Quem limita o impossível de cada um?
Envelhecer, medo assombrado. O medo ganha corpo, autonomia, e decide morar na mesma casa, sem perguntar. O intruso entra, e fica… Não vizinho, mas coabitando. Está no que antes era apenas meu. Deita-se na mesma cama. Come ao lado, na mesma mesa. O mesmo sofá, interfere nas leituras, nas risadas. Decide se vou, ou não abrir o livro. Medo mesquinho, manipulador. Precisar de, sujeitar-se, apequenar-se, despir-se em frente ao estranho. Abre minhas gavetas, espia caixas, deleita-se com a desordem do armário. Altera minha rotina, o medo.
Para sobreviver existe, também, alienação automática. A luz se acende… Divagar. Filosofar. Desligar televisão, rádio. Não abrir os jornais, nem as revistas. Num estalo embarcar rumo a ilha. O inacessível. Só o medo, colado ao corpo viaja na mesma prancha, no mesmo surf... A mesma onda. Dores no corpo, fome, incômodo, frio, insônia, calor. O inteiro possível desliza. Ruído, escuro, passante, vento, excesso, precariedade, carências. Reais. Substantivos dotados de inteligência. Manipulação. Para escapar de incômodos, a caverna.
E se o vento, passarinhos, ou vozes atravessam o mar … Fecho os olhos. Mahler, ou Liszt, não, Jacques Brel, Françoise Hardy, Maysa? Artificial a vida. Volto ao próximo livro.