conceitosssss

O estilo é o princípio da decisão numa obra de arte, a assinatura da vontade do artista. E, como a vontade humana é capaz de um número indefinido de posições, existe um número indefinido de possíveis estilos para as obras de arte eu vou dizer sem explicar…

Pensei. Se eu consigo ser eu mesma, se eu sei quem sou / mesmo derretida de amor, ou seca sem água, sem sorriso, se sou eu a atravessar este deserto, concluo: eu = a meu estilo.

Devagar. Lentamente, ou inadvertidamente suspiro. Cheguei em casa, no meu estar perfeito. Comprei uma braçada de margaridas e começo a dançar. Gosto do embalo. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres ensolarada, morna, e feliz.

agarra o vento

agarra o vento, espalha o pincel, segura este agora, nosso beijo, o abraço, o beijo meu querido. amar é assim mesmo, entre a ventania que não nos deixa ouvir nem falar, e o silêncio quente de acarinhar. é assim mesmo, querido, a coisa boa de ser feliz. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres

observação: exercício

atrás do detalhe da memória estressada, um eu cansado. desavisada, descontraída estou a te pensar, meu querido. termino de limpar e de pensar. dores picadas atrapalham… elas se espalham pelo músculo, acho que se dobram… também elas cansam de ficar imóveis, quietas ou sentadas. já não pensam mais, mudam de lugar, e eu sinto com elas. dores se dobram… vou soltá-las ao vento. talvez conversem na calçada… pois é. enquanto limpo o cheiro se altera, os livros gritam… mas eu não me encorajo. limpá-los, escová-los ou mesmo organizá-los, preciso. esqueço o tempo. pois é, meu querido, esqueço de te escrever, não de te pensar. não de te pensar e amar devagar: tenho sonhos vivos, saem pulando da minha cama e se agitam pela casa a te procurar… eu preciso que voltes. um beijo. Elizabeth M.B. Mattos – agosto – 2025 – Torres

vou deixar a porta aberta…

prateleiras da memória

Arrumei a cozinha, inacreditável aquela louça crescendo e já montanha… Grandes panelas cansadas! Os vidros opacos, as vidraças cheias de nuvens! Apliquei energia, ginastica nos dedos, e coragem, muita coragem da prateleira… Costumo organizar as gavetas e também refazer a ordem das prateleiras: ânimo, vontade, coragem, entusiasmo, saudade, memória um, dois e três. JMCLA, JK, FHT esfarelado, franjas, agulhas amarradas…AAM, MBM, Mercedez Benz.

Uauuu! As histórias se soltaram e estão a dançar. Faz bem dançar. Empurrei o aborrecimento azedo e neurastênico. Sobreviver ao vento, cantar junto. E estou acordando… dia se espreguiçando. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres – quase perfeito

coragem

tá me faltando coragem: tem sol, tem dia bonito, tem um tal de calor chegando, tem IA, tem fruta, tem carne, tem dois pacotes de farinha, açúcar, café. tem besteira feito declaração, tem declaração pipocando ameaça, risada e gargalhada. beleza e urso feio. tem cachorro especial, tem beleza esparramada…Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres / também tem preguiça, nenhuma, nenhuma mesmo, vontade de caminhar, e eu preciso me mexer.

exibida

Eu sou, não aguento!

Feliz com o tempo conquistado. Vencer, fazer, acontecer, a surpresa do dia, da volta, e do tempo, minha filha! Que bom! Em dia com o dia, o caminho, e a beleza! Ah! Eu acho tão linda a minha garota! Elizabeth Mattos – agosto de 2025 – Luiza, hoje, Recife – Pernambuco

Que os três não fiquem com ciúmes / sou uma eterna apaixonada.

agora no frio

frio / um bom e respeitável inverno. lembranças congeladas, as boas, certamente, as boas. quero refazer todo o caminho, para colher margaridas, claro, e as pedrinhas branca, as tampinhas… houve um tempo em que calçadas eram tesouros, preciosidades. as calçadas nos pertenciam, ralavam meus joelhos, viravam jogo de sapata, e ou plenário de alegria (melhor) e choramingo. estou encolhendo, um medo esquisito, estarrecimento… estremeço, às vezes. não compro rosas embora não venham com espinhos, não entendo… as questões televisionadas atrapalham, eu acho, perco tempo. a novela da politica, os mesmos galãs, e as vozes iguais, promessas e estremecimentos, os mesmos. se o mundo implodir, ou nós explodirmos nasceremos trevos, talvez… há de se acreditar em fadas, lobos e os eternos... o governo do nosso país / o mesmo. velas e bolos / chocolates e sanduiches: servem diariamente. que festa! não termina a banda / a mesma do Chico Buarque. envelheceu o Brasil com tanta festa, esbanjando, festejando, como eu. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres, mas podia ser Santa Cruz do Sul, ou o Rio de Janeiro, Rio Pardo, Santo Ângelo, ou Ponta Grossa, não, podia ser Paris.

gosto desta foto

transgressão

toda a manifestação é /ou pode ser /e será transgressão… transgredir sem limite? organizo ou passo de um lado para outro o tempo. busco a lógica ou apenas entendo. quem sou? por que sou? margaridas entram neste meu fazer… revolvo a terra, adubo, rego, observo, conta as pétalas. não existe caminho certo, absoluto, não existe frase correta. ah! as minhas margaridas! não durmo bem como gostaria, mas eu tento entender o sono na noite, fecho os olhos. sigo. caminho, faço o que é preciso ser feito, ou sei lá… faço o sol nascer, a comida ficar gostosa, faço o sorriso do dia, mas não entendo nada. estou a espera, espero compreender, não se trata de aceitar, mas de compreender. por que as rosas não cresceram, e as urtigas invadiram o meu gramado? Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres

tirania do literal

vivo a tirania do literal. falar / dizer se transforma em dar um pulo no escuro: perigoso. caminho, e se possível, imagino. imaginação ou lucidez? a essência da ficção é o trabalho solitário: o trabalho de escrever, o trabalho de ler… Elizabeth M. B. Mattos – agosto – 2025 Torres: ainda gelado, limpo e quieto. ruas vazias, hoje, sem vento.

Na Filadélfia, comecei a fazer cálculos que pouco ajudavam, como multiplicar o número de livros que tinha lido nos anos anteriores pelo número de anos que poderia esperar viver, e identificar no resultado de três dígitos não tanto uma intimação da mortalidade, mas uma medida de incompatibilidade entre o moroso trabalho de ler e uma vida moderna superagitada.” (p.199) Jonathan Franzen Como ficar sozinho – ensaios – Companhia das Letras, 2012.