não é exatamente o que conta mas como se conta / a maneira como um fato se encaixa no outro e pessoas / amigos / personagens se movem… os sentimentos seguem pegadas. pegadas de fatos / acontecimentos. se eu conseguir / se eu souber / se eu puder ao menos começar… suar e focar / sem hora sem interrupções. poderá ser / será o fato gritando / miando… assustado, entre linhas prisioneiro. acontecendo, o fato…este que eu quero desenhar. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2025 – Torres cinzento – sombrio e ventoso. Torres com mar agitado e lagoa crespa.
Mês: outubro 2025
“para mim que tomo café passado até com água da lagoa…”
escrever / sem voltar / sem contar: como tu sugeriste, exatamente, tua voz / não te interrompes / dizes / sentes / assim é o tempo inteiro: máquina de poetar, argumentar, exigir. sei lá como escrever, eu apreendo, mas não completo, pois é… esqueço. não consigo anotar tudo: vassoura, puxão – sim agarrar e puxar, varrer. ou decidir, sem limpar (deixar fluir). amarrar, empurrar. eu nem aguento porque é muito mundo / muito sentir / muito aquietar e sussurrar. altas vozes, aos gritos… não, são sussurros, sussurros incertos e eles cantam todos os ritmos todos as músicas. difícil escrever no meio do sono, os sonhos…impacto. então eu aguento. amanhã eu escrevo. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2025 – Torres
lápis / papel / rabiscos verdes, vermelhos, rabiscos e guarda: verás… pai, mãe, minha tia Joana – a rua Vitor Hugo 229 – o bar Tupi, a lomba, o piano da dona Ondina – aulas aulas e teclado (não sei solfejar, nem dedilhar) / não resolveu o violão nem crescer. empaquei, mas posso te escutar horas, horas…

não, mas pode ser um sim
carrego teus sentimentos, teus terrores e medos embrulhados… quero resolver num abraço, no carinho possível, mas não consigo. traço planos, encaro o dia e a noite como aliados, mas não estou conseguindo. sozinha eu me perco no deserto do que penso entender, mas não compreendo…escorrego. aposto numa lógica estúpida e na dureza / rigidez do meu coração… não compreendo nada, então estou estatelada no escuro da minha ignorância. como posso afinal protegê-lo e abraçá-lo e ser doce ou boa: eu não sei nada. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2025 – Torres
ainda, meu querido
amado, perdido? não. sempre achado… na onda, na quietude, no inesperado de um bilhete, meu querido.
um belo dia a gente se muda? não sei. acho mesmo que o movimento dos solavancos são encontros / bons / definitivos, e, de repente, os mesmos e as tais idas / mudanças. explicar? o som do piano, a voz do vizinho… aquela insônia, o gosto da via/do rumo. a tua presença. ficar para sempre. uma risada… o teu silêncio e minhas decisões ruidosa. saudade.
o fato é que é fácil entender que há um motivo por trás do movimento, mas é mais difícil entender que haja algum também por trás da imobilidade. Mas isso é porque, aos poucos, nossa época foi conferindo cada vez mais valor à mudança, inclusive como fim em si mesma, a mudança é o que todos querem. Assim, não há o que fazer; no final, quem se move é corajoso, e quem permanece parado é medroso; quem muda é iluminado, e quem não muda é obtuso. É o que nossa época decidiu. Por isso, fico feliz que você tenha se dado conta (se é que entendi direito a sua carta) de que é preciso ter coragem e energia também para ficar parado. Penso em você. (p.280) Sandro Veronesi – O colibri
estou deixando o tal tempo passar: tua voz ecoar. estou esperando a memória desenhar, e… vou interpretar. antes, durante, depois. saudade apertada. um beijo. ah! pensei ainda… será mesmo de ti que sinto saudade ou do amor, da expectativa e das minhas próprias risadas? todos os dias digo / acerto / planejo contar / dizer como foi viver e ser feliz assim… Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2025 – Torres

imaginação
Ninhos e conchas. Habitar e proteger. Estou a imaginar / o lugar / a casa / o cuidado de morar – proteção. Como explicar? Passei o dia a limpar, ordenar e reorganizar. Descanso o olhar no que está arrumado, limpo. Penso: enquanto me abrigo, eu me protejo. Cobrir e se esconder alimenta a imaginação. A criança transforma os seus dedos em personagens… eu brinco. O claro escuro: dia e sol. O quente e o frio, aventura. A sombra também é habitação, explico. Teu olhar me encoraja. A rua Dario Pederneiras, a rua Vitor Hugo, sigo o mapa. Volto, devagar. Vejo a casa, os jacarandás. Referencias de amor. O coração de uma rocha. Senti saudade. Saudade de estar contigo. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2025 – Torres, mas poderia ser Porto Alegre, talvez o Rio de Janeiro, ou ainda Rio Pardo, Santa Cruz do Sul: plantei árvores e amei. Aonde, exatamente, estás?
caixa vazia
novas caixas e caixa vazia. aonde estarei colocando as aflições? misturadas com ansiedade e com os medos? separei aflições, guardei as ambições e coloquei a dos choramingo na caixa verde no alto do armário. Só alcanço com escadinha. começou uma chuva mansa. o cinzento do dia aquieta a alma. vou reler as cartas / responder aos amigos e empilhar os acertos. o piano entrou e… a música conversa. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2025 – Torres – primeiro dia sem jornal… passos pequenos para entrar na minha vida, apenas minha.
beijo leve, clandestino
um beijo leve, clandestino. as mãos se juntam, não apertadas, tocadas. todo e qualquer gesto emoldura felicidade. eu te amo. e foi para sempre, tua primeira viagem, teu primeiro Rio de Janeiro, tuas pequenas férias e nossa liberdade. não importa a história toda, volta o ingênuo e bom encontro: o amor. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2025 – Torres

meu querido, querido
quando viajas, quando vais, o sono se inquieta e todos os caprichos pulam de cama para cama, não durmo… o dia começa a se sacudir na noite, fico enjoada. frio, calor, um arremedo de inquietude e… tu já foste. sei, vu me acomodar e te esperar. beber um leite morno, come o pão que deixei no fundo do pote, uma gel[eia…ou manteiga. passo um café e sento pra esperar o amanhecer. amanhã te conto das saudades que amontoei na gaveta e fechei com chave. vou ser outra amanhã. um beijo. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2025 – Torres
madrugada engole o dia e
madrugada engole o dia e se espicha inquieta, num acerto incerto dominado pela angustia e as questões pequenas brotam como margaridas e se impõem… os pingos crescem no meio da casa. e os motivos… quais motivos se pedem. era uma história contada, fotos datadas, cartas ordenadas…uma canseira de certezas, o cheiro do apartamento responde a saudade do tempo, nas não sei bem o que desejo…arrumo devagar a gaveta, esqueço as caixas…eu me esforço. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2025 – Torres



coisas inesperadas e saudade crescendo…não posso ir, então, o sorrisão se espalha por aqui.