ah! ah! tua voz

tua voz misturada ao vento: prazer alegre do encontro. meu querido! atrasada estou… quero te ver logo, escabelada ou abraçada… abraço de bom tamanho, enroscado no teu beijo. ah! este vento cálido e doce, veloz… nosso vento chegando. acordei alerta, mas já tinhas saído. o meu sono embalado forte e… ah! que sono bom! Elizabeth M. B. Mattos – julho de 2025 – Torres encaracolada…

talvez

talvez pudesse ser diferente / o avesso da genética ou o encontro prazeroso com o Eu… a gente descobre devagar o corpo, os sentires. as surpresas atropelam… nunca estou preparada, sou o bebê que choraminga, surpreendido. e, e, e a luta nem começou. ilusão de sol azul. chove, chove, chove… a vida precisa desta água toda entrando na terra. a chuva lava, faz cinza, uma luz estranha entra, brilhante, pelas vidraças. Elizabeth M. B. Mattos – julho de 2025 – Torres

deslizando ou caindo?

esta comunicação vazia que faz o dia se aligeirar… comeste frio congelo / coisa séria deste inverno / invernar / frio de verdade… acho que tinha esquecido destes sentir seco, assustado. ou sou eu mesmo a me surpreendo com sentimentos gelados. tão preparada estava para não chegar perto / não transbordar, conter a saudade do abraço, esquecer. mas não é deste jeito que a coisa anda: o esquecer se lembra sempre, sacode sempre, sobressalta. não vou te esquecer. Elizabeth M, B. Mattos – julho de 2025 – Torres

estranheza

acordar, bom. não acordar pode ser bem cinza. sentir o frio, ótimo, ainda é inverno. levantar: esforço extra… abrir as cortinas, ligar o radio e passar o café. pão na torradeira, manteiga. um copo d´agua. e depois aquele silêncio de dentro começa a chamar. desligo o rádio e a passarinhada se manifesta. acordam agitados, ocupados. cinzento o amanhecer, uma chuva qualquer se apresentou… já se foi… repito todos os dias, inverno de minha infância… o que temos de diferente? a tal infância festiva ou triste, de abraços ou esquecimentos. a criança que fomos define tudo o mais?! ah! quantas teorias! precisamos investigar tudo, sublinhar e a gente vai caminhando nestes trilhos… a psicologia definiu, os estudos avançaram, os homens, modo geral, usam plaquinhas que não se esqueçam de lembrar as suas qualidades e os seus defeitos. identificação. será que sei qual é o meu prazer maior? será, será, será? a lagoa está parada quieta, espera o sol, todos nós esperamos o sol. noutros tempos… criança, eu pensava que seria fantástico atravessar o nevoeiro e acordar em Londres. o mundo superlotado pela falta de educação não atrai mais. acho eu. o melhor lugar é a casa, a lareira, o cheiro da sopa, e o café quente. Elizabeth M. B. Mattos – julho de 2025 – Torres

atrás do biombo

atrás, escondido, disfarçado, fantasiado… impressionante, desde sempre apenas o CARNAVAL – liberados! permite a liberdade a… sei lá! estamos / somos treinados a conviver com o estabelecido – nossos princípios e nossa moral… depois que a releitura é feita, entendemos Oscar Wilde, D.H. Lawrence, Dino Buzzati, Marguerite Duras, a literatura, a música, a pintura escondem as pessoas (o ser humano), atrás da obra não pode sobressair (existir) uma pessoa que faz normalmente as três refeições e reza no fim do dia – quem faz, o artista, será sempre decapitado. escrevi um post https://amorasazuis.com/2025/07/22/sem-roupa/

provocante / sim, provocante… talvez inquiete o leitor se quiser saber aonde entra a verdade, ou… sei lá. a situação é provocadora. a censura, ou a verdade, ou a ideia de atravessar o amor? estou / fiquei inquieta. Elizabeth M. B. Mattos – julho de 2025 – Torres

