Gaveta de memórias

Meu amigo:

Sinto falta das tuas cartas… Difícil encontrar o outro! Silêncio, o não vivido. Escrever, dizer, ouvir, entender, mas palavras não ultrapassam a experiência. Nem uma palavra, nem uma só tem sentido, ou explica. Dizes amor e ódio! Não há amor, não há ódio, não há amigos, não há inimigos, não há fé, não há paixão, não há bem, não há mal…O que nos dissemos não conta, o fato é o que vivemos.

Ao te escrever volto às cartas que não chegaram! Penso no que não apreendi…Por tanto tempo estivemos perto, estando separados! Irônico e generoso.

Não escrevo a tua história…Tu escreveste esta memória. A traiçoeira memória!  Desenhos, personagens, palavras, a doença. Tuas memórias pelas minhas…O último azul: três solitárias figuras. O código. Porto Alegre te devorou. A solidão te queimou. As cartas contam do desespero. Maltratei nossa correspondência…A história que tenho para contar não tem começo, escorrega.

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