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memória ardida
tenho uma memória ardida que salta e se exibe fora da hora, fantasiada, requebrando, e se despindo faceira… ora ora ora… não se envergonha nem das calçadas, nem dos abraços e do proibido, vai caminhando pelo becos. senta, descansa um pouco, mas logo pega uma avenida… rua com jacarandás e lá vai… Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2025 – Torres, não Montevidéu nem Buenos Aires, sem FT ou racionamento e tanta gastança… a vida com as surpresas agarradas / penduricalhos e chocalhos: surpresas
ler tem qualquer coisa de perambular… perdida ou achada
perambular pelos becos, atravessar rios, queimar os pés na areia quente, esbarrar nas pessoas, sem ver, porque o sol cega, e o vento atrapalha o olhar, e o mar, pois é, o mar carrega feitiço e agita o pensamento… não há quietude na vida beira mar, tudo é constante… não há silencio, mas conversa, conversa, conversa sem pontuação, sem pausa / tipo terços de rosário, e rosário de convento… a desenrolar frenéticos, maníacos, talvez esperançosas orações. Elizabeth M. B. Mattos – novembro escorregando…
o verdadeiro é sempre novo

coisas de Jacques Lacan: “Com efeito, para as imagos – cujos rostos velados é nosso privilégio ver perfilarem-se em nossa experiência cotidiana e na penumbra da eficácia simbólica – a imagem espetacular parece ser o limiar do mundo visível, a nos fiarmos na disposição espetacular apresentada na alucinação e no sonho pela imago do próprio corpo, quer se trate de seus traços individuais, quer de suas faltas de firmeza ou suas projeções objetais, ou ao observarmos o papel do aparelho espetacular nas aparições do duplo em que se manifestam realidades psíquicas de outro modo heterogêneas.” (p.98 Escritos)
ah! estas questões dos escritos e dos falados e do pensado em sequência estranha da memória quando as conversas podiam “se arrastrar” ao som da voz, da argumentação, sem espelho, sem idéias, sem enfeite… porque éramos extremamente jovens. será que faz falta a juventude para esbarrar na vida amorosa e ser pessoa, outra vez, não mais sombra? existem tantos perigos! como ligar para um amado esquecido, desejar uma voz ou um acerto. então, de repente, a loucura, aquele certeza idiota ‘quem eu sou?’. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2025 – Torres sou ainda aquela que se apaixonada e não percebe a sombra… ( sou distraída) ou melhor, não percebe o povo que circula, rodeia quem amamos… amamos?

quem é?
olá!
Francisco José está?
sim / mas ele não fala nestes aparelhos…
ah!
ele está bem?
sim.
quem fala?
a esposa dele.
ah! ele está bem, então.
obrigada.
e tem esposa! (silêncio)
ótimo.
Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2025 – Torres
quando a gente liga… e a conversa é interessante
espelho mata / destrói a alma
três pontos, a certeza de que não paramos de pensar e continuamos… sim, estas coisas de alma, de corpo, pastéis e cerveja. alegria dança, sol e vento… ah! malditos pontos. envelhecer sentada na memória / a palavra. palavra frouxa e solta a se arejar por ai… por ai… espelhos são cruéis, definitivos, ah! se distorcidos fossem… coisas de fada madrinha, conversas velhas, respostas limpas e juntas, ah! se não houvesse espelho seríamos fadas para sempre e gentis. ou iríamos a Marte. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2025 – Torres
parece a mesma coisa…
mas não é. tanta coisa! descoberta, depois de uma, outra. beijo abraço sorriso ou voz // e muito muito muito silêncio bom…gostar é assim, um sentimento que tropeça e desgasta e cresce e volta / desaparece, nasce outra vez. sentir tem um caminho comprido… viver é atropelar o mês de novembro, logo vai chegar o fim deste 2025 / aqui a soma é nove, com um rechiado 2026 a soma tirando o 9 é mais 1 – o que importa. estás começando… Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2025 TORRES, vou recomeçar.
estranhamento ou ardilosa posição
estes sentimentos tem estantes definidas e… limpo, tiro o pó e me pergunto a validade deles. amores velhos também devem ser dispensados, esquecidos, e as cartas melosas e infantis, cheias de abraços e beijos e vontades repentinas de olhar e tocar, brincadeiras automáticas precisam sumir porque o verão, o sol limpa tudo. o mar, a delícia da praia, as caminhadas com suor pelo corpo que exalam alegria enrolada na liberdade… estes são os bons valores. sou feliz! Elizabeth M. B. Mattos = novembro de 2025 – Torres


uma certa hora
Uma certa hora / um certo ano / um certo dia de um certo amor / um certo momento de amor ou prazer / de repente esquecidos. A forma física é um temperamento que se tornou visível.
31 julho de 2015 / sexta-feira
CUIDADO! Saudade utilitária, cuidado! Tem um sentimento que “dizem” ser saudade, mas é mais necessidade de companhia, “apoio”, uma saudade utilitária. Isso! Cuidado com a saudade utilitária, o amoroso fica soterrado. O outro não é o outro,
mas a bengala, depósito, a segurança.
A saudade deveria ser um sentimento s o l t o de exigências / livre e quando se está com outro é apenas presença / estar com outro. Mas terminamos em apoiar / amarrar a saudade nas carências muito mais do que no afeto. Então, estar perto fica esvaziado de amorosidade (cobrança / exigência / um pedaço de mágoa / do ontem). Nem cuidamos do amado, massacramos em nome da intimidade / familiaridade. Nós nos autorizamos liberdades, mal humor, rabugice, maus tratos em nome de afeto. PO que este equívoco? O sentimento amoroso precisa se apoiar em certa admiração, respeito. Amor com recibo. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2025 – Torres

voltar é encontrar?
sim, encontrar tem um gosto de posse… coisas de viver os amados achados e os perdidos. afinal viver tem este desacerto azedo que significa e importa. sem figurinhas, palavras certas. polir, limpar, jogar fora, encontrar… e dormir com sono. Elizabeth M. B. Mattos – novembro atropelando – 2025 – Torres