A alma é essencialmente ativa, e a atividade de que tenho consciência não é senão uma parte desta minha atividade consciente. Ou seja, faço tanta coisa instintivamente… no impulso, no vácuo para não dizer, inconsciente mesmo. Fico querendo afirmar. Afirmar que o dia é quente e faz sol, afirmar que o inverno foi frio, frio, mas nem tanto assim… Sempre tem o mar a contar histórias diferentes. Assim, viver é doce / surpresa meu querido. Sabes o que eu queria te dizer, meu amado? O que parece impossível, é, muitas vezes apenas uma impossibilidade toda subjetiva. Impossibilidade do momento, não absoluta. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2025 – Torres
Dia de conversa apressada. Soluço no ar, depois risada. Sempre com o mar… Ah! O ir e vir muda/transforma. Prazer de viver invade, resolve, e abraça. V i v e r! Descoberta de sentimentos misturados, saudade vagarosa e boa de certezas: estou. O que eu posso contar da minha vida? A história inteira… Completa. A calçada, jogo de pular, buracos nos canteiros. Luz do dia, do sol, da lareira, dos abraços abraçados. A gente sente saudade de pai, mãe, de tios, dos primos, e, das correrias de ser criança. E lembra do susto que foi crescer. E cá é verdade, pensar machuca um pouco, a inteligência ela mesma, é dolorida, mas sem doer a vida fica nuvem passageira, não fica? Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2025 – Torres
não quero perder a minha história, nem navegar de história em história… fico presa / ancorada na rua Vitor Hugo: penso Humaitá, ou caminho pela Redentor… vou caminhar/ viajar até Rio Pardo, Santa Cruz do Sul e sentar na praça. quando fecho a porta, ou me volto para a infância, estranhezas acontecem… não, não vou… quero ficar ancorada na minha história de menina. eu vou / fui me apaixonando, tanto e tantas vezes! perdidamente. quando não amo, quando fecho os olhos, existe uma sensação de oportunidade perdida. talvez não haja nada, nunca que possa se equiparar à lembrança de ter sido jovem junto com alguém… apaixonar-se. ser abandonada também aperta, eu fui. mas, quase sempre há o recomeço, o amor tem ondas… um banho de mar, ondas altas, mergulhos, e o sal com sol… a vida. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2025 – Torres
tão complicado e intrincado como parece? tão repetitivo e constante… a gritaria pode ser a mesma em vinte anos, em quinze ou vinte três anos? cinco anos de casada, ou apenas treze? ter dinheiro suficiente, trabalhar bastante… perdoar mais vezes do que amar. arrastar / levar junto / falar mais alto. como decidir o certo? quem ama quem? como é mesmo que a história boa é a bem vivida e, verdade verdadeira, são todas absolutamente mal contadas… o solido são as investidas. a infelicidade coroada de apelidos, de vantagens pequenas / paisagens novas, acervo de praia de / piquenique / barracas e arreia. mar. vamos dar os créditos ao sol, ao mar e as manhãs caminhando pés nas areias. como pode a leitura perturbar, estragar o sono, sacudir a dança, empoeirar a sala. os vidros imundos, tudo com poeira e cheio indefinido. vou colher de botões de rosas. comer um assado bem feito, batatas, arroz e verduras. enfia na bolsa a vontade e caminha; dá uma volta inteira na lagoa / importa. atordoante o livro.se passa na Itália / o mundo precisa ser referenciado, mas DEUS! seremos assim assim tão enlouquecidos? atordoei. afinal viver parece um estado de loucura máxima / e enlouquecer precisa ser diário / comum, com certa continuidade… Marco Frigniani / Modena / RIO de Janeiro, minha terra, por que estou em Torres? não quero mais ficar. Vou para Recife. Com certeza, irei. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2025- Torres
esta coisa de leitura / de gosto ou enfretamento do bom / do gosto… feitiço dos bons livros! um soluço. no meio do parágrafo se surpreende: eu arrepio. o autor fala / sussurra, explica / pensei agora, soluça, depois se atira, volta ao texto, escreve. / revira a alma explica o sentimento, disfarça, inventa o cheiro… ah! passado o inverno chega o momento / a hora de lavar tudo / sou eu e os cheiros. derramo jasmins, converso com o sol, empurro as nuvens… dormir em tardes quentes, acordar nas madrugadas frescas… Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2025 – Torres
[…] coloco-a em um envelope, desço com ele até a caixa do correio. Quando você abrir a carta, voltarão à sua lembrança aqueles dias e quanto, mas quanto mesmo, eu te amo.
