não sei, não sei, pois não sei

tuas palavras importam, dizem, significam, e aterrissam na minha vida como que explosivas:

Na realidade o interlocutor não quer uma resposta que construa uma solução, mas uma forma de criar uma bravata de palavras, com danos imprevisíveis. Razões: inexplicáveis a maioria das vezes, porque sabe não ter resposta. Uma forma de punição amorosa. Não há maior frustração a quem deseja uma ‘bravata’ do que não haver opositor. O silêncio assume um papel importante[…]Por isto silêncio não é acompanhante de solidão, é ambiência acolhedora para escrever o passado transportando as consequências das escolhas do hoje – coloridas.

Não sei, não sei / não sei / a reler tua carta e compreender melhor / talvez a minha capacidade de entendimento esteja…, esteja se despedindo / as palavras escapam… Vou reler vou reler o valor/ valor, valor ou susto! Agarro o silêncio / o eloquente silêncio / mas não me consola / isso deveria ser consolo?  O maior castigo para a criança / a grande punição é o silêncio / o isolamento que significa (em algum momento) o nada / “você não existe “: não importa se fez ou não / se disse isso ou fez aquilo! “És invisível “coisa kafkiana/ ou tortura! No amor qualquer silencia / qualquer ausência doe. Danado e eloquente silêncio! Pensar dez anos ou mesmo cinco anos pode ser uma projeção amadora / sei lá! A gente quase chega lá (aonde a gente chega mesmo?). O corpo se movimenta no sonho e desliza prazeroso / o inexplicável do deste domínio ou da paz… O que quer dizer?!?! O corpo completo e perfeito. Não sei / viagem sensorial poderosa! Mas, mais, mas o próximo… Outro julgamento circense espetaculoso! Ainda estamos no mundo? Ou o mundo está dentro de uma redoma forjada (a redoma permite que a gente olhe / mas não interfira) e estamos todos amortecidos… Estou bem “fora da casinha” / atordoada. E era pra te dizer que depois vou te escrever / vou te escrever todos os dias e todo o tempo pra sentir melhor o que sinto… Um beijo meu querido. Elizabeth M. B. Mattos – junho de 2025 – Torres frio, frio enorme.

dizer

quero te dizer tantas coisas! quero acender faróis e estender as bandeiras, por que não? dividir. mas, tão logo expresso / escrevo/ digo, estranhamente, as tais coisas se desvalorizam… mergulho na dúvida e quando volto a procurar/definir o sentido… eu estou a pensar de outro jeito… e te imagino, eu te penso ocupado, e sentindo o mundo tão longe de mim! tão, tu contigo, e não nós, nem tu comigo… por que sempre quero mais?…e mais? eu te quero. – Elizabeth M. B. Mattos – junho de 2025 – Torres

preguiça gelada

imobilidade do frio arrasta a preguiça: perigo. bom que escuto a gritaria dos passarinhos. silêncio no prédio. o corpo congela imóvel. sensação de paralisia completa. a cama não é o melhor lugar, com certeza não é. estou a me perguntar: se a idade / os 20 anos mudariam alguma coisa? trabalhar, respeitar horário, fazer o isto e aquilo que o dia exige. qual o remédio para sentir menos frio? vou acertar as palavras. Elizabeth M. B. Mattos – junho de 2025 – Torres

mais ou menos

existe mais ou menos velho?!mais ou menos forte, mais ou menos atento? MAIS ou MENOS matemático… de volta a álgebra? sinais de menos ou de mais? estou aqui atrapalhada na matemática.

acerto ou dou uma volta dentro da volta?

06 de junho / aniversário do meu pai

não sei um monte de coisas / ou sei, penso saber, uma data não move o mundo, moveria? estou esquisita hoje, talvez alguma coisa mais, ou menos, ou muito mais esteja acontecendo. um círculo. sei lá. se fizesse um esforço ou a matemática diria quantos anos ele teria se. se amasse mais ou menos, ou menos dentro do muito. se saudade fosse palpável. se eu abrisse, se eu fechasse. se encontrasse a aliança… voltasse para a rua Vitor Hugo 229. se eu pudesse comprar a casa ( ainda está lá ) se se se se o tempo, se o tempo pudesse me abraçar! se eu pudesse te escrever, meu querido, e te contar como era meu pai, que gostava tanto do teu pai… eu o escuto a falar. escuto a voz mencionando o jurista / ou… ou não importa se sei, na verdade não sei. desenho. desenho. desenho uma árvore, uma flor daquelas com pétalas amarelas, cheia de pétalas. hoje seria um bom dia para dizer: eu te amo. Elizabeth M. B. Mattos – junho de 2025 – Torres

dia 09 de fevereiro de 1968

bateram…

Abri a porta quando bateram. Normal. Não. Eu não abro a porta apenas porque alguém bateu. Estranho, pois não. Eu abro a porta quando eu posso / quando eu quero. Apenas quando o imperioso é abrir a porta. Elizabeth M. B. Mattos – junho de 2025 -Torres

