sonhos

…, um diálogo de José Eduardo Agualusa in A Sociedade dos Sonhadores Involuntários:

” –  Vais onde?

  – Ao Brasil, a trabalho.

  – Que trabalho?

 – Sonhos. Vou em busca de sonhos e sonhadores.

 – Não precisas ir tão longe, papá. Eu tenho tantos sonhos.” (p.145)

 Devagar, lenta, sou lenta, então qualquer toque  é tanto prazer! E.M.B. Mattos

 

Francisca Chica ou Albertina

Insegurança fica por conta da insegurança, nunca vou conseguir explicar todos os motivos escarafunchar em todas as feridas, nem reservar e alimentar sementes necessárias para o novo jardim. Acordar foi de repente quando toda a pressão de ser filha mãe avó professora marchand irmã tia prima e …, pois é, depois foi depois de ganhar meu próprio dinheiro, depois de erguer a cabeça livre para ser apenas eu Albertina, não Elizabeth. Cheguei em mim mesma. Eu vi/senti/apalpei. Estou despida. Tirar a roupa é devagar, tirar a alma pra fora também é lento. O que eu quero o que eu não quero, não sei: olho para o corpo envelhecido exausto (palavras de efeito) penso nos biquínis no despudor, na loucura de amar o amor, e fico estarrecida, mas gosto do passado, do choramingo, e gosto deste fogo que arde dentro de mim. Das traições traídas e de encontros que não terminam, começam, transbordam, …. Encabulada eu me cubro outra vez, e adormeço. Gulosamente quero todas as Beth Elizabeth more e more somando apelidados como Chica (Suzana dizia assim) Francisca, Guria, Albertina, Azul, Liza ou Eliza, e fui adotando nomes, mas sou apenas a Elizabeth com z e não com s Mattos. De algum canto de Portugal este nome já simplificado do nome de meu bisavô que seria Francisco de Assumpção (riscado) Martins Cardozo, natural de Conselho de Fontes, solteiro, súdito Português -, diz o passaporte. Para o Rio Grande do Sul Abonado competentemente. Dado em o Porto aos 22 de Março de 1843. E a assinatura resultou Francisco Martins Cardozo de Mattos. Passaporte do Exterior. Signales: Idade 23 anos Altura 59 polegadas Cabello sombrolhos olhos, castanhos, nariz boca regular e côr natural. Este é o pai do Pedro Alexandrino de Mattos (meu avô). Casou com a paulista brasileira Rita Menna Barreto. Disciplina resulta em trabalho ordenado. Desordem em anárquica vida. Se estou perdida, não respiro nem penso ou retomo, corro, desabaladamente … O mar responde e esconde o que não quero mostrar. Elizabeth M.B. Mattos – março de 2018 – Rio Grande do Sul

passaporteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee

 

 

 

já amanhã

porque acordo e sinto dor no corpo

porque acordo e não tenho corpo

porque acordo, e sei que dormes

enfim, afinal, o que posso mudar, …

reconheço o balanço do tempo

já tanto envelheço, – estupefação,

e agora/ hoje desperto a te esperar

vem chega perto e toca meu corpo, – eu respiro

deita ao meu lado,

respira respira …,

juventude volta, fecho os olhos,

e já somos amanhã

E.M.B. Mattos março de 2018 – Torres in trânsito

Há um provérbio que diz que o tempo e a maré não esperam as pessoas; se o tempo não nos espera, precisamos levar isso em conta e estabelecer o nosso cronograma de forma consciente. Ou seja, em vez de esperar, devemos tomar a iniciativa de forma agressiva.” (p.91) Hauki Murakami Romancista como Vocação Alfaguara, 2017 São Paulo











 

tentativa

Silêncio nas folhas que se agitam.

No meu ombro tua mão …,

e o perfume da terra se mistura ao gosto do corpo.

Perco medo de ser apenas mulher, mas não consigo me despir dos livros nem do prazer morno, arrastado da leitura. Eliza/ Liza /Beth  Mattos – março 2018 – Torres

MATISSE atelier no sótão

Henri MATISSE – O atelier no Sótão, 1903 L’ atelier sous les toits – (Óleo sobre tela Fitzwilliam Museum).

…,mesmo a imaginar teu abraço, teu corpo.