de castigo

sentada com lápis e papel – a caneta… o caderno azul. os cadernos se amontoam desordenados, mas, necessários. tanta desordem! a vida não abraça, fica a me olhar desatinada. o que fizeste menina? destas tantas mudanças, destes pedaços alguma coisa, o irrelevante, se admira. dou-me conta que anos e anos passados não perdoei os empurrões e nem curei a dor. a vida se vingou. não sei por que em mim, se vingou de dentro para fora… a minha encarnação, talvez. cantos, espaços curiosos me protegeram, e aceitação. poucas vezes gritei ou usei da ironia, ou enfrentei… recuar e esperar passivamente. levantar cartas, estes castelos abrigavam meus príncipes e minhas princesas. estudar estudar estudar deveria ser o tema / o lema, mas não era, seguia ao sabor das velas nos pequenos prazeres. teria sido tão fácil se eu tivesse dons… aquelas qualidades certeiras. lembro da minha primeira torta de bananas… ocupei a cozinha numa hora silenciosa e limpa, misto de escondido e traquinagem, com medo incerto. mas, mas, mas não foi a torta foi o cheiro do queimado que a todos assustou. lembro das brincadeiras indevidas na sala principal: Magda, Ana Maria e eu fazíamos desfiles com as bonecas de papel ente porcelanas preciosas como colunas de castelos. Claro! Numa rabanada uma peça quebrou, solução? para baixo do sofá… Teria sido uma vassoura desastrada, não nós três. Foi a ultima vez que escolhemos Ah! o inverno! lareiras respondiam com alegria. Labaredas, movimento, encanto. Eram assim aqueles invernos. Este, gelado gelado gelado com memória, mas gelado… Elizabeth M. B. Mattos – julho de 2025 – Torres / sem fogo de lareira, com brilho da lagoa.

pisar em ovos

quebra… e o pensamento desaparece. vontade vai se esfarrapando: fico sem roupa, sensação estranha. entender o tempo / escorregar na ideia ou não fazer absolutamente nada? atordoada sensação. inquietude esparramada, e as palavras não se apresentam, não ne abraçam. a inquietude do tempo aperta o corpo, mas não quero desistir.

querido: vou escrever para não esquecer todos os passos. espero que o sol tenha aquecido teu corpo, e que os canteiros das margaridas estejam cuidados. no inverno as hortênsias florescem, descansa. Elizabeth M. B. Mattos – julho de 2025 – Torres

sem roupa

encontrei o número do telefone. liguei e localizei, precisava saber como ele estava. então, uma voz gentil pequena e doce me respondeu: “sou a esposa” “ele está bem” e eu me surpreendi com alegria súbita a imagina-lo com a boa e gentil esposa num aconchego de amor. e perguntei: danças para ele? sem música, tu danças? ela não desligou, e se surpreendeu. danças para ele? sem roupa, na alegria imaginada pela música: com o corpo a girar, os braços a voarem por todos os lados, a suar feliz para ele tua alegria… eu gostaria que tu dançasses para ele… Elizabeth M. B. Mattos – julho de 2025 – Torres

todos os dias todos os dias

deveria ser assim, todos os dias disposta. mas levantei com preguiça. café acordando, o pão com manteiga, água: bebo muita água de manhã. sem vontade de acordar, eu acordo… envelhecer tem este ranço de reconhecer, esquecer, voltar, pensar, esquecer e fazer. a preguiça espalhada pelo corpo, crescendo. preguiça. danço o amor por ele.

vontade tenho de chegar no teu calor. nas boas lembranças ausentes. colcha de retalhos, estórias que serão história. querido, estou a tentar, concentrada, mas ainda não consegui me refestelar na vida… não fiz o que me pediste para fazer. sinto saudade… sei, não me repreendas, nada de saudade, já escreveste: a passagem comprada, fechaste a casa e trazes presentes. igual sinto saudade. queria ter ido contigo. sinto ciúmes, ciúmes dos teus passos, das tuas mãos, dos teus pés. escrevo escrevo escrevo e vou me distraindo pelo texto… um beijo. Elizabeth M. B. Mattos – julho de 2025- Torres