas são poupadas, o esforço minimizado, respirar ficou fácil? Os livros, os jornais, todos virtuais. Eu me espanto. Os dinossauros vivem? Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres

Conceito de trabalhar, ganhar dinheiro, ser importante ou fazer sucesso tropeça na política / cada vez mais surpreendente. Surpreendem as decisões e a qualidade de honestidade. Estou num planeta desconhecido…

…mas algumas imagens te devolvem a vida. Ainda combato os cupins / como frutas, e sou feliz na beleza de cada objeto… Não desisto.

odor e rumo…

Os cheiros conversam comigo: defino muito / tanto e tanto pelo cheiro: associações. Desejos caminham pela trilha do odor. Logo / súbito lembro gramado molhado, floração, poeira das estradas. Chuvas encharcam e são perfume. Banheiro aromatizado pelo banho ensaboado. Casa toda respira depois da faxina! Casa respira? Sou eu a respirar e sentir. Polir importa porque converso com os cheiros brilhantes. Armários ventilados, roupas ao sol. Ah! Este sol que se entrega! l Espera dentro das gavetas e dos guardados… Bom isso! Adoro sentir as frutas maduras: conversam e se comunicam com o perfume. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres

desalento

O desalento tem graus e qualidades. Sugiro que nem todos são inúteis. Deve ser registrado o posicionamento mental de um servo.

[…] Mais de uma vez experimentei o que significa aceitar o fracasso final e irreversível, em tentativas ou experiências relacionadas a criaturas que possuem, no seu íntimo, o potencial de desenvolvimento sonhado, planejam e de súbito – Finis! o fim! O chamado da vida transformando-se, aos poucos, em silêncio…

Contudo, a capacidade de minimizar as perdas exige uma determinação bem diversa da paciência obstinada necessária para suportar o atrito, o esvaziamento contínuo da substância através de séculos, milênios – restando, no fim de tudo, apenas brilho esmaecido.

O desalento tem graus e qualidades. Sugiro que nem todos são inúteis. Deve ser registrado o posicionamento mental de um servo.

Sou um pequeno funcionário da Força-Tarefa, e, como tal, cumpro meu dever. Isso não significa que não tenha direito, como todos nós, de consuetudinárias, invisíveis garantem esse direito. E eu diria que estas leis podem ser resumidas em uma única palavra: Amor. É o que sinto e sei que muitos outros também sentem. Doris Lessing Canopus em Argos: Arquivos SHIKASTA

felicidade, quem sabe?

quem sabe o que significa, ou como é a felicidade… aos dezoito anos pensei chegar no / ao topo: tentei agarrar. acho que era gostar de mim. sensação de poder tudo, ou qualquer coisa. pensando melhor acho que a tal felicidade mora ao lado ou dentro mesmo da alegria. alegria domina tudo, ou quase tudo… claro! existe o outro lado. o outro lado / o avesso. por que medir? por que comparar? por que apoiar? de dentro, de dentro, de dentro a sensação de felicidade… Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres