A DONA DA HISTÓRIA

Levanto cedo, faço café preto, como pão com manteiga, mel. Lavo aqui, escovo um pouco ali, molho as plantas, e estudo. Aspirador. Mesa com lustra móveis, outro dia  não faço nada. Precisas ver minhas mãos!  Escrevo cartas, conto histórias, e o dia termina sem voltar aos teus poemas. Imaginação, promessas de  tempo que não chega, o amor. Não quero aceitar, mas aceito o presente, as conversas, os dias marcado.  Aceito  e navego nela. Ver o filme “ A dona da História”. Posso até dançar!  Gostei.  Catastrófica sessão dos velhos, todas as velhas do Moinhos de Vento reunidas. Tão engraçado! Uma levou a almofada de botar nas costas, outra carrega a outra velha, ou o velho, falam bem alto, trocam de lugar, estão arrumadas com boca pintada, faceiras. Eu mesma com o meu velho e grandalhão suéter pro frio, meias de lã, também. Não esquece que o sol está quente nas calçadas, mas é assim do quente pro frio, do calor pro bom tempo depois que o homem furou o céu. O filme? Adorei, adorei estar no Rio, estar tão jovem, beijar o Santoro estar, ainda, depois de 30 anos casada com o Fagundes podendo ir a Cuba que é Paris, Londres e Veneza ao mesmo tempo. É mesmo? E, na vida real, ter sido, mulher do Chico Buarque. Eu até chorei! E tu vais dizer que não é possível ser?!  Sou eu no cinema de um dia de sábado, com céu azul no Moinhos de Vento. Igual ao filme vestindo Paco Rabanne. Alienação, nada de passeatas, ou Cuba, ou fazer arquitetura, ser intelectual. Com a praia do Leblon, e o poder da beleza, ter vinte anos. Aquilo tudo lá dentro fervilhando. Por que não pude, então, ao menos ter amor entrando certinho assim, ficando, sendo, e terminando  no amor?! Droga! Queria estar lá no filme, fazendo cinema, colorindo tudo sem a angústia, sem medo. Livre. Nada. Estou aqui, num lugar que nem existe em mapa nenhum, estacionada em lugar nenhum, fazendo coisa nenhuma.  Então, ao acaso, leio a ZERO HORA  O prisioneiro de Gaspra  de Sérgio Faraco.

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