A primeira viagem seria a Praga, a cidade labirinto?
“Labirintos é a particularidade de Praga. Entra-se por uma porta, em busca de um copo de cerveja ou na perseguição de uma mulher bonita e, de repente, num repente, chegamos a uma rua toda outra, inesperada; ou a claridade se denuncia em um dos maravilhosos jardins interiores dos palácios da Renascença. Mas há também os labirintos que não conduzem a lugar nenhum: uma parede se levanta onde devia ser uma saía em um dos corredores; outro conduzia a uma escada apenas pressentida no escuro, e é preciso tempo e paciência para retornar-se sobre os passos dados para voltar ao ponto de partida. Da mesma forma Praga é a cidade das ruas falsas: de vielas que vivem apenas alguns metros ou que são, longitudinalmente, calçada e escada; de ruas amparadas por muros úmidos, onde os musgos desenham arabescos fascinantes, que fazem de cada observador uma espécie de psicopata, atraído pelo mistério que encerram. E quem ler detidamente a obra de Kafka encontrará os traços desta presença. O mofo, o velho, o azinhavre dos metais ociosos, tudo isso são instrumentos de que se vale Kafka para a escritura de sua mensagem.”
Jornal do Brasil: fragmento – Rio de Janeiro – 07 de junho de 1969. Mauro Santayana.