“Descalcei – me, estendi – me na cama e pensei em Moira. Um verso formou-se sozinho. Sentei -me a uma pequena mesa, junto à janela, abri o laptop e escrevi os restantes. Enviei o poema a quem o inspirara. Voltei para a cama e adormeci.” (p.148) José Eduardo Agualusa A Sociedade dos Sonhadores Involuntários  TusQuets Editores – 2017

 

 

culpados, os livros

Não resisto, abro um livro, e esqueço da arrumação das caixas da chuva. Não consigo me despir desnudar das palavras, e ser eu,  não consigo. Cito poetas mergulho, quase me afogo, afundo, mas te juro: respiro também. E.M.B. Mattos – março de 2018 – Torres

Cada livro é uma investido na vida da gente! Quanto mais se lê, menos se sabe e se quer viver como nós mesmos. Pois isso é terrível! Os livros são nossa perdição. Quem leu muito não pode ser feliz. A felicidade é sempre inconsciência, a felicidade é apenas inconsciência. Ler é exatamente como estudar medicina e conhecer nos mínimos detalhes a razão de cada suspiro, de cada sorriso – isso soa sentimental – de cada lágrima. Um médico não pode compreender a poesia! Ou  ele é um mau médico ou um hipócrita, pois a ele impõe-se  a explicação natural de tudo que é sobrenatural. Ora, neste momento, eu me sinto como esse médico. Olho para os fogos nos morros e me lembro do querosene; vejo um rosto triste e me pergunto a a razão – natural – de sua tristeza, talvez, o cansaço, a fome, o mau tempo; ouço a música e vejo as mãos indiferentes que a tocam, uma música tão triste e estranha … E em tudo é assim.” (p.99-100) Marina Tsvetáieva  Vivendo sob o Fogo –Martins Fontes editoratradução de Aurora Fornoni Bernardini, 2008.

Mesmo assim o outono é bonito. Como é bonita uma folha caindo! Primeiro ela se solta, revoa, indecisa, depois vai caindo, caindo, num movimento harmonioso, junta-se ao chão, a suas irmãs – todas terminaram do mesmo modo suas curtas vidas.” (p.92)

fidelidade fantasia

Fidelidade palavra (sentimento) engraçado. Encontro beijo sexo abraço desejo para sempre o mesmo, igual. Fidelidade fiel leal firme constante e observância rigorosa da exatidão e da verdade (definição de dicionário), pois é. Ser livre, ou fiel, ou infiel ou prisioneira, ou eu mesma.  O ciúme mastiga devora o que há de melhor na parceria, – o direito de ir e vir. Amarra amorosa voluntária, nunca imposta. Não existe para sempre. Morrer. Mas nem morrer pode ser para sempre.  Não sei. A fidelidade se enraíza no impulso desejo vontade de que seja para sempre. A roda segue girando.  Nem sempre sou fiel a imagem projetada no espelho. Fantasia, segundo Laplanche e Pontalis no livro Vocabulário da Psicanálise:  fantasia é um roteiro imaginário em que o sujeito está presente e que representa, de modo mais ou menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um desejo e, em última análise, de um desejo inconsciente. Este ciúme grudado na fidelidade a infernizar conversa ou olhar consome amor, e também amizade. Danifica a relação. Eu acho, não sei, sinto assim. Elizabeth M.B. Mattos – março de 2018 ainda Torres. Dia de chuva pesada e boa.

vantagens e desvantagens

Vantagem de morar sozinha. O dia se revira entre o sono e a vigília. O particular sono virado me surpreende no meio da noite, ou me adormece durante o dia. Desvantagem de estar/ficar eu comigo mesma. O peso da palavra, em qualquer interlocução, fala ou dizer vira logo temporal enxurrada enchente. Eu me afogo sufoco apertada.

Às vezes a gente não sabe de que lado está o humor e a graça: amanhã vou comprar sonho e pastel na padaria.

…, as coisas não se desacomodarão porque sei sabes disso (risco zero): ambivalência controlamos, com mais ou menos intensidade. Ninguém mergulha, conscientemente, onde não deve. O Siroco é raro, mas existe há séculos, e não estraga a vida de ninguém, ao contrário. Para que a nuvem seja branca, faça com que não te perturbe. Elizabeth M.B. Mattos – março de 2018 – Torres – o que inquieta: existe o Simún

 

«Simún»: um dos ventos mais temidos do deserto

Desconhecido para grande parte dos cidadãos a nível mundial, é um tormento para os locais de uma zona específica do globo. Falamos do «Simún». Um vento de cor avermelhada que assola o deserto do Saara, entre os meses de junho e agosto. Mas o que torna o «Símun» tão temível?