está tudo dito a cada página, claro, mas eu vou repetir, escrevo outra vez porque te amar / pois é / a certeza de amar a ti e o sentimento foi tão bom! tão completo! sempre é não é? com todos os amores amados é… joga -se tudo para o alto e nós nos jogamos no sentimento… acho que isso nunca mudou / nem vai mudar. talvez agora eu sinta um pouco / apenas um pouquinho menos, mas ainda estou mesmo apaixonada. acho que esta coisa de surpreender acontece e pronto. um beijo / dois hoje, e não te esquece do chá. Elizabeth M. b. Mattos – setembro de 2025 – Torres
Afa! Sandro Veronesi O COLIBRI
Deveria ser de conhecimento geral – mas não é – o início das relações interpessoais é decidido no início, de uma vez por todas, sempre, e que para saber antecipadamente como as coisas vão terminar, basta olhar para como começaram. Com efeito, quando uma relação nasce, há sempre um momento de iluminação no qual também se consegue vê-la crescer, estender-se no tempo, tornar-se o que se tornará e acabar como acabará – tudo ao mesmo tempo. É possível vê-la bem porque, na realidade, tudo já está contido no início, como a forma de todas as coisas já está contida em sua primeira manifestação. Mas se trata, precisamente, de um momento, e então essa visão inspirada desaparece ou é recalcada, e somente por isso as histórias entre as pessoas produzem surpresas, danos, prazer ou dor imprevista. Nós sabíamos disso, por um lúcido, breve momento, já sabíamos no início, mas depois, pelo resto de nossa vida, não soubemos mais. (p.78) Sandro Veronesi O colibri
nem sempre atinge o alvo, o bombardeio, mas o território começa a sofrer, enfraquecer… assim trabalham as ideias, as críticas, os sorrisos enviesados, as observações maldosas… assim, ou fechamos a porta… encostamos as janelas. sei lá! complicado viver / até respirar. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2025 – Torres
poço existe… água boa / talvez, ou envenenada, também acontece.
existem as preciosas e as definitivas. o encontro amoroso do tempo, escada precisa, justa para amizade, certeza e aquele júbilo… ah! viver tem o gosto certo! joelhos esfolados, luz no olhar, o beijo do acaso… tanta certeza boa… encontro sem despedida. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2025 – Torres
poeira cobrindo as caixas, a mesa / o tempo… tomates / vivos!
Algo flutuava curiosamente bem no fundo de sua risada. E todo a trabalho de teclar, colar, descolar, separar, e a memória biográfica termina numa risada. Estórias em personagens, segredos. Gargalhadas. A risada do gravurista, herdeiro de Iberê Camargo, – Eduardo não devolveu as cartas inconvenientes. Inconveniente? Guardou a seleção das gravuras, e cartas sigilosas…Guardou as temperamentais cartas. Algo flutua, curiosamente, bem no fundo desta memória. Elizabeth M. B. Mattos – janeiro – 2014 – Torres
exercício, fome e estranheza… saudade da pretinha / dela / apenas dela
saudade assim eu só senti dela / estranho isso. as outras saudades são de mim mesma com / em / nesta ou naquela ocasião / em estado apaixonado / com raiva / com ciúme / em amor / na passagem…