coisas / escritos de Beckett

“Amor platônico, por exemplo, eis um outro que acaba de me ocorrer. É desinteressado. Será que eu a amava com um amor platônico. Difícil de acreditar.[…] Eu pensava em Lulu e, isso não é tudo, já é o suficiente, na minha opinião. […] eu que tinha apreendido a não pensar em nada, a não ser nas minhas dores, muito rapidamente, depois nas medidas a tomar para não morrer de fome, ou de frio, ou de vergonha, mas jamais, sob nenhum pretexto, nos seres vivos enquanto tais ( eu me pergunto o que isto quer dizer ), não importando o que eu possa ter dito ou possa me acontecer de dizer a esse respeito. Pois eu sempre falei, sempre falarei de coisas que nunca existiram, ou que existiram, se quiserem, e que provavelmente sempre existirão, mas não com a existência que atribuo a elas.” Samuel Beckett Primeiro Amor sem página. É um texto-livro objeto de arte e intenso. Como Beckett sabe ser: o sentido é teu, não meu… Coisas de escrever. O amor que sinto por ti é meu, o teu deve ser o que sentes pela vaidade tomada, pela imagem reflexo do que és… Ah! o amor. As explicações que eu possa dar não fazem nenhum sentido. Um dia, uma amiga de muito tempo veio me visitar, Bonita, bem vestida, animada, e, resolveu fazer perguntas sobre meu pai, minha mãe… s olhos brilhavam inquietos: estupefata fiquei, entre duas taças de chá a história da fantasia dela se derramou… Pois eu não estava pronta naquele dia e devolvi o inquérito, o que foi constrangedor. Nunca mais eu quis vê-la. Por quê? Não sei. Não foi um bom momento. Ou sei e não quero contar. Coisas do absurdo. Tão atuais atual! Estou moderna. Elizabeth M. B. Mattos – junho de 2025 – Torres

Primeiro Amor

Samuel Beckett ” Associo, com ou sem razão, o meu casamento à morte do meu pai, em outros tempos. Talvez existam outras ligações, em outros planos, entre esses dois acontecimentos, é possível. Já me é difícil dizer o que julgo saber.” É muito difícil mesmo, as associações passam pela laranja descascada, o leite derramado: saudade crônica do teu besejo (deve ser beijo com desejo). Dos teus bilhetes, agora de tuas reflexões que caminham, passadas (um pé diante do outro, cauteloso) e seguras: vida organizada. Não querido, eu sei, não são organizadas as caminhadas, mas necessárias, não como desejarias… Tu, livre. Eu livre. Como gosto de ter o passo incerto. Virar na esquina e não chegar ao lugar marcado. Peguei o bonde errado. A gente sai por aí a olhar as vitrines e aquele desejo impulso te faz voltar cheia de pacotes, tão desnecessários… Falar pode ser assim, meras e contínuas associações. Não será como cozinhas? Da batata doce, vamos para o feijão que estava de molho, depois os bifes à milanesa. Alface pedindo socorro, tomates fora de época, Por que comprei um abacaxi no inverno. Vou fazer uma farofa. Abrir uma coca-cola. Bom mesmo seria uma caipira e rir contigo. O que estamos fazendo? Desgovernados. Ou apenas dois meninos. Eu diria que me apaixonei pela tua sombra. Coisas de Primeiro Amor -, seria desgovernado amor de amar. Tens razão GJUTW eu adoro o amor, todas as voltas que faz. Estes dias me deu uma urgência de te ver e saber. Pois é, deste farol aonde moro estou no mundo dos sinais de luz… Não te encontrei, mas a luz brilhou e tive as boas notícias. Estás bem. Eu? Daquele mesmo jeito de sempre: distraída, apaixonada, a trabalhar e contar os dinheiros. Que carência este mundo! Depois me dou conta que uma caixa de mantimentos, teu sorriso, tua risada (melhor) faria tudo voltar à festa. Te amo. Que abuso! Elizabeth M. B. Mattos – junho de 2025 – Torres

porta entrada

tem tanta coisa esquecida… e, paradoxalmente, surpreendentemente lembrada. portas entreabertas para um tempo/período esquecido, passageiro… projetei uma vida, foi uma vida aquele apartamento na Avenida Independência / eu conseguia dizer / fazer e estava trabalhando na Garagem de Arte! foi muito bom. Trabalhar define o quem somos. até hoje não perdoo a forma louca e repentina com que me despediram… depois desta experiência eu me adianto. porta aberta, eu saio. despedir-se antes… sempre antes. será precipitado? acho que vou fritar as bananas. e… Elizabeth M. B. Mattos – junho de 2025 – Torres

a emoção para o jovem é…

para os mais velhos a emoção tem um custo alto / importa / ‘acontece’ / para os jovens está no varejo, é barata / fácil porque imediata e rasteira? sei lá… custa nada, custa um minuto da vida, vira-se a esquina e já se mergulha noutra emoção…

a emoção para o jovem é barata, a emoção para velhos é cara / assim?