de trás para frente

em frente, sigo, e depois, depois, volto a caminhar, sem pressa, sem certeza, sem vontade, mas sigo. na esquina, o encontro, o possível, o acerto incerto, de trás para frente, com desvios, eu sigo. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres

pitada de Anita

Se devo começar pelos noventa anos, ou pelo começo, não sei. Desde sempre quis escrever e contar. De imediato apenas o que eu intuía como fato, mas sempre medo. A sensação de ser vigiada, de perigo, inquietações que, mais tarde, no internato, na escola eram reais. Quem diria que hoje eu ainda teria medo?! Pensar está perigoso. Na verdade, meu pai lia tanto e sempre e ele e minha mãe conversavam tanto e sobre tudo: brilho solar. Apreendi meio encolhida o amor pelos livros / autonomia / conhecimento é (hoje eu sei) a completa liberdade. Minha mãe, mulher talentosa. Viva, exuberante, transbordava o brilho (adoro o verbo transbordar, no excesso o descuido?) Ou… Uma mulher pequena, pele muito, muito clara, olhos castanhos escuros, uma boca larga, e desenhada, bonita. Um rosto perfeito. As mãos lindas, tratadas. Voz cantante. Forte. Desenhava com maestria, letra e desenho… usava as cores. Na decoração (era mestra) – seus estudos a definiam. Nas roupas, tudo o que tocava era especial, arte. Os estudos em Paris a qualificaram. Francês, o português professoral. Inglês, o suficiente para as revistas de decoração, o espanhol agregado / idiomas e o saber. Na Itália, apenas conversou e foi compreendida e se fez entender… Sim, eu me entusiasmo quando defino minha mãe. Está era é a minha mãe. Pela clara, muito branca, a voz do você…, raramente, usava o pronome tu. Inteligente, lúcida. Minha mãe. Conversar era apreender, necessariamente, o novo, o filosófico, o humano se esparramava… Arte. Ela fumava e as pequenas taças de café preto se espalham no meu imaginário. Mulher extraordinária, visionária e brilhante, este era ANITA Alves de ATHAYDE Mattos. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Pernambuco. Porto Alegre. Guaíba. São Leopoldo – Torres – Eu queria comentar das leituras… e o assunto pai e mãe e rua Vitor Hugo e Petrópolis se amontoam e explodem no mesmo tema, minha mãe.

Luiza espiando…

coragem

não basta coragem, nem lucidez nem tempo, meu querido, meu amigo: sinto tua falta. tu ainda tão presente no meu corpo! teu cheiro me sufoca. não és tu como parte da pessoa, mas pessoa inteiro: teu antes, teu antes de menino, teu antes de mim, tu completo a me olhar, querer, e educar. não sei como devo ser / como fazer para que nada termine… e eu, como criança, me atrapalho com teus olhos presos nos meus: mágica de enfeitiçar. por que eu, por que tu? sei lá. muita loucura. a garganta me dói de tanto tanto falar… preciso amarrar o som e ficar quieta, calada, silenciosa e sem dor. o corpo, agora, me dói todo. não bastam os exercícios na academia, o levantar e descer/ segurar os pesos, ou esticar as costas. o comando me deixa tonta. acredito não poder mais seguir, vou desmanchar em pedacinhos pequenos. por favor, coloca tudo no teu bolso e me carrega. se abrires o pacote num dia de sol eu te prometo, vou nascer outra vez. e, eu te prometo também a coragem. faremos tudo outra vez, repetiremos todas as aulas e as vontades se acomodarão, tenho certeza. e logo, o livro do amor estará inteiro nas tuas mãos. não posso desmanchar agora, não podes assumir tudo, vamos dividir, então, nossas vontades e incluir neste gozo os pedaços do passado… vou escrever / vou te receber / vou voltar / vou encontrar a leveza… espera por mim meu querido. não te adiante, não me deixa ainda. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres

gosto sabor prazer

prazer do dever cumprido. livre o tempo para nada fazer… usufruir daquela paz gostosa do vazio, do silêncio no corpo cansado. nada mais a ser exigido, nem por mim nem pelo outro. casa limpa, quase perfumada, lustrada. impregnada de capricho e ordem. afinal viver tem o contorno dourado deste prazer. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2025 – Torres entre sombrio e ensolarado…

roupa / voz e gestos

cenário descreve: o palco foi montado, vozes são o teatro / movimentos preenchem. a orquestra faz vento e cores entrarem: estamos no teatro: silêncio. o espetáculo vai começar. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – saudade de antes, muito antes, quando eu acreditava que poderia ser diferente… estamos dentro da representação / calados. somos a plateia estupefata.

filhos fotografam, dizem, e, o orgulho de ser mãe explode!

a voz do João, ecoando…

A gratidão vibra no corpo.

O piano penetra nos tímpanos.

As lágrimas escorrem.

A melodia encontra paz.

A emoção não é melancólica.

É grandiosa.

Procura e encontra o universo.

Radiante como um astro luminoso.

Pode-se encontrá-los de dia ou de noite.

A busca é infinita como Ele.

Ao encontrar parte deste cosmo,

A benção da paz abraça com ternura

O poder da gratidão.

Gratidão /João Vianna Moog Brentano 2025 – Torres

eu não disse nada

eu não disse nada, você sabe, tu sabes, com certeza o que eu penso porque tu e eu, eu e tu, não envelhecemos, ainda somos nós… apenas sentimos doçuras e aquelas coisa boas da vida, brindamos. tomamos sopa de ervilha, também aquela com cenouras… adorei o assado que tu inventaste, fazia tanto tempo que não bebíamos uma taça de vinho juntos. obrigada meu querido. fez sol, não vem chuva, não ventou… tens razão, não tivemos tempo de olhar pela janela. somos nós. um beijo. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres- prometo, amanhã eu te escrevo e conto tudo o que acontece na semana passada, não tivemos tempo, é verdade. vou adotar uma gata / vou trazê-la para Torres – vou fazer tudo errado, mas eu quero. gosto dos gatos! e os cães me levam a pensar na ônix… engraçado, curioso, fico girando o botão… amanhã eu te conto. outro beijo

ESTUPEFATA! MUDA, surda…INCRÍVEL!

sem coragem de dizer, olhar / ver ou pensar, talvez narrar, como pensar… sei lá, desaprendi a respirar. fim do túnel ou começo de, quanta esquisitice?!?????? estupefata / estupefato. sou culpada. de certo sou brasileira… ou devo investigar, escutar e ver / olhar e mudar? dar opinião. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – TORRES

BRANCO e PRETO / quem, o quê, quem sou eu? ou a sombra, ou a história, pontuações, todas… esquisito momento.