para aliviar a ansiedade a pessoa se retira deste mundo, entra para o mundo dos objetos (pinta/imagina/viaja). de um real dito palpável, e ou dito irreal (risos), viaja (viajar – uma boa palavra). viajar pode ser concretizar o irreal…
o poder da leitura e do livro assusta.
para aliviar a ansiedade fecho a porta, e aprisiono a vontade.
escondo o fato, bordejo… eu viajo.
não há nada de errado com o medo, importa conhecer / identificar, manejar sem que ele domine. pensar /meditar pode ser liberdade. o medo acorda a vontade de mudar / e faz acontecer. Elizabeth M. B. Mattos – maio de 2023 – Torres
ao acaso do caso, uma exaustão interna, sei lá… esta temperatura de frio depois calor, depois o sombrio, depois tanto sol, e o fio da leitura perdido. lembro do Pedro a sublinhar a leitora, não escriturista. a ortografia, o telhado nos telhados.
aquietar o voo… mudar. resposta não clareza. será minha preguiça esticada? faz de conta agitado, este caminho do mesmo.
sim, o enjoo do lugar, da monotonia. isolamento. o perdido, a desordem… a poeira. sei lá! a desordem, o vagar. pernas e braços parados sem motivo! enjoado, velho, desgastado. preciso deste novo! imaginar outro lugar / outro estar / outro ritmo. voltar a ler. Elizabeth M. B. Mattos – maio de 2023 – São Paulo
lucidez / clareza a lampejar. sair do lugar, um único caminho (paradoxo) em todos os caminhos… cobiçar o outro sem ser o outro, pendurar o olhar no outro / esbugalhar… coisas de desejo ansioso
o que há de maravilhoso na música é o fato de que ela realiza de modo tão fácil e rápido aquilo que somente de forma/jeito muito trabalhoso pode ser feito com palavras, ou o que não pode ser, absolutamente, feito. universo completo / no silêncio / na solidão a música, ouvir, um afinado exercício de existir. é preciso superar o que somos, ser melhor, um artista pode ser uma criatura impelida por demônios – estamos, mais ou menos, contornando um abismo, e estas cores que se misturam, estas formas que desenham, estas vozes que gritam e este barulhento silêncio precisa ser controlado. Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2023 – Torres
a música não fácil nem rápida, ela tem o braço eterno / o som nos pertence em todos os níveis, como o silêncio, qualquer explicação é menos –
às vezes atropelo minha vida = às vezes, atropelo a vida com sustos, estupefata! uau! atropelada, atropelo a vida dos filhos = amo, exijo, vou fatiando, invento. enfim, vivo: uma esquisitice ser mãe, eu acho. não entendo nada, mas Freud quer explicar, explicou? não sei.
não é preciso estímulo para fazer alguma coisa, mas obstinação, ou ar para respirar e o que precisa ser feito será feito, banalidade normal, ser o que somos, quem gostamos de ser para nós mesmos. eu diria, acomodados na caixa, dos projetos montanhas, no parque de diversões das florestas… aniversariar nas boas datas, ou se aborrecer pelos cantos, namorar adoidado… sei lá, ou casar. Elizabeth M. B. Mattos – maio de 2023 – Torres uaiiii! os netos nos salvam, quem não tem filhos, nem netos, com certeza se explica, não faz esquisitices, eu acho.
“Je ne crois pas à la Vérité. Elle ne sert qu’ la bureaucratie, c’est à dire à l’oppression. Dès qu’une aventureuse théorie, affirmée dans la passion du combat, est devenue dogme, elle perd aussitôt son charme et sa violence, et du même coup son efficace. Elle cesse d’être ferment de liberté, de découverte; elle apporte sagement, étourdiment, une pierre de plus à l’edifice d’ordre établi.” (p.11-12) Alain Robbe-Grillet Le Miroir qui Revient – Les Éditions de Minuit –
Infância e memória: fonte de erro, engano, ilusão e tanta vida. O descaminho e a confusão da imaginação. Quantas vezes ocorreu-me sonhar durante a noite, junto ao fogo da lareira, quente. Quando abria os olhos, não estava lá, mas nos teus braços. Pensarei. Penso que o céu, o ar, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas externas a mim são ilusão, enganos, invensão. Reconstruo o homem. Ele tem a tez escura, os olhos pretos. Nariz grande, boca rasgada. E perfume no corpo. Braços e mãos de pescador. Quente e terno. Estou no desejo dele, no corpo dele e na minha imaginação.
Comprei flores, um pequeno baú com chave para guardar suas cartas. Um relógio, uma lupa. Brincos com pérolas pequenas. Um anel de ametista, sem lapidação…
Levei dois cálices para água, dois para vinho. Frutas lustradas, perfumadas – a pequena cesta ficou festiva. Chás. Ervas naturais. E as hortências estavam refesteladas. Vestido com decote. Invadi a calçada. Entrei na loja para o surpreender. E me deliciei. Os tecidos, exóticos. Mercadoria preciosa: China, Paquistão e também da África colorida. Levo o livro de Rainer Maria Rilke As cartas ao jovem poeta, nas margens desenho letras de confissão. E claro! Paris é uma festa, por que não reler também Não apresse o rio, porque ele corre sozinho…
Memória misturada, prazer apressado, tua voz. Elizabeth M. B. Mattos – maio de 2023 – Torres, mas tanto Porto Alegre, idas e vindas. Estar contigo deixando a vida correr por aqui: foi tão bom!
“Melanie Klein era uma personificação das teorias que construiria mais tarde: o mundo não é uma realidade objetiva, mas uma fantasmagoria povoada com nossos medos e desejos.” (p.73) Phyllis Grosskurth O mundo e a obra de Melanie Klein
Diários, autobiografias podem ser adulterados. As cartas podem ser uma boa radiografia / quando fragmentos de notícias, pequenas pontes. A carta pode trazer algum detalhe significativo e fiel. Embora também possa ser um modo velado, a correspondência, tem um interlocutor evidente, o confidente, o membro familar, o amigo especial. Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2023 – Torres
…se fosse passear e beijar seria tão! tão! não sei… O dia começa no estica e lava, e limpa, arruma, pendura a roupa, recolhe, passa (porque gosto), perfuma, areja. Olha pro sol, pro vento, tira areia dos tênis, das frestas… Troca água dos vasos, e respira fundo. Três jogos de paciência, reviso o francês no Duolingo e a manhã já começa a ter o almoço no cheiro da hora.
O livro era mediocre. A manhã outonal brilha brilhos, confetes. Deve ser coisa de brilhar a vida. Sair do porão e despejar mensagens positivas no facebook porque é preciso acreditar. Então, eu me pergunto, o que é mesmo que eu quero? Quereria teus beijos, teus carinhos, tuas conversas e tempo… Tempo de caminhar juntos?! Talvez. E já pensei nas lágrimas. Lágrimas fáceis e jovens.
Quando Lucas (meu neto) fez uma apresentação de piano, concerto miúdo, perfeito: chorei bastante. Depois, guardei um balde de soluços para o João, a se diplomar com profissão, tão valente! Degraus rústicos, ele príncipe. E sou eu a imaginar sem viver, ou eu vivendo relíquias… Ah! Se eu tivesse um piano! Se eu soubesse fazer música, ah! se eu tivesse pincéis e tubos e telas, ah! se eu lembrasse de fazer! E se ainda pudesse correr! Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2023 – Torres