um dia viajamos

Meu amigo: quantos meses ou anos?! Que enorme e imenso tempo de não falar escrever nem saber um do outro. Não te esqueço: seguro e prendo. Nem sei mais o porquê de tanto silêncio e tanta lembrança. São anos de estudar e não aprender, de escutar sem entender. Como foi bom sermos jovens nos corredores daquela velha Notre Dame, a faculdade. Francisco Brennand não me espera e avança no tempo de ter 90 anos. Quero te contar. Eu avó – velha e menina. Quero publicar um livro do Amoras, escrever uma novela, ou ficar eternamente jovem, não consigo. Envelheço. Aqui faz frio. Ônix e eu nos acompanhamos nas caminhadas e no dia. Nunca pensei que seria assim: um cão e eu.  Pensei amores amados. Pensei romance, beijo e encantamento, mas não é assim viver. Exige. Exige atenção cuidado e solidão. Das mais carregadas e profundas solidões. Leio um livro depois do outro. Ou dois juntos aos tropeços. Anoto. Esqueço. E sigo escrevendo sem projeto, sem linha. Precisaria do amigo, da tua supervisão, do meu professor. Igual desanimo. E o Rio de Janeiro se perdeu. Não sei como seria a Viúva Lacerda, ou a Macedo Sobrinho, nem a Redentor, nem Ipanema, nem Copacabana, nem a Floresta da Tijuca, nem o francês. Engraçado como fica tudo para trás …, nem Limoges, nem Paris, nem a Bretanha. Eu poderia ficar para sempre por lá. Poderia? Recomeçar. Recomeçar. O dia tem que ter esta carga esta força esta coragem E não saio do lugar. Estes dias encontrei uma carta da Laila. O nome me encanta, mas me dei conta que fui apenas eu a procurar. E a Sonia morreu, e logo nem tu nem eu estaremos aqui porque ninguém fica, todos nós viajamos, um dia. Beth Mattos

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