Filha: penso em ti todos os dias, todas as horas sem me decidir se devo seguir em frente, parar, rir, ou chorar! Piso nos explosivos, voluntariamente, ou sou mesmo desastrada? Não sei. Como é o nome destes mortíferos instrumentos? Minas. Na guerra as minas aleijavam, matavam. No meu tempo de guria eram elas as moças de programa as minas. E era mesmo desvio? Sexo. Não se podia fazer ‘agarros’ com a namorada pedida em casamento. Deveria ser virgem, casta e boba até o dia fatal. Nesta noite da lua doce seria habilidosamente introduzida aos prazeres. Mais tarde aos cuidados da casa e maternidade. E tudo sem manual. Será que sou mesmo tão antiga? Pois sou. O tempo impiedoso mostra as pernas cansadas, gorduras inadequadas, e o vento sopra em fiapos de cabelos brancos! Lamentável! Mas algumas mulheres, homens chegam aos oitenta e cinco, noventa anos vigorosos, elegantes, tratados, viajados e amados. Parece injustiça. Talvez seja. A economia, os ganhos, os reais, dólares, euros e libras estão mal divididos. Se protegidos o vento não sopra, as pernas repousam, e tudo se apresenta no melhor dos mundos possíveis. Envelhecemos como meninos em redoma. Sem minas no caminho, nem sobressaltos. Estamos no maior CIRCO do Mundo! O planeta Terra. Bom que faz sol hoje!