As tempestades que produzem o «Simún» têm estruturas rotativas semelhantes a um ciclone. Trata-se de um fenômeno muito específico. O vento é muito seco, a sua temperatura pode chegar aos 54 graus centígrados e a sua umidade nunca ultrapassa os 10%. Esta conjugação de fatores torna o «Simún» um dos ventos mais temíveis, não fosse o seu nome, traduzido à letra, «vento venenoso» (a palavra original provêm do árabe «samûn»).

Diz quem sobrevive a este temível vento que é o mais parecido com o inferno. Quem entra nas suas entranhas, muito dificilmente sai de lá com vida, já que as probabilidades de morrer por asfixia ou hipertermia (calor) são muito elevadas. Solução? Não há. O melhor conselho é o abrigo num lugar seguro e esperar que este fenômeno passe, porque este «engole» tudo o que está à sua volta.  Goole

explode

O amor se excede em cada beijo e explode. Certeza? Por que tenho/ teria certeza? Porque sou parte do outro, e nada pode me ferir, nada pode mudar isso: no amor mergulho cega. Tenho a mesa cheia de trabalho, sinto sono. Vontade de não fazer, mentira: vontade de fazer amor, – de ficar no escuro. De estar sozinha. E (sorrindo), de me reconhecer contradizer. Em toda forma há incoerência; extrema incoerência na rigidez dos acontecimentos, os mais perfeitos. A vida desmancha-se em calamidades e o homem/ a pessoa constrói  muros, não quero muros. Tenho o infinito do mar quando olho pela janela.  E.M.B. Mattos – março de 2018 O tempo venta e passa e faz chuva, e faz vontade de amar.

 

 

 

 

 

criando coragem

Amorasazuis, o blog, é o meu livro móvel. O facebook a plataforma de divulgação. Sempre escrevi com a Remigton  máquina portátil do meu pai.  Cheguei a comprar uma profissional, cheguei a ter máquina elétrica, aquela que tinha corretor. Agora o computador. Desde sempre tive diário, correspondência, escritos por todos os lados. Magda e eu chegamos a imaginar e  fizemos, uma troca de cartas entre princesas e príncipes (escondidos em castelos e reinos fantasiosos). Adorava as bonecas bebês: trocar fraldas roupas levar para passear dar mamadeira. E subir em árvores. A calçada para pularmos sapata / amarelinha era também quintal. Não lembro de estudar. Mas de correria e de bonecas de papel. Das tampinhas de garrafa colecionadas, das pedrinhas e de pedaços de azulejo raspados na laje, das formas geométricas. Eram personagens. Não fui boa aluna, aliás, péssima. Apreender português competitivo: pai e mãe intelectualizados, biblioteca disponível, esforço e concentração para tanta distração! Sim, todas as boas condições presentes. Preguiça indolência vontade de brincar atrapalhavam. Fui tardia na alfabetização,  devagar distraída. Era a caçula e a mais livre das crianças numa casa em movimento. Petrópolis um bairro nascente com terrenos baldios e jacarandás. Andava de bonde. Comprava balas no Bar Tupi. Lembro das matinês do cinema Ritz e da missa na Igreja São Sebastião. Frequentei a Escola Estadual Rio Branco. Este período de vida me parece longo alegre e rico.

As Cônegas de Santo Agostinho, o Colégio Nossa Senhora das Graças, se apresentaram numa emergência. Por motivos sérios, ano complicado, deixava o Santa Inês, e ia para o Internato.

Mas esta já é  história pessoal.

O Amoras nasceu em Torres, tem seis anos, e foi ousadia. Desordenado, sem filtro todos os textos encontrados foram jogados na rede. Numa brincadeira de mosaico. E no que eu chamaria aproximação, inclusão. Ficou íntimo, ficou texto, ficou plataforma, ficou encontro. O passado volta. Tempo da nuvem, – do virtual. Amorosidade. De velhos e novos amigos e amigas. É mágico. Estou perto, desnuda. A palavra poderosa personagem. Gosto da conversa, e deste constante diálogo, e vou a criar/criando coragem. Um dia eu conto a história de ser EU. Não que tenha mistério nem seja pior ou melhor do que qualquer história de pessoa/gente: somos todos tão iguais! Gosto de escrever. Escrever está na minha pele, a tatuagem que ainda não tive coragem de fazer, mas farei. Elizabeth M. B. Mattos – março 2018 – Torres num sábado iluminado.

Joaquina e eu pequenafoto de fotos de muitas épocas pouco nitida

máquina.jpgOS LÀPIS DA ELAINE.jpgmáquina de escrever.jpg