mínimo

um fio escorre e eu me assusto. se a chuva é pesada, violenta eu me encolho. depois de me recolher adormeço. coloco meias de lã grossas, poderosas. pés frios… não investigo o porque de ter os pés tão frios. não investigo sentimentos, deixo o fio correr… volto ao internato, assistir missas diárias. a reza solta que eu faço mesmo na correria. depois, vejo a menina com as bonecas. eu, particularmente, adorava as bonecas. as que tinham roupas, carrinho, e caminhas, as da Magda. as minhas eram de papel. já meninota, ganhei um boneco com cara redonda e corpo de pano, molinho, e lindo. quando fui morar no rio de janeiro, ele foi comigo. no fundo da mala. destas coisas de infância entendíamos. vida agitada, vida reclusa, vida ilumina pelo Rio, pelos amigos de Geraldo, um universo/mundo peculiar o nosso entre períodos longos em Petrópolis e outros em Porto Alegre, leituras. Ele com os pincéis e as tintas, e eu tentando escrever. escrever exige, leitura exige, mas tínhamos toda a nossa vida para apreender sobre tintas e letras…Elizabeth M. B. Mattos – abril de 2025 – Rio de Janeiro. Petrópolis – Largo do Humaitá.

intimidade cúmplice

Há entre nós uma intimidade cúmplice, que tu teces sem alardes. Verifico quando já não é mais possível a repelir. E por que evitaria? Para proteger-me? De mim mesma? Não sei explicar. Vou a caça da memória… E hoje, já tão perto de um nada, eu amoleço o tempo com o perfume de cravo, um vazio escravo, uma indolência que se faz misericordiosa, talvez. Tenho lágrima escondida: não tenho mais tempo para saltitar ou organizar. A despedida parece breve. E a música perdida. Enfim… O tempo para contar histórias. Ainda terei? Elizabeth M. B. Mattos – abril de 2025 – Torres