solidariedade

Toutes les existences sont solidaires les unes des autres, et tout être humain qui présenterait la sienne isólement, sans la rattacher à celles de ses semblables, n’offrirait qu’une énigme à débroullier. […] Quant à moi (comme quant à vous tous), mes pensées, mes croyances et mes répulsions, mes instincsts comme mes sentiments seraient un mystère à mes propres yeux, et je ne pourrais les attribuer qu’au hasar,qui n’a jamais rien explique a ce monde, et je ne relisais pas dans le passé la page qui précède celle où mon individualité est inscrite dans le livre universel. Cette individualité n’a par elle seule ni signification ni importance aucune. Elle ne prend un sens quelconque qu’en devenant une parcelle de la vie générale, en ce fondant avec l’indidualité de chacun de mes semblables, et c’est par là qu’elle devient de l’histoire.” George Sand, Histoire de ma vie,Ed Gallimard, coll Bibli.de la Pléiade, t.I, p.307 /

a gente não conta nada de novo, todos tivemos / tiveram o primeiro amante, lágrimas compulsivas. o estado catatônico de não saber o que fazer: nem sexo, nem falar, nem pensar, mas poder correr correr, e correr e chegar em casa, bufando suando e feliz. liberto, apaixonado pelo primeiro amor. e depois quantos foram os anos sem amor entre lágrima, queixa, paciência, tolerância e espera. ah! esta vida de surpresas… estes amores comprimidos numa memória de lacunas. no meio da dança, dos ritmos do tempo certo. volta o gosto e a saudade. Eu? eu estou lá entre passado e futuro, caminhando e correndo. cansada, dolorida e feliz. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres – Torres outra vez como ponto final, ou começo?

primeiro amante

primeira rua / primeira casa / primeiro e único amor / primeira infância / primeiro livro . este primeiro será ditado / escrito no atropelo e na prolixidade que me é particular. escreverei soluçando, falando, falando… dançando também. falando até a garganta doer / apertar. repetindo / dizendo, recontando, explicando outra vez até ao cansaço. e será eu te amo / eu te penso / eu te imagino. terá, certamente, a rua Vitor Hugo, Petrópolis, paralelepípedos, ladeiras, joelhos ralados e a história do primeiro amante / para picar o tempo com pimenta, imaginação e tensão: vou misturar tudo e escrever depressa. não há tempo para perfeição, precisa ser assim mesmo, apressado, transbordado, errado tudo, será acerto. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres / também contarei das dores súbitas de estar parada, de gritos no poço e passarinhos coloridos na janela. de pão feito em casa e bolos muito doces e chocolate enrolado, não posso dizer nem negrinhos, nem brigadeiros / tudo tem avessos…

cartas – palavras voadoras

voar ao escrever, chegar atrasada na hora do dia, mas, eternamente / era eterno? chegar para ficar, para sempre. cartas equivocadas, publicadas, mas eram / deveriam ser, secretas. a intimidade despida não só pelo destinatário, mas… esparramada, jocosamente, ou… seriam as cartas de Abelardo para Heloisa literatura, ou eram cifradas? queimar a carta de amor. hoje, está tudo no para sempre… a informática, a máquina, a televisão, os verbos disparam para todos os lados, os telefones / celulares revisados, publicados, invadidos / invadidas as cartas / os telegramas. gramas do pão esfarelado contadas… esquisitices dos tempos modernos, não de Chaplin, mas do N A D A / ou tudo invadido. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres

ou fotos / impressos

agosto para setembro

Ana Maria e o tempo / sou eu no tempo. A minha pequena atravessa a história e assume o leme. Eu, eu me sinto leve e feliz, ela está comigo / gosto bom de ter filhos. O começo. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres

OBRIGADA filha

numerando a memória 1

1.

Então tem aquela ’coisa’ chamada infância que deve/precisa ser priorizada, escavada e pesquisada. Exaustivamente, lembrada: é preciso resgatar / cavoucar / recolher migalhas e instantâneos ou invenções desta memória infantil. De acordo com intelectuais, escritores ou memorialistas, desta preciosa memória/lembrança a verdade. Desenterrar sentimentos ali soterrados ou escondidos: entenderei quem sou como sou, e, mais ou menos, de onde eu vim / como cheguei no meu eu… se tenho raízes, ou fui mesmo colocada num vaso para enfeitar vidas chamadas pai e mãe, fui educada ou tive afagos perfumados. Instantânea esta vida? Ou tu, eu, nós trabalhamos, ombro a ombro e chegamos ao consciente. Uaiiiiii! Ai! Esta sou eu / pessoa / gente entre gente querendo seguir e ser e ter o abraço. Coisas de lembrar e, como escreve Simone de Beauvoir. Vontade de não parar de escrever / responder ao que dói aqui e ali no meu corpo. E até esquecer que o frio está voltando, se sacudindo inteiro. Acinzentando a lagoa, mudando o céu. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres

autobiografia, história de ‘faz de conta’ ou sou eu mesma bocejando…

“Mes vingt premières années, il y a longtemps que je désirais me les raconter; je n’ai jamais oublié les appels que j’adressais, adolescente, à la femme qui allait me résorber en elle, corps et âme: il ne resterait rien de moi, pas même une pincée de cendres; je la conjurais de m’arracher un jour ce néant où ele m’aurait plongée.

Peut-être mes livres n’ont ils été que pour me permettre d’ exaucer cette ancienne prière. À cinquante ans, j’ai jugé que le moment est venu: j’ai prêté ma conscience à l’ enfant, à la jeune fille abandonnée au fond du temps perdu, et perdues avec lui. Je les ai fait exister en noir et blanc sur du papier.” (La force de l’âge, ed. Gallimard, coll. Follio Prologue p.11.) SIMONE de BEAUVOIR

Nesta lembrança picada de esquecimento, o desejo de contar/dizer o que, de fato, restou ou fez sentido, ou se destacou nesta vida arrastada / atropelada (estupidamente simultâneo). Esta memória me acorda e diz: estou/ estás viva menina. Ainda deves seguir, fazer. Tecer o tear… Fazer a manta, costurar as bordas e te aquecer. Será isso escrever memórias lembradas? Respira o caos em mim, espirro. Doer e dançar faz ser eu? Idade se mistura com consciência e segue seus próprios caminhos… Pode ser tão assustador como João e Maria perdidos na floresta. Era tudo proposital? Eles tinham pai e mãe? Seriam perseguidos ou morreriam de fome? Assim é crescer. E os tais fiapos importam apenas porque sobrevivi. Estou aqui nesta praia / balneário, cidade chamada Torres sem acento circunflexo, com menos falaisies, menos areia, mais tudo que qualifica cidade. Escola faculdade / lojas e vitrines, poucos veranistas, muitos muitos torrenses instalados, e outros a se chegarem para viver na mais bela praia do Rio Grande do Sul. De onde eu vim, por onde andei, por quais lados estremeci? …a recordar, eu estrei. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres

Rio de Janeiro volta e me abraça – foto de Pedro MOOG

devagar bem bastante lento

envelhecer tem este cuidado. lento jeito de ser. ficar gente grande parece um rompante, e, a vida mais que corre, escorrega. sem freio no tempo. eu sigo, caminho, o envelhecer é lento. coragem ou espanto? escorrega, a vida… Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres abrindo a janela. o corpo dói, reclama, devagar.

Ecrire en tant que femme. J’en prens de plus en plus conscience. […] Moi-même, femme, ventre, avec des fenêtres grillagées, les yeux violés. Rues tortueuses, cellules secrètes. Labyrinthes et encore labyrientes. (p.286) Anaïs Nin – Journal 2 – 1934-1939

MARINA COLASANTI

Então a linda filha do rei atirou-se na água de braços abertos, estilhaçando o espelho em tantos cacos, tantas amigas que foram afundando com ela, sumindo nas pequenas ondas com que o lago arrumava sua superfície.” (p.47) Marina Colasanti Uma ideia toda azul

Então, eu tento revirar a memória pra lembrar onde e como eu era / eu fui, onde e qual lugar me tornei princesa, ou era a borralheira com a vassoura, quando eu me atrapalhei com / na memória? As perguntas se atropelam e confundem. As respostas tropeçam… Aonde coloquei as caixas com os papéis que me explicavam e definiam? Preciso dos documentos carimbados. Em qual caixa estão as fotos arrancadas, por que estão cortadas? Em que tempo eu deixei de ser eu, eu… a menina dos recortes, das revistas coloridas, da fantasia atrás da cadeira, do fogo da lareira, das calçadas? Eu tinha mãe e pai e tia e irmãs. Um mundo meu, de repente ficou tudo revirado e fui ficando marionete ou princesa. Que susto! Viver tem sobressaltos e pesadelos e o limbo. O tal limbo… Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025- Torres – cinzento agora, frio depois do calor – será que vai chover amanhã?

vai ou racha

ou racha indo, sem olhar para trás, importa é fazer. tocar. dói o corpo todo, num puxado de pernas e braças e coragem… dói a alma também. vou testar a resistência deste aventura antes de contar anos de vida: perfumados os vintes anos, graciosos quinze anos, valentes os tais vinte e cinco. e depois? arco e flecha: penas, adornos, cara pintada, investirei e ganharei a luta; em frente guria. